Minhas brigas com Jeann não iriam terminar, eu sabia disso, a gente não dava certo juntos. Aceitei de ideia de que deveria procurar outra mulher, ou melhor, deixar que elas chegassem.
Fui chamado para uma apresentação na Universidade Federal de Cerquilho, no interior de São Paulo. Jeann não ia poder ir.
- Vá, eu tenho que trabalhar nesse final de semana. – ela disse.
- Tudo bem, volto na segunda.
- Boa apresentação, vê se não pega nenhuma doença.
- Você é ridícula.
- Somos iguais então, seu filho da puta.
Bati a porta e fui embora, o ônibus ia sair em pouco tempo. Cheguei na fila e fiquei esperando, era hora do almoço e eu estava morrendo de fome.
- Me vê um hambúrguer e uma cerveja.
- São trinta reais, senhor.
- Caralho, eu só queria comer.
Paguei sem vontade alguma e entrei no meu ônibus. Meu banco era o último. Me sentei e abri a cerveja, tomei e tinha uma negrona do meu lado, ela não parava de me olhar.
- Posso ajudar, moça?
- Você que é o escritor do Pecados Perdoados?
- Podemos dizer que sim.
- Eu li seu livro, é bem curto, acho que poderia escrever um maior.
- Você quer uma cerveja?
- Quero sim, seu bêbado.
Bebemos e nos beijamos, ela tinha lábios carnudos e era uma boa companhia. Tinha olhos verdes e pele bem morena. Ela chegou mais próximo e pegou no meu pau.
- Hum, ele está duro.
- É, e muito solitário.
= Coitadinho, vamos dar um jeito nisso.
O ônibus estava escuro e todos dormiam, quando ela baixou a cabeça.
- Hum, sua danadinha.
Ela ficou ali dando uns beijos nele até que chegamos. Saímos do ônibus.
- Estou indo fazer uma apresentação, você quer ir?
- Gostaria muito, mas meu marido está me esperando.
- Ah, sim, claro.
- Até mais!
- Até.
Era difícil entender o que se passava na vida dessas mulheres casadas, procurando prazeres fora de casa, parecem até homem. Preferi esquecer e me concentrar nas poesias que iria ler.
Cheguei na universidade e me apresentei. O público fora da capital de São Paulo tinha outra visão sobre mim, era como ser o escritor tradicional que todas as editoras tem, e isso era porque eu não tinha convívio naquela cidade, se não seria tudo diferente, mas estava bom daquela maneira, na paz.
Fui para o hotel e me estiquei na cama, era quase meia noite e assim que iria terminar o meu sábado, na cama e sozinho. Fechei os olhos e tentei dormir, era uma piada, eu não dormia tão cedo assim. Me sentei na beirada e passei a mão na cabeça, fora uma noite cansativa mas ela estava só começando. Fui até o pequeno frigobar e abri, torcia para ter alguma coisa, eu tinha reservado por telefone horas antes. Dei sorte, tinha algumas garrafas. Peguei e abri, fui até a janela e bebi olhando lá pra fora.
Cerquilho tinha bundas grandes e cabelos loiros, era a terra do pecado, eu sempre quis vir pra esse lugar e agora que estava lá não via toda aquela magia. Voltei pra cama e me sentei, matei minha garrafa. Peguei outra e me sentei sobre a mesinha perto da cama, o tédio estava quase me sugando para o inferno.
Bateram na porta, fui abrir, e para a minha surpresa era Dione, ela estava ótima. Dione era uma velha amiga, tinha namorado o meu irmão quando éramos menores, agora ela estava na casa dos vinte e seis se não me engano. Com o cabelo curto, aparelho nos dentes, fios negros e um sorriso bem iluminado, Dione sempre fora muito alegre e isso que fascinava todos os caras que passavam por sua vida.
- Dione, que surpresa, entra, tem algumas cervejas no frigobar.
- Victor, quanto tempo, virou famoso, parabéns.
- Não fala besteira, sou lido por meia dúzia de pessoas, nada demais.
- Eu estava na sua apresentação, e não tinha meia dúzia de pessoas lá, não precisa dessa modéstia toda, sabemos que você lotou aquela universidade.
- Eu não contei quantas pessoas tinham – sorri – mas me falaram que era público record.
- Viu só, você está muito bem, temos que comemorar.
- Tudo bem, linda.
Dione pegou sua garrafa e brindamos, ela sempre sabia o que fazer e eu não sentia remorso algum por ter me ignorado há anos atrás e ter fudido com meu irmão, afinal, eles se davam muito bem então tinham o direito de fuder mesmo.
- Como tá o seu irmão?
- Ele casou, tá com duas pequenas, gêmeas, são uma graça.
- Que bacana, ele deu certo na vida, pensei que naquela época fossemos ficar juntos.
- Pra minha sorte deu tudo errado. – sorri.
Dione correspondeu minha indireta com uma jogada de cabelo, se virou e foi até a janela, eu a segui e segurei na sua cintura.
- Você continua linda Dione.
- Você cresceu Victor, aí em baixo também. – sorriu.
Virei o corpo de Dione e a beijei, ela tinha lábios macios e um cheiro muito agradável, era como beijar flores de algodão. Colamos o corpo e eu estava vivendo um sonho de criança, desde o começo da minha punheta, era por Dione que eu me esforçava no cinco contra um. Teve vezes em que fiquei brigado com meu irmão por causa do amor platônico que eu sentia, velhos tempos.
- Deita, vou recompensar todo esse tempo perdido. – disse Dione.
Cai na cama e ela se jogou em cima de mim. Lá se foi meu tédio, suor a baixo. Acordei com o sol no meu rosto, a janela tinha amanhecido aberta. Dione não estava no quarto, mas tinha um bilhete na mesinha.
"OBRIGADO PELA NOITE MARAVILHOSA, MANDA UM BEIJO PARA O SEU IRMÃO. DESCULPA POR SAIR TÃO CEDO, TAMBÉM TENHO AS MINHAS CRIAS, VIDA DE GENTE ADULTA É ASSIM. TE VISITAREI LOGO EM SÃO PAULO, PODE ESPERAR, COM AMOR, DIONE."
Me vesti e fui até a rodoviária, a viagem ia acabar mais cedo. Peguei o ônibus que estava livre e voltei embora, desta vez não tinha nenhuma mulata para me fazer um agrado no último banco. Cheguei em casa e desliguei meu celular, queria ficar fora do mundo por um momento, se fosse possível. Me deitei e tentei dormir, tem vezes que conseguimos.