Capítulo 02 - Cidade Fantasma

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O aquecimento da casa é realmente tenebroso, ou quem sabe essa cidade esquecida pelos deuses não seja favorável ao clima, fazia poucas horas que o dia havia amanhecido quando o calor abrasador invadiu as janelas furadas. Madeline estava parada olhando para o chão em transe, sem saber o que exatamente fazer a seguir, as suas memórias adquiridas eram escassa sendo abrigada por 70% sobre a cidade em que está atualmente e o restante era sobre a cidade vizinha, chamada Cerejeiras ao Vento, um lugar particularmente muito bonito por causa das imensas e densas árvores de cerejeiras que florescem por toda a cidade na primavera. Fora isso, a querida proprietária original não visitou muitos lugares, apesar de saber da existência de uma outra cidade também vizinha, mas que era bem mais longe, sendo não viável para a locomoção. Atualmente ela está no Condado das Cem Flores também conhecida como Cidade Fantasma, esse nome pegou a três anos atrás quando a cidade antes populosa finalmente deixou o seus últimos habitantes a tornando totalmente deserta, bem, assim é o que as pessoas de fora acham, entretanto existe por volta de doze famílias ainda se esgueirando pelas casas em ruínas, essas famílias são as que não tem para onde ir e escolheram ficar vivendo na extrema pobreza e abandono, mas ainda tendo um teto sobre a cabeça, uma escolha melhor do que viver nas ruas onde a chance de adoecer é muito mais alta.

O Condado das Cem Flores já foi uma cidade muito próspera, ela era um pouco diferente das demais, isto porque o Condado das Cem Flores era rodeada por um rio longo que descia das montanhas e percorria o seu caminho para as outras cidades, era uma cena muito bonita e essa diferença chamava muito a atenção dos estrangeiros, principalmente porque todos os anos muitas pessoas vinham para a cidade para assistir o espetáculo das múltiplas espécies de flores que desciam rio abaixo durante a manhã até o entardecer durante alguns dias e a cena da cidade sendo cercada por botões de flores era mágica, esse evento era o festival mais importante do lugar, mas que infelizmente se rompeu quando os rios secaram. Seis anos atrás uma seca sem precedentes aplacou a cidade, ninguém esperava por tal problema, especialmente depois de uma temporada de chuva tão favorável, todavia alguns meses depois, quando o sol não dava fim, a água do rio secava cada dia mais e as plantas murcharam no mesmo momento, os habitantes acharam que era apenas uma ocasião problemática mas normal, só que o tempo foi passando e depois de um ano e meio as pessoas perceberam que as coisas estavam muito erradas e diante da fome e desemprego foram abandonando a cidade e os vilarejos ao redor, as autoridades foram os primeiros a pular do barco e as pessoas comuns foram logo atrás. Conforme o tempo passou o rio já não apareceu mais, as plantações não cresceram mais e a cidade ficou deserta.

— Sério. – suspira. — Mas que porra de fim de mundo eu vim parar?

Outra coisa lamentável que a abateu foi que antes de sair do espaço ela se deu uma olhada no espelho que trouxe consigo e tragicamente descobriu que a aparência dessa garota era completamente diferente da sua, não vamos falar sobre a etnia que passou a ser fisicamente asiática, seu corpo original era orgulhosamente alto com seus 1.72, sua pele morena estava sempre macia, seu magnífico cabelo ondulado era seu xodó — um xodó muito difícil de se cuidar — seu corpo era realmente uma jóia entre as brasileiras e agora tudo isso se foi, ela já não era mais alta e se chegar aos 1.60 vai ser um milagre, suas mechas são lisas e pretas não mais castanho dourado e sua pele é tão clara como algodão, esse corpo está tão maltratado que todas as células estão ressecadas, enfim, ela está horrível.

— Porra, se eu aparecer na frente de alguém desse jeito eles vão se assustar até a morte ou senão me chutarão para a beira da estrada como cocô. – essa aparência lamentável a estava fazendo ter dor de dente, mas por hora, ela só pode suportar.

E depois de chorar amargamente por dentro, Madeline parou no meio da casa e ficou olhando para o chão. Se ela estiver certa sua única forma de sobreviver é indo para a cidade mais próxima e ver o que pode fazer para ganhar alguns trocados, atualmente sua alimentação não é problema porque tem um estoque cheio de comida no espaço, mas se pretende viver neste mundo precisa ter uma subsistência fixa.

