4. É como ter mulheres e milhões e ser sozinho

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Rafaella terminou a leitura da carta num misto de surpresa e receio. Ao levantar os olhos se deparou com um Renato petrificado e uma Alice com água nos olhos.

– Estás louco! Isso é... Não vou me casar com quem sequer conheço! – Renato passou pela porta como um furacão enfurecido, esbravejando, e pegando sua bengala, saiu pelas ruas escuras de Londres rumando para o único lugar em que encontrava paz, nos braços de Juliette. Havia sido informado de que a companhia de teatro estava na cidade, e a mulher o aguardava para relembrar bons momentos. E era disso que precisava nesse momento.

– Renato vai se casar... – Alice sussurrou deixando que as lágrimas finalmente rolassem.

– Sinto muito, Alice. – Rafaella abraçou a amiga. Sabia de seus sentimentos por seu irmão, e fazia votos de que se unissem.

Música on - Tell Me It's Over (Avril Lavigne)

Renato adentrou pelo prédio de arquitetura barroca e esperou por Juliette em seu camarim. A mulher não demorou a chegar e sorrir para ele.

– Oras, mas que grata surpresa. – Juliette deixava as palavras rolarem por seus lábios de forma manhosa enquanto caminhava de encontro ao perturbado homem que a mirava desamparado.

– Estou noivo. – Renato disparou um tiro certeiro no coração de Juliette que parou onde estava.

– O que está dizendo Renato? - A mulher o mirava com um sorriso zombeteiro lhe adornando os lábios pintados de carmim. - Está um tanto cedo para suas brincadeiras de mal gosto, não acha?

– Papai arranjou um casamento para mim no Brasil, Juliette! Estou de viagem marcada para daqui três meses. – Renato se jogou no sofá antigo derrotado. Proferir aquelas palavras, parecia ter tornado tudo muito real para si.

– Não... Renato... Não – Juliette sentia o aperto de seu peito lhe subir pela garganta, deixando o gosto amargo da perda. – Vosso pai não pode lhe obrigar meu amor. – A atriz se ajoelhou frente a Renato pegando seu rosto entre as mãos, o fazendo olhar nos olhos. – Por favor... Eu te amo... Não me deixe assim...

– Duvides da luz dos astros, de que o sol tenha calor. Duvide até da verdade, mas confie em meu amor por ti, Juliette. – Renato tomou os lábios rubros num beijo desesperado e Juliette soube que o havia perdido para sempre.

– Não recites poesias para mim, quando pretendes deixar-me só, com meu amor. – Juliette lhe devolvia as palavras apoiando sua testa na dele.

– Escrever-lhe-ei sempre. A levarei comigo onde quer que eu vá.

– Vós sois a minha pessoa, Renato, porém eu não sou a sua. Não me escrevas, não alimentes sentimentos cujo não possa corresponder. Lhe encontrarei, se assim for da vontade do destino. Nessa, ou em outra vida.

Os amantes se amaram uma última vez. Talvez Juliette não tenha compreendido o poder de sua promessa, mas alí, diante dos deuses do tempo, um pacto havia sido selado, e aquelas almas errantes teriam um só destino, se amar, seja em qual existência fosse...

Renato não voltaria para casa esta noite, estava determinado a ficar com Juliette o máximo de tempo possível, e Rafaella estava curiosa por demais, estudando minuciosamente a caligrafia fina e delicada no envelope da carta. Um único nome, que ela conhecia tão bem, porém nunca lhe havia sido tão agradável lê-lo em um pedaço de papel. O "R", bem desenhado complementando aquela letra cursiva que estendia, formando o nome de seu irmão.

– Céus! Quem serás vós? Que rosto deves ter? – Rafaella divagava dialogando com o envelope que jazia lacrado com o brasão do tal Barão. – E onde está aquele covarde, que não chega! – Rafaella se pôs de pé indo até uma das janelas de seu quarto, e puxando o refinado tecido da cortina, passeou os olhos pela rua vazia.

Lies - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora