Tríplice Destino

Capítulo 21 - Nada é definido pela sorte

 - No décimo quinto andar -

Vega e Lienette se preparavam enquanto o elevador subia até o andar correspondente. A jovem espadachim mal podia se conter em excitação, em seu rosto estava um sorriso de orelha a orelha e um olhar determinado.

— Você realmente gosta de lutas, não é? — Lienette perguntou.

— É claro. Por que eu não gostaria de algo em que sou boa? — Vega se alongava enquanto respondia.

— Eu gosto da sua confiança, mas não existe confiança sem fundamento.

Vega ficou em silêncio por alguns segundos, ela já havia escutado essa frase antes — Sim, mas eu treinei todos os fundamentos, dessa vez estou preparada.

— Okay, não teremos outra oportunidade. Faremos como no nosso treino.

— Hã?! — O semblante no rosto de Vega demonstrava sua confusão. — Você quer que eu te ataque enquanto lutamos contra outro inimigo?

— Não, sua boba — Lienette não se conteve e começou a rir. — A outra parte do treino.

Vega bateu com seu punho na palma aberta da outra mão, mas antes que ela pudesse externar que havia entendido as portas do elevador se abriram. O décimo quinto andar era uma galeria, ali ficava todos os itens penhorados para o cassino. Betelgeuse não aceitava só destino em forma de moeda, mas também equipamentos, armas e outros itens valiosos. A sala era um tom neutro de cinza, mas isso era apenas para evidenciar todas as cores e destacar os quadros, estátuas, jóias, espadas, armaduras em suas vitrines de exibição. Poucos eram os clientes que tinham acesso àquele andar, não era qualquer um que poderia ter um vislumbre da coleção pessoal do sorte dourada.

— Fico feliz em lhe encontrar novamente, garotinha — Vega reconhecia a voz masculina que vinha do meio do corredor daquele andar. — Vocês ainda têm a oportunidade de dar meia volta.

O cavaleiro veterano estava trajado com uma armadura negra completa da cabeça aos pés, poucos eram os espaços que eram vulneráveis naquele equipamento. O escudo também negro agora não exibia mais a figura da mão em chamas, mas sim um trevo dourado de três folhas como o naipe de paus. O mesmo símbolo era visto nas ombreiras da armadura. Se a voz não viesse de dentro da armadura, ela facilmente poderia ser confundida com os outros suportes de armaduras espalhados pelo local.

— Estou aqui para garantir o bem-estar e o futuro de MondTerran — Lienette sacou sua espada, a lâmina era tão fina como um florete, mas ainda assim era afiada por toda a extensão. — Só sairei deste local com a sua moeda, Jack.

O veterano apenas aplaudiu as palavras de Lienette e então prosseguiu: — Onde estava toda essa boa vontade antes? Quando muitos morriam nos becos escuros dessa cidade?

— Onde estava sua honra e dignidade quando se aliou a alguém que acha aceitável uma catástrofe? Não foi você o veterano condecorado por ter impedido a anterior? — Lienette segurou firme a empunhadura de sua espada.

— Dessa vez será diferente — Jack fez uma pequena pausa enquanto levantava seu escudo que parecia ter quase o seu tamanho. — Anos atrás, após aquela catástrofe, eu acreditava que a cidade evoluiria para um local ainda mais seguro e acolhedor, mas me enganei. Agora com Betelgeuse ele não permitirá que aconteça o mesmo.

— Você é um louco por concordar com os devaneios daquele homem. De um guerreiro respeitado e venerado, para um serviçal? É isso que você quer?

— Poupe-me de seus julgamentos, serei um serviçal, voltarei a ser um valete se necessário for.

Vega não tinha interesse de participar na troca de palavras entre os dois, muito pelo contrário, a jovem espadachim foi a primeira a correr em direção ao seu inimigo. Passando entre estátuas e vitrais com jóias, ela brande a sua espada em um arco vertical de cima para baixo, mas o golpe foi facilmente parado pelo escudo gigantesco de Jack.