Baseado no seu conhecimento adquirido até agora, as mulheres desse mundo não são tão restringidas como era no seu mundo na antiguidade, elas podem sair sozinhas sem precisar de um homem ou uma dama de companhia do lado, podem se casar um pouco mais tarde, não obrigatoriamente aos quinze anos como algumas décadas passadas, mas ainda não é muito bem visto ou comum uma mulher fazer negócio por conta própria, contudo, Madeline não está nem aí pra reputação, desde que não seja contra a lei ela está disposta a fazer qualquer coisa.

Após divagar por sabe-se lá quanto tempo uma ideia ousada brotou em sua mente, talvez construir um lugar só seu seja a sua maior segurança nesse novo mundo.

Ela saiu da casa agora vazia e decidiu andar pela cidade e pensar em como pôr em prática suas ideias de sobrevivência, a primeira coisa que ela viu foi casas e mais casas abandonadas, algumas tinham terrenos tão grandes quanto cinco quadra de tênis e outras eram pequenas como casas comuns de famílias mais pobres, em outras ruas também tinha uma extensão de imóveis de dois a três andares, provavelmente eram lojas, por causa do abandono boa parte dos imóveis da cidade estava caindo aos pedaços, principalmente porque muitas delas eram feitas de madeira e sem a devida manutenção ao longo dos anos foi perdendo a sua duração.

O Condado das Cem Flores era um lugar verdadeiramente grande, e realmente se tornava fantasma ao não ter uma alma viva andando por esse lugar. O sol ainda batia sem trégua no topo de sua cabeça, o pouco vento levava seus cabelos ressecados em sua direção e com ele, um rangido de portas ou janelas quebradas chegavam ao seus ouvidos, ao fundo um estranho choro sem fôlego a deu arrepios até a alma, seus pelos estavam todos eriçados como um gato sendo intimidado. Ela olhou ao redor e quanto mais olhava mais parecia que o choro estava vindo de todas as direções, uma pessoa perita como ela em filmes de terror jamais seguiria o som desse choro estranho, mas como a maldita curiosidade é maior, todo o seu conhecimento moderno de filmes foram jogados numa caixa no fundo da sua mente e ela seguiu a suposta direção de onde vinha o choro. Seu coração batia forte, mas o ímpeto pelo desconhecido era muito grande para suportar recuar, Madeline parou em frente a uma pequena loja que tinha o telhado cheio de buracos e a porta estava batendo levemente quando o vento passava, o choro antes baixo e indistinguível tornou-se muito mais alto e ela reconheceu de imediato o suposto som estranho, era o choro esganiçado de um bebê e foi quando abriu a porta que teve a certeza do que pensou, era realmente um bebê, ele estava enrolado em um pano velho supostamente azul e se contorcia tanto que o pano estava expondo seu corpinho magro e pequeno, conforme ela foi olhando o bebê no chão mais estranho parecia, seu corpinho estava meio esbranquiçado e também parecia meio pegajoso pois o pano de vez em quando grudava nele quando se remexia.

Seu cérebro se quebrou quando percebeu o estado do bebê, provavelmente ele tinha acabado de nascer, Madeline olhou ao redor rapidamente mas não encontrou a sombra de ninguém, talvez ele tenha sido abandonado durante a madrugada tornando impossível encontrar a pessoa que o deixou aqui.

Uma dor invadiu o seu coração, um ser tão pequeno foi deixado para morrer num lugar tão sujo e esquecido.

Ela pegou o bebê no colo e o abraçou em seu próprio corpo, a fim de deixar o pequeno absorver um pouco do seu calor. Talvez por estar muito cansado ele logo parou de chorar e adormeceu, seus pequenos pulmões já estavam cansados de tanto ser usados para gritar. Madeline deixou a sua inspeção de lado e retornou para casa, ela deixou o bebê confortavelmente em uma espécie de mini cama improvisado com roupas de cama e foi preparar a água para lavar a criança, com a água morna ela banhou o menino cuidadosamente e surpreendentemente ele não acordou durante todo o processo, logo ela o secou e o enrolou em um lençol branco macio.

Madeline olhou todo o rostinho do recém nascido e ficou cada vez mais interessada no neném, ele era magrinho provavelmente por causa da alimentação ruim da mãe, mas parecia bastante energético já que chorou até à goela não aguentar mais, o lábio rosado era bastante fofo e tão pequenino que parecia um botão de flor, seu cabelo era preto e bastante ralo, sua pele delicada era branca como algodão, assim como a sua.

Ela não poderia abandonar esse bebê. Mais do que isso, ela não queria deixar esse bebê.

— O que acha de sermos uma família menino chorão? Eu não tenho ninguém e você também não, que tal? – um sorriso involuntário apareceu em seu rosto juvenil, e um aperto forte vindo da mãozinha agarrou a sua, como se concordasse com a sua sugestão.

Tornando-se a jovem senhorita em outro mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora