rumor | satzu

CAPÍTULO DOIS: Dia

MINATOZAKI SANA

Senti um peso sendo jogado contra o meu próprio corpo e levei um susto enorme, o que fez o meu coração saltar para fora do peito.

Era apenas a pequena Somi me acordando novamente para um dia maçante e puxado, odiava acordar já com os ombros pesados.

A garotinha estava por cima de mim, ela tirava os meus cabelos de meu rosto para olhar em meus olhos, me fazendo soltar um leve sorriso, eram por esses pequenos momentos que eu não desistia.

—Bom dia, tia Sana! —Disse e me deu um beijinho na bochecha. —Está sol hoje, podemos ir ao parque depois da escola? Por favor?

Mesmo sabendo a resposta forcei minha face pensativa para saber a reação da garota, que me olhava com os pequenos olhinhos brilhando, as mãos juntinhas e um biquinho completamente fofo no rosto.

—Claro que sim, não é princesa? Como negaria? —Eu digo e a vejo pular na cama, feliz.

Puxei as pernas da garota e as coloquei sobre meu ombro, fazendo-a ficar de ponta cabeça. A vi espernear e fui andando com ela assim até chegar em seu quarto, a despejando na cama.

—Vá se trocar antes que a sua avó termine o café da manhã. —Dou uma risada ao ver a garota emburrada comigo. —Você sabe como ela fica quando você não desce já trocada.

—Hyo não fica brava comigo, quem fica brava é você tia. —Ela disse e se levantou indo para o armário pegar suas roupas.

—Enfim, te dou quinze minutos. —Murmurei e voltei ao meu quarto.

Odiava aquele uniforme com todas as minhas forças. Queria tanto poder usar algo mais confortável, mas como sempre precisava usar uma espécie de alfaiataria para o ensino médio.

No verão, usamos saias e meias até o joelho e os garotos bermudas, chega a ser um pouco mais agradável do que calça social.

E como as garotas ficavam gostosas dessa forma, ah eu tinha que me controlar. Garotas que ficavam bem de terninho eram a minha perdição.

Peguei os trajes e segui em direção ao banheiro, não tomei banho, apenas lavei o rosto, escovei os dentes e vesti aquela espécie de sarja. Penteei meus cabelos e prendi em um coque, até a hora de ir estariam enrolados com um aspecto natural.

Me desço até a cozinha, ao escutar os sons dos meus sapatos descendo aqueles degraus de madeira, o vazio de não ouvir outro par de pés ao meu lado me contando coisas banais sobre sua vida de recém noivado me entristece, meu semblante já se torna mais caído do que estava, sinto o cheiro do café recém passado preencher minhas narinas, adentro a cozinha e vejo Somi comendo seus biscoitos recheados junto de seu leite matinal, chegava a ser agradável.

—Dormiu bem, meu amor? —Minha mãe perguntou após me dar um beijo na bochecha e eu assenti, pegando uma maçã verde na fruteira e a mordendo sem pudor.

—Na medida do possível. —Digo e ela suspira em negação.

Vontade nenhuma de sair de casa e ir para aquela escola cheia de gente rica e nojenta, não queria que aquilo fosse uma realidade minha.

—Sana, se lembra ontem quando te disse para mostrar a melhor versão de si?

—Sim, mamãe. — Afasto fios de cabelo do meu rosto para olhar em seus olhos.

—Antes de ver o melhor em você, experimente ver o melhor nos outros. Já fui aluna daquele colégio, sei como os adolescentes são cruéis, mas todos tem algo positivo no interior, inclusive você. —Ela apontou pro meu coração. —Só aí sentirá o que tem de especial.

Ainda pensava sobre isso a muito tempo, minha mãe sempre deixava enigmas ou charadas para mim, mas uma nunca me fez pensar tanto igual a essa, estava sendo interessante.

—Vocês vão chegar atrasadas.—Disse pegando as chaves do carro. —Vamos.

Eu e Somi estudávamos na mesma rede de colégio, porém em prédios diferentes pela idade. Então era sempre eu quem buscava a garotinha no portão e a levava para casa.

O parque no qual Somi havia mencionado é que iríamos depois da aula (desnecessária) de hoje, ficava a uma quadra de nossa humilde casa.

Peguei a minha mochila e a da pequena e coloquei no porta malas do carro, afivelei o cinto de segurança na garotinha e me sentei no banco da frente, esperando Mamãe dar partida no carro branco que possuía.

—Já está em semana de provas, Sana? —Questionou tentando puxar assunto ao parar em um farol vermelho.

—Semana que vem apenas, mas prendendo começar a estudar. —Me ajeito no banco. —Somente assim para ocupar minha cabeça.

Eu era muito preocupada com minhas notas, esperava estudar bastante para algum dia poder oferecer o melhor para Jihyo e Somi, a quem sou grata minha vida. Literalmente, sem elas eu já estaria morta a muito tempo.

—Assim é melhor mesmo, você fica mais tranquila. —Sorriu. —E quanto as meninas? Você poderia marcar uma festa do pijama! Estou com saudades de ajudar vocês a preparar quitutes!

—Isso foi a tanto tempo atrás, mamãe.

Sorri com a sua ingenuidade, Hyo era mais velha e provavelmente não sabia que garotas de dezessete anos hoje em dia não fazem festas do pijama, não da maneira como ela pensava... Eu era exceção entre meninas da minha idade. Virgem, nunca havia bebido nem mesmo namorado, tudo isso estava fora de cogitação para uma garota de dezessete anos com uma reputação mínima a zelar.

—E outra coisa, as garotas hoje em dia vão em festas e baladas, mãe. —Sorri simplista. —A festa do pijama vem de bônus, e as vezes não é nem com quem você planeja. —Digo isso em um tom malicioso e ela abre sua boca em espanto e eu solto uma gargalhada gostosa.

—Sana unnie, por que não ri assim mais vezes? —Somi diz do banco de trás. —Você deveria sorrir mais.

Ao escutar a fala da pequena senti meu coração se despedaçar, será que nem esses pequenos momentos eu estava aproveitando?

—Siga o conselho de Somi, Sana. —Jihyo disse.

—Eu irei, pequena. —Suspirei. —Pode deixar.

Já estava próximo a entrada da escola, Jihyo estacionou o carro e eu soltei meu cabelo vendo minhas madeixas agora enroladas caírem pelos meus ombros.

Desci do carro e Somi já estava de mochila do lado de fora.

—Boa aula, meninas. —Jihyo me entregou minha mochila pesada pelos materiais do dia. —Sorriam bastante! Se divirtam! —Fez uma pausa. — E estudem também, óbvio!

Estava com bons pressentimentos sobre o dia de hoje. (Ou era somente os resquícios dos momentos felizes passados em mais uma manhã com as mulheres mais importantes da minha vida).

-x-

Eu não estava esperando que tanta gente fosse ler assim logo que eu postasse, fiquei até emocionada, vou falar pra vocês...

Por isso postei mais esse capítulo que é mais uma continuação do outro, vejam eles como uma introdução, tá (Vai começar de verdade no próximo!)

Agora de verdade, até o próximo capítulo! <3