Quer apostar?

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Segunda feira, início da semana, sem dúvidas é o pior dia da semana. As minhas primeiras aulas são de matemática - e não eu não odeio matemática como muita gente pensa, ou o que o estereótipo de que toda garota tatuada que usa moto deveria ser burra - o ponto é, meu professor é um mala e me odeia. Segundo problema é o início da semana. Quero dizer, vamos lá, quem é que tem ânimo para acordar cedo logo depois de um domingo?

- Lisa, desça logo ou irá se atrasar! - consigo ouvir minha madrasta no andar de baixo e alguns movimentos de panela, o que me faz bufar e revirar os olhos.

Eu definitivamente não estava nem um pouco animada para a aula. Mas, quando eu estava?

Era verdade, mas eu não podia acumular mais nenhuma falta ou meu pai receberia uma ligação não muito feliz do diretor.

- Você vai descer ou terei que ir até aí? - ela grita mais uma vez e eu desisto de tentar me esconder de baixo das cobertas.

Tenho a plena certeza que as suas palavras eram totalmente verdadeiras e devido a isso, me descubro rapidamente, jogando meu cobertor o mais longe possível. Respiro uma, duas, três vezes e finalmente tomo coragem de me levantar.

De frente ao meu armário consigo sentir as consequências de ficar até tarde ontem a noite jogando e minha cabeça começa a latejar enquanto pego meu uniforme e minha calça jeans. Depois de tomar uma ducha gelada para ver se conseguia aliviar minha dor - e não consegui - fico me encarando na frente do espelho até escutar outro grito da minha madrasta e me dou por vencida, saindo o mais rápido que posso do quarto.

Quando atravesso o hall da cozinha, sinto o cheiro de panquecas americanas e o sorriso acolhedor de Savannah, minha madrasta.

- Bom dia querida! - caminho até ela e deposito um beijo em sua bochecha, fazendo a mulher mais velha sorrir abertamente.

Savannah veio morar comigo e papai quando ainda morávamos na Flórida. Minha descendência é Tailandesa mas eu nasci nos Estados Unidos, que foi quando minha mãe abandonou papai e eu, ainda um bebê. Fora difícil para papai reconciliar o trabalho, as despesas da casa e ainda ser um pai presente, mas acredito que ele fez um bom trabalho, pelo menos por um tempo. Quando Savannah apareceu em nossas vidas, as coisas mudaram totalmente, mas não por um modo ruim. Meu pai se casou com ela e recebeu uma proposta de emprego aqui na Coréia, e bom, ele não hesitou em aceitar. De início fora complicado para aprender o idioma, mas Savannah e eu treinávamos juntas, o que me fez aproximar mais dela e me afastar de papai, já que quase não parava em casa por culpa do trabalho.

- Parecem estar boas. - eu disse me sentando na cadeira - Acho que papai já foi para o escritório, certo?

- Sim, mas ele deixou um beijo para você e pediu mil desculpas por esquecer que vocês tinham programado o dia juntos ontem.

Sorri sem humor e a olhei. Quando nos mudamos para a Coréia essas desculpas esfarrapadas começaram a ficar recorrentes e, tenho certeza de que, ele nem ao menos se importava com essa merda toda. Suspirei e acenei com a cabeça vendo seu sorriso morrer.

- Você sabe que não é culpa dele, certo? - ela perguntou cuidadosamente. - Tenho certeza que seu maior desejo era vê-la.

- Eu não tenho tanta certeza assim, no entanto. - dei de ombros e estiquei a mão para despejar um pouco de suco no meu copo. Eu não a olhei, mas tenho certeza que ela me observava de maneira cautelosa.

Savannah sempre foi assim. Papai fazia merda e ela sempre limpava, de quebra, ainda tinha que consolar uma adolescente que sentia falta do pai. Desde que meu pai decidiu aceitar esse emprego, raramente parava em casa, e Savannah sempre arrumava um horário para ficar um pouco mais perto de mim, tentando compensar a falta que papai fazia. Era patético, eu sei.

Caos, Farpas e Afins (Jenlisa Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora