Não consegui dormir ontem a noite e tenho certeza que minhas olheiras eram perceptíveis para qualquer um. Savannah ficou preocupada quando me viu chegar da casa de Jennie chorando, sem expressão. Papai não teve reação alguma porque, como sempre, ele não estava em casa. Fiquei um tempo no colo de minha madrasta chorando e ela em silêncio, me permitindo desabar. Ela não perguntou o quê aconteceu e eu tão pouco tive vontade de dizer.
Senti que deveria mandar mensagem para Rosé, me desculpando, mas eu não tive forças para isso também. Passei a noite e a madrugada toda rolando na cama, encarando o nada e sentindo o vazio me tomar por completo. Tive que me segurar muito para não tomar alguns remédios porquê não queria ficar acordada. Ficar acordada era sinônimo de pensar e isso era tudo que eu não precisava no momento. Mas para minha infelicidade, fui covarde demais para me levantar da cama e alcançar os remédios. Eu não queria ir para escola naquela terça, não me sentia preparada para encarar Jennie ou então Kai. Mas ter que pedir para faltar significava dar explicações do porquê disso. E matar aula estava fora de cogitação, porquê tinha certeza que meu pai receberia uma ligação do diretor dizendo que eu não havia ido naquele dia, o quê também acarretaria mais perguntas.
Então, naquela terça-feira, eu me obriguei a ser forte. Ou pelo menos fingir ser. Pensei que seria mais fácil, mas quando pisei na sala de aula e dei de cara com Jennie, minha confiança foi enterrada. Respirei fundo fazendo meu caminho em direção à minha mesa, não me importando se senhorita Park reclamaria ao ver que eu me encontrava distante da minha parceira de trabalho. Observei os alunos entrando pela sala de aula com sorrisos no rosto. Suspirei em irritação. Eu só queria que aquilo acabasse logo para que eu pudesse ir para casa fingir que esse dia nunca havia acontecido.
- Como vocês sabem eu dei um projeto para cada um de vocês realizarem até o final do mês, e agora chegou a hora de entregá-lo. - ela sorriu indo para frente da turma. Já estávamos no final do mês? - Vamos começar as apresentações?
A turma emitiu sons de protestos enquanto senhorita Park continuava sorridente, quase como se estivesse se deliciando com aquilo. Respirei fundo apertando a mão na mesa, pedindo para que Jennie e eu não fôssemos as primeiras. Por favor, por favor.
- Jennie, Lalisa, vocês podem nos dar a honra se serem as primeiras? - ela perguntou. Não!
- É claro! - a voz de Jennie soou atrás de mim. Instantaneamente fechei os olhos.
- Mas dessa vez farei diferente. - senhorita Park foi para sua mesa. - Quero que uma venha e apresente enquanto a outra a observa. Vice-versa. Tudo bem para vocês duas?
Não, não estava.
- Tudo bem. - Jennie respondeu no meu lugar.
Senhorita Park olhou para meu rosto em busca de alguma reação e tudo o quê fiz foi balançar a cabeça em afirmação.
- Ótimo! - ela bateu palminhas. - Vamos começar com você, Jennie.
Engoli em seco observando Jennie caminhar para frente da sala com uma folha de caderno em suas mãos. Ela não me olhou. Em momento nenhum ela me olhou. Torci o rosto sentindo o nó se formar em minha garganta.
- Lalisa se sente em liberdade quando... - ela limpou a garganta lendo o quê estava escrito. Eu me sentia em liberdade quando estava com você, Jennie. - Quando ela sabe que pode ser ela mesma sem esperar por julgamentos da parte das outras pessoas. Ela se sente em liberdade quando está com suas melhores amigas e, por incrível que pareça, com crianças. Lalisa se sente em liberdade ao ler livros. - só fui me dar conta que estava mordendo meu lábio quando senti o gosto metálico de sangue. Não me importei. - Mas acima de tudo, Lalisa se sente em liberdade quando ela está fazendo as pessoas sorrirem.
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Caos, Farpas e Afins (Jenlisa Version)
FanfictionLalisa Manoban e Jennie Kim se odiavam. Simples e claro. Jennie odiava o fato de Lalisa desfilar pelos corredores da escola com suas tatuagens à mostra, sorrindo maliciosamente como se fosse dona do mundo. Enquanto Lalisa odiava o fato de Jennie se...