Me sentia sendo sugado para o inferno. Como se houvesse o peso do mundo nas minhas costas, e logo eu que não aguentava nem os meus 60 quilos. Olhei para as fotos de todas as mulheres e garotas que haviam passado na minha vida e nada senti, nem um ponto de tesão se quer, e isso era realmente grave.
Peguei meu blazer azul escuro surrado e o Dunhil, cai na noite. O ar estava sobrecarregado naquele domingo cinzento e eu contribuía com isso, estava no meu quinto cigarro. Olhei para o céu esperando que um avião caísse e acabasse com tudo, ou pelo menos com o que eu penso sobre tudo, com minha vida, e que Jeann estivesse nele.
- Ele não vai cair. - disse a mulher atrás de mim.
- Perdão, sobre o que está falando?
- Você sabe, aviões acabando com essa existência podre e vergonhosa.
- É uma pena, alguém terá que exterminar tudo isso.
- Não se preocupe, as igrejas estão se concentrando nisso.
- Espero estar por aqui para ver.
- Espero você na minha casa, se não tiver compromisso.
- Estava precisando conversar, mesmo.
Fui para casa da mulher misteriosa. Ela se chamava Alyce, era loira e tinha o cabelo curto e repicado, como a atriz do Resident Evil, aquilo me excitou pra caralho. Chegamos ao seu "dois cômodos" – como ela chamava, era até ajeitadinho, e ela foi buscar um drink na geladeira.
- Mojito, acho que você gosta. - disse Alyce.
- Acertou em cheio de novo, como você faz isso?
- É muito fácil, as pessoas expressam muito sobre elas em suas feições, linguagens e gestos corporais.
- Hummm.
- E também em seus livros quando são sobre elas mesmas.
- Ah, eu sabia...
- Tome, beba. - me deu o copo cheio - você escreve bem Victor, mas tem muito que melhorar ainda.
- Você é quem? Uma agente literária gostosona que seduz os escritores amadores e os leva para sua casa?
- Esqueceu da parte em que eu embebedo-os e roubo todos os talentos.
- Me parece uma ótima ideia.
- E é por isso que estou nesse negócio.
Meti um beijo forte na Alyce, ela me instigava como uma buceta de ouro e fechada, tinha um gosto amargo, de tabaco, que quase não diferenciava do meu hálito.
- Você não perguntou meu nome? - disse a ela.
- Eu tenho seu nome na minha estante de livros.
Me apontou a estante.
- Ah, o livro, é verdade.
- Deixa eu te mostrar umas coisas que eu sei, mas nunca escrevi.
Alyce usava um vestido roxo escuro, curto e justo ao corpo, tinha batom da mesma cor nos lábios e faíscas nos olhos. Levantou o tecido até o cóccix e empinou o rabo como nenhuma mulher tinha feito antes.
- Não é em toda esquina que você vê uma vadia que empina assim, não é mesmo? - ela me disse olhando por detrás dos ombros.
- Jesus Cristo...
- Não se apresse, a vida irá te matar muito mais rápido do que o seu orgasmo na minha xoxota.
- Não estou nenhum pouco a fim de esperar!
Enterrei fundo, a bunda de Alyce era grande e não muito dura, chacoalhava quando nossas coxas batiam, e eu não tirava os olhos delas.
Terminamos e eu cai no chão exausto, todas as vezes pareciam a primeira para mim. Alyce se aproximou engatinhando e deitou na minha perna.
- Você é igualzinho ao seu pai... – disse ela.
- Conhece meu pai? – perguntei aflito.
- Qual mulher com mais de trinta anos de São Paulo que não conhece ele?
- Aquele otário, como pode não ter tomado jeito, nem mesmo depois de velho?
- Cada um faz suas escolhas, se baseando no que lhe faz bem.
- Mas minha velha, ele a deixou.
- Victor, entenda, ele não era obrigado a nada, todos nós somos livres.
- Talvez você esteja certa, mas agora acho que vou vomitar.
Tentei levantar e correr para o banheiro, mas vomitei por toda a sala, eram dois cômodos vomitados agora.
- Desculpa, eu limpo tudo depois, linda.
- Tá na hora de ir.
Voltei as ruas, andando sem destino algum, senti o celular vibrando no meu bolso, olhei pro visor "ligação de Jeann". Bom, tenho que voltar a vida real.