Capítulo 23 - Aquela que canta livre

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Betelgeuse começou a tocar o piano, despreocupado com os três irmãos que pareciam estar derrotados. Vega entre os degraus, lutava para se manter consciente e de joelhos. Altair era o único que estava em pé, mas sua vontade de lutar se esvaiu. Deneb, segurando seu cajado como uma muleta, caiu no chão desamparado. O jovem mago ainda tentava articular maneiras de sair daquele impasse, mas nada parecia se manter em sua mente.

A música alegre que o cavaleiro tocava parecia caçoar dos três, naquela noite Betelgeuse venceu mais uma vez. Ele venceu quando começou seu plano e conseguiu amassar um exército de bestiais sem ser notado, venceu quando matou todos que se opunham a ele, venceu quando orquestrou o carnaval de monstros ganhando a opinião popular. Betelgeuse saiu vitorioso inúmeras vezes desde que ganhou sua moeda pelo viajante, mas a sorte, ou seu destino, estava para chegar.

Pela parede cristalina rachada e trincada ao lado do cavaleiro, exibia uma linda lua cheia e as estrelas no céu. Iluminado pela luz do luar, a armadura de Betelgeuse reluzia majestosamente a cada apertar de tecla. Porém de súbito, todas as luzes desapareceram ao mesmo tempo. Altair preocupado com a segurança de seu irmão, correu para o seu lado. Deneb sentiu as mãos dele apalpando seu rosto, ele se sentiu seguro nesse momento. Poucos segundos depois, o barulho alto do estilhaçar do vidro pôde ser escutado. Vários pedaços de vidro caíram no carpete vermelho próximo do piano e junto deles apareceu um holofote.

Neste holofote havia uma mulher usando um vestido branco extremamente bem trabalhado, a vestimenta era feita de seda e possui bordados prateados que realçam-se sob a luz forte. Ela também tinha um véu, mas este não era capaz de esconder suas características bestiais. As orelhas no alto de sua cabeça e um rabo ao final de suas costas, denunciavam a sua raça. A pelagem de cor acinzentada da mulher era tão bonita quanto a mais pura prata. O corpo da mulher era esbelto, sua cintura, costas, busto, a proporção era perfeita não importa de que ângulo olhasse. O vestido deixava as costas expostas, exibindo sua bela silhueta e sua pele amarronzada em contraste com o tecido. Ela segurava um buquê de rosas vermelhas vívido como se estivessem sido coletados a algumas horas atrás.

Betelgeuse estava assustado inicialmente, mas a luz do holofote fez ele reconhecer a nova pessoa do andar. O coração do cavaleiro palpitava forte, ele sentia seus dedos tremerem. Rapidamente se levantou do piano, passou a mão na partitura e o instrumento começou a tocar sozinho a mesma sonata que ele tocava a momentos atrás. Seu rosto exibia um sorriso brilhante de pura alegria, com os braços abertos ele se aproximou da bestial com alguns passos. De todas as pessoas presentes, as únicas a reconhecerem quem seria a mulher, foram Betelgeuse e Altair.

— Ral'Lyra? — O cavaleiro perguntou ao se aproximar. — É mesmo você?

Nesse momento, quando Betelgeuse falou suas primeiras palavras. Um holofote surgiu em cima dele. Todo o resto da sala estava escura como um teatro, apenas aqueles dois no patamar acima, depois dos degraus, estavam recebendo algum destaque. Os gêmeos olhavam para tudo aquilo como se estivessem assistindo a uma apresentação, uma peça. Altair sentia seu coração acelerar, ansioso pelo que estava presenciando e em dúvida depois de ouvir o cavaleiro chamar a mulher por outro nome.

"Algo está errado." pensou o jovem ladino.

A mulher não falou palavra alguma, apenas andou em direção ao cavaleiro. Passos vagarosos e elegantes, o vestido e a cauda dela balançavam com o andar. Tanto Altair, quanto Vega e Deneb, estavam hipnotizados com tudo aquilo. No entanto, o jovem ladino sentiu seu coração pular uma batida. A cada passo que a mulher se aproximava de Betelgeuse, ele se sentia mais preocupado. No momento em que o cavaleiro e a bestial estavam próximos o suficiente, as luzes novamente se apagaram.

— CAPELLA! NÃO! — Altair gritou irrompendo o silêncio do local.

Deneb e Vega arregalaram os olhos em direção ao irmão, mas não conseguiram enxergar nada. Altair se sentiu desconfortável, depois de tanto tempo sem dizer uma única palavra, sua voz saiu rouca e craquelada. A bestial não conseguia conter o seu corpo, uma expressão de puro prazer estava em seu rosto, suas pernas balançavam e roçavam entre si. O cavaleiro não foi capaz de enxergar muito bem o que estava acontecendo e nem mesmo o que havia dentro do buquê de rosas que estava em seu pescoço. O doce aroma das rosas foi rapidamente substituído pela sensação de ardor em sua garganta.

Tríplice DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora