Madeline não sabia se era a afobação pelo êxito ou o quê, mas ela tinha desconsiderado um assunto de extrema importância para os seus planos futuros. A questão da água.
Os habitantes foram embora justamente por causa da seca do rio, apesar das chuvas torrenciais durante os meses, o bendito rio nunca se enchia e como o único meio de abastecimento de água da cidade, era impossível continuar vivendo nesse lugar. O que volta ao princípio, sem água, como a cidade irá prosperar? Reconstruí-la não seria apenas dinheiro jogado fora?
Ela quase se deu um tapa por esquecer de um assunto tão importante como esse. Resolver esse problema era bem mais difícil do que qualquer coisa, a questão de um rio secar pode ser por vários motivos, então ela tem receio de que não possa superar esse obstáculo.
Três anos atrás foi quando o rio finalmente secou, desde então, nem uma gota passou por ele. De acordo com as memórias da proprietária original, de um dia para o outro a água começou a perder a força e passar com menos volume, apesar da estranheza gerada nos moradores, mais uma vez eles acharam que era apenas um acontecimento normal, mas infelizmente não era. E foi nesse meio tempo de um ano e meio quando a seca aplacou a cidade e as aldeias ao redor que o rio se tornou uma espécie de vala, onde passava pouca água, que boa parte da população se foi. Nos meses seguintes o rio diminuiu ainda mais por causa da pouca ocorrência de chuva e acabou secando de vez. De alguma forma esse acontecimento era um pouco fora do normal, o rio passou por uma mudança muito rápida, literalmente de um dia para o outro, então algo aconteceu para essa súbita mudança.
A água do rio desce das montanhas, provavelmente o cerne da questão vem de lá.
Decidida a resolver o caso o quanto antes, ela embalou o bebê e o deixou confortavelmente no espaço no colchão que usaram anteriormente, sem preocupações a mais, rumou para as montanhas.
Aliás essas montanhas estranhamente não foram prejudicadas pela seca, apenas as vegetações que ficavam perto do rio secaram. Somente para chegar no sopé da montanha levou cerca de trinta minutos, seu corpo ainda magro não estava tão cansado quanto no começo em que chegou aqui porque foi alimentado pela água espiritual durante esses dois últimos dias, mas ainda estava fatigado pois ela continua sendo um ser humano. Ao olhar para cima, Madeline viu uma montanha cheia de vegetação verde e exuberante, se ela não soubesse, diria até que as coisas estavam muito normais.
As montanhas sempre foram perigosas e para alguém que não estava acostumada a frequentar esse tipo de lugar era mais perigoso ainda, mas como ela tinha o espaço portátil não estava tão preocupada com sua segurança, se alguma coisa aparecer é só pular para dentro e pronto, está segura. Madeline entrou na montanha e conforme chegava mais adentro, podia encontrar alguns pequenos roedores e o som de muitos bater de asas dos pássaros, as plantas ainda estavam com gotas de orvalho, principalmente as que não receberam os raios de sol do dia, as árvores eram altas mas com certeza não tão altas quanto as do interior da floresta. Como ela seguiu a direção da vala onde pertencia o rio, os raios de sol sempre batiam no topo de sua cabeça já que as árvores em volta dela não eram tão grandes.
Vinte, quarenta, uma hora e meia já tinha se passado e parecia que o seu destino não tinha fim. Ela já estava muito cansada, mas não queria parar para descansar porque não queria dar margem para o perigo, suas pernas magras estavam doloridas mas ganhou uma velocidade espantosa quando percebeu que a sua frente tinha um jardim de ervas medicinais. Eram ervas que no mundo moderno não se podia encontrar com facilidade, ou por estarem quase extintas ou porque não conseguiam se adaptar ao ambiente poluído atual. Seu coração se encheu de fogos de artifícios quando encontrou tanta variedade em um só lugar, era uma cena tão rara e estranha que sua única justificativa para tal situação é que o solo deve ter algo muito especial para acomodar ervas de propriedades totalmente contrárias.
Madeline pegou uma pequena pá de jardinagem no espaço, se ajoelhou e começou a cavar todas as ervas que encontrou, para não prejudicar o ambiente ao redor ela deixou algumas para trás mas boa parte foi pega por ela.
Uma oportunidade dessas eu não posso deixar passar.
Ao acomodar tudo no espaço ela voltou alegremente a sua busca pela origem do problema do rio, somente uma hora depois Madeline finalmente começou a escutar um barulho de água desaguando. Seu rosto expressou um sorriso radiante, talvez nem tudo esteja perdido.
Ela correu para a direção do som da água ignorando todos os barulhos feitos por seus pés apressados, galhos mortos quando pisados fazem um som muito alto, e durante todo o trajeto ela se certificou de não chamar a atenção de nenhum animal selvagem, mas devido a alegria esqueceu-se completamente da precaução anterior. Sorte que não tinha nada ali no momento para atacá-la, caso contrário, ela estaria morta por causa da desatenção.
Quando chegou em frente a cachoeira que diga-se de passagem é enorme, seu rosto afundou, suas sobrancelhas se franziram e seu lábio rachado estava num bico enorme fazendo beicinho. Sua reação exagerada era simplesmente por causa do que estava vendo na sua frente, uma pedra.
Uma enorme pedra bloqueando a passagem da água.
— Só pode estar de sacanagem comigo. – ela ralhou. — Não me diga que nenhuma pessoa veio verificar o que estava acontecendo!? – ela estava tão brava e indignada que seus ombros tremiam.
Sua indignação era de todo muito compreensível, se alguém tivesse descoberto que era uma pedra que estava causando a falta de água durante todos esses anos muitas famílias não teriam morrido ou passado fome.
Se eu estiver certa, essa pedra caiu na época que ocorreu a forte tempestade, desde então a água foi ficando fraca até um ponto em que nem um pouco dela pôde passar mais pela enorme pedra.
Uma sensação de perda tomou o seu coração, ela ficou desanimada ao saber que mãe e filha poderiam não ter morrido se a água não gerasse um grande problema. Apesar da pobreza que as duas passaram por tantos anos, elas ainda podiam comer e beber o suficiente para sobreviver e continuar apoiando uma à outra.
Sentindo a melancolia penetrar cada vez mais no seu coração Madeline sacudiu a cabeça e deixou os pensamentos deprimentes de lado.
Seu olhar parou na imensidão da cachoeira na sua frente, a corrente de água descia de um lugar em que ela não conseguia saber a origem, a água era extremamente brilhante principalmente porque os raios solares batiam diretamente nela, o fundo era um pouco embaçado por causa das ondulações provocadas pela queda d'água, mas ainda assim era possível ver algumas pedras e peixes nadando por ali, além da passagem agora seca que levava para a cidade, também tinha outra que provavelmente ia para algum outro lugar longínquo.
— Eu não posso tirar essa pedra enorme por agora, se a água retornar, os preços dos imóveis da cidade subirão. – Madeline pensou nos seus passos seguintes e constatou que a melhor escolha era adquirir as prioridades primeiro e depois voltar aqui para tirar essa pedra, com o espaço facilitando tudo, ela pode apenas colocar no espaço e depois jogar fora.
Seu corpo ainda dolorido pediu socorro quando pensou que teria que subir essa montanha novamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tornando-se a jovem senhorita em outro mundo
RomanceAutora: Borboleta Peser Ano: 2023 Gênero: Romance, transmigração, histórico, sobrenatural Madeline era uma médica não convencional com habilidades extraordinárias no século XXI, até que, em um dia aparentemente comum, sua vida chega a um fim abrupt...