Meu Imortal - Desfeitos

O Fantasma Eterno

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Eu não estava em paz no paraíso ou perdida no submundo. Nem tampouco congelada pelas águas frias do mar de Atlântida. Eu ainda permanecia na linha tênue entre o limbo e a terra, assombrada pelas memórias dele.

Nao havia muito o que dizer, porque a última coisa que eu fiz fora morrer por ele novamente. Eu o derrubei, mas no final, sangrei por Alaric e deixei todos os meus pecados expostos.

Finalmente, meus olhos se fecharam mais uma vez para este mundo frio que só mostraram-me a dor, e minha alma atravessou o espelho. Eu assisti ele tocar em minha pele gélida e chorar sobre meu corpo falecido, enquanto minha alma ainda contava os pecados manchados nela.

Quando o dia chegou e a luz solar atravessou a janela fechada, ele continuava debruçado sobre meu corpo e meu sangue já havera machado toda a parte de trás da jeans escura que cobria as pernas dele. Eu observei a vermelhidão ao redor das íris azuis, o rosto fora coberto pela máscara da desesperança e o toque sobre a pele fria me fez cair na realidade.

Eu não conseguia sair de dentro do espelho, era como se o caminho para tocar em Alaric houvesse sido desfeito por forças ocultas. Tudo o que eu consegui fazer fora gritar dentro de um lugar escuro e tudo o que consolava era o som das batidas do coração dele que ecoavam por toda parte.

Meu corpo sem vida havera se tornado em um espantalho nos braços dele. Tudo que conhecemos era o vazio e a escuridão sendo alimentada por nosso medos. A noite fora preenchida pelo choro e grito de Alaric e mais uma vez o céu cinza permaneceria sobre a cabeça dele.

Espere por mim. Fora a última coisa que ele disse antes dos policiais adentrarem no recinto e o espírito de Bella desaparecer do espelho. Enquanto ela permanecia nas sombras de sua própria prisão, Alaric era levado pelo policiais coberto de sangue e o corpo falecido fora colocado dentro de uma bolsa de couro escura.

No escuro e no frio da abandonada mansão Keziah, Bella passava de um espelho para o outro e algumas vezes recebia visitas de jovens estudantes que escutaram os relatos dos moradores sobre sua morte. Ela os observava achando fútil a curiosidade dos adolescentes desejar olhar seu fantasma, as vezes ousava assusta-los para eles não voltarem novamente.

Já fazia mais de dois meses que Alaric deixou de visitá-la, ela sabia que era o único que não se assustava com a ideia de seu espírito habitar a mansão. Mas Bella ainda recordava do olhar triste dele para o seu reflexo no espelho e das palavras que ele disse:

- Eu tentei protegê-la, mas a única coisa que posso fazer é esconder a verdade de todos.

Os boatos que circulavam sobre a morte de Bella se arrastaram como uma doença por toda a cidade de Mercy Angels e logo o desejo de demolir a mansão viria à tona. Ela sabia que mesmo com desmoronamento da residência Keziah seu espírito continuaria naquele mesmo lugar.

Não fora apenas Alaric que afundou na desesperança, ela também sabia que não era mais digna da involução, nem tampouco retornaria ao Tártaro. Bella se tornou um espírito obsessor, estava condenada a vagar pelos espelhos daquele quarto até o momento em que pudesse ser libertada.

Apenas as lembranças dos dias em que Alaric iria visitá-la após o trabalho e sentava-se em frente ao espelho e observava o espírito dela deitado em algum lugar escuro através daquele vidro. Mas Bella tornou-se entorpecida pelas memórias e ao poucos estava perdendo sua essência.

Vá para casa, Alaric. Fora uma das palavras que ela havera dito quando estava cansada de vê-lo gastando a própria vida em um fantasma obsessor. Depois de alguns meses sem ele retornar a aquele quarto, Bella imaginou que finalmente havera sido esquecida na escuridão.

- Lugar em paz uma ova. - debochou Bella.

Se as pessoas pudessem ver sua realidade, nunca mais diriam que ela deveria estar em um lugar onde houvesse paz e fosse tranquilo. Era como se Bella estivesse sido congelada junto com o tempo que não passava e sendo assombrada pelo seu vício: Alaric.

Finalmente, ela podia compreender porque os vícios são considerados uma escravidão espontânea e as consequências dele. Bella lembrava de uma vez ter escutado a história de um homem que pregava as palavras da Bíblia no centro da cidade. Ele disse que quando o homem é viciado em álcool, após a morte o espírito anseia por bebida todo o tempo.

No entanto, Bella sabia que não estava ali apenas por ter sacrificado-se, havia algo a mais que não compreendia. Talvez, pelo seu retorno do Tartaro na primeira vez que faleceu ou por ter sido roubada do umbral no ritual que Emily fez por pedido de Alaric.

Eu não quero continuar morrendo aqui. Bella disse a si mesma enquanto encolhia-se no chão frio e escuro. Ela queria sentir a sensação do sangue correndo por suas veias e seu coração tiquetaquear mais rápido na presença de Alaric.

Bella sentia que estava se desfazendo aos poucos das coisas boas que ainda a conectavam com o mundo material e tinha medo de que a tristeza e a solidão a congelassem naquele lugar. Aquele pesadelo que presenciava parecia ter durado mais de mil anos e ainda assim queria acreditar que permanecia dormindo e quando acordasse poderia encontrar a salvação para sua alma.

Eu estou cansada de estar aqui. Sendo reprimida por todas as lembranças dele. Talvez, tenha sido melhor para Alaric mandá-lo ir embora. Mesmo ausente, a presença dele que permanece em meu encalço.

Ainda era cedo para aquelas feridas na alma de Bella serem curadas e mesmo que não estivesse viva, a dor era real. Ela só queria ser apagada pelo tempo como iria acontecer com as memórias, enquanto isso não se concretizava, apenas perguntava a si mesma como Blair desapareceu?

Bella não queria mais que seu corpo fosse despertado para viver novamente, sua alma estava cansada o suficiente para escutar o chamado e ser puxada daquela escuridão. Ela não sabia se ainda poderia ser salva daquele lugar ou do que havera se tornado, mas desejava desvanecer-se como pó.

Você é a prova viva de que há vida entre os mortos. Pensou Bella enquanto recordava de cada detalhe de Alaric. Porque era o sorriso doce, o brilho nas íris azuis, a forma culta de falar e a presença dele que ainda a mantinha conectada com a vida mesmo sendo apenas um fantasma.

Bella só tinha mais alguma palavras em mente para dizer a ele e depois partir para onde quer que sua alma estivesse destinada. Ela estava à espera do retorno de Alaric para dizer que não precisava retornar a vida, mas para fazê-lo acreditar que sempre seria o fantasma que viveria eternamente na memória dele.