Passamos uma semana sem nos ver, eu não sabia o que passava na cabeça de Jeann, mas enquanto isso me ocupava com cerveja, cigarro, Bukowski e o teclado. Estava escrevendo um novo romance, na verdade o primeiro. Só conseguia ficar nos contos e crônicas, nada além do que já tinha me enjoado, apostei nas poesias, ficavam depravadas, mas não ao ponto que eu pudesse gostar. Escrever era meu maior mal e o melhor de mim. Era paixão e ódio brigando aqui dentro, e quando a guerra passava dos limites, transbordava nos meus dedos,e pronto, a merda tava feita e ainda publicavam, eu era um cara de sorte.
Mas o que eu queria era mulheres, mas só sabia repelir buceta. Que pesadelo era aquele.
Jeann reapareceu, talvez tivesse ficado sem opções na sua agenda de advogada. Uma advogada sem clientes não seria uma advogada. Aceitei logo de primeira em sair com ela.
- Vamos para onde? – ela perguntou.
- O que você quer fazer?
- Você que decide.
- Tudo bem.
Marcamos em um bar perto do trabalho dela, lá pelas quebradas da paulista. Ele se chamava O-Malley's. Eu tinha cheguei mais cedo e estava tomando uma cerveja no balcão. O bar era escuro, tinha aspecto antigo, parecia apertado, mas se estendia pelo quarteirão inteiro, tinha classe. Era preciso ter muita grana pra entrar ali, ou melhor, pra sair. Eu nunca fui o senhor do dinheiro e estava a procura desse segredo, se não ia ter que continuar lavando os pratos quando as portas fechassem.
Já estava na quarta garrafa, eu era bom de bico, as vistas começaram a embaçar, o jogo de luzes ameno aprecia mais escuro e eu não conseguia enxergar o rosto das pessoas mais, dali a pouco estaria perdido a cegas.
Passava um jogo qualquer de futebol na televisão, parecia campeonato europeu, e eu reconheci pela torcida comportada que assistia ao jogo de pé e aplaudia a cada lance. As paredes eram cobertas de tijolos cor de musgo que pareciam reais, ou eram reais, eu não sei, pois não toquei neles.
Havia grupos de homens vestindo camisas de times internacionais e outros trajando social, e por mais que fosse um bar de elite, sempre frequentavam os mesmos grupos de trogloditas idiotas, não tinha como muda o rumo da humanidade, Deus, não seria melhor apertar o botão de GAME OVER? Ou nos de outro RESTART.
Peguei a sexta garrafa, costumava contar quantas bebia enquanto não conversava com ninguém, e dificilmente frequentava bares com amigos, eu não tinha muitos amigos, além de Cezar e Hank. Era um cara sozinho, comia quieto, agia na surdina, era como se ninguém soubesse da minha existência, mas por causa do meu livro as coisas estavam começando a mudar. Perderia a fama de fantasma para ser notado, pelo menos por uma meia dúzia de mulheres solteiras e carentes, era o que eu esperava anelantemente.
Terminei com a minha cerveja e vi que uma linda mulher se aproximava, usava vestido branco, meio prata, seu cabelo cobria parte do seu rosto e a outra que era visível estava bem maquiada. Ela sentou ao meu lado.
- Manda duas, aquelas mesmo, eu pago. – disse ao balconista.
Ela me olhou com cara de desconfiada, sabia que eu era um escritor amador e que não tinha dinheiro algum.
- Chegou rápido, pensei que mulheres se atrasassem.
- Faz parte do pacote, vai querer?
- Eu não costumo tomar decisões precipitadas.
- Então é um cara durão, não é mesmo?
- Um homem não pode mais ter suas próprias decisões sem ao menos ser influenciado por uma mulher?