19. Quem na fraqueza sabe ser bem mais forte

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"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar'

William Shakespeare

Música on: "Who Are You" (Fifth Harmony)

Ainda pior que a convicção do não, e a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase. É o quase que incomoda, que entristece, que mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase morreu está vivo, mas quem quase amou... não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel, por essa maldita mania de viver no outono.

O que nos leva a escolher uma vida morna?

A resposta está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.

Seriam elas covardes, então?

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, talvez fossem esses os motivos que regiam aquelas duas vidas, mas não são.

Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Gizelly sentia-se assim, vazia sentada em sua cama segurando o livro em suas mãos, sem ao menos sequer o ler...

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente... paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo...

"Teria eu o meu tempo para amar? Quem es tu, hoje? Vós serás o sol ou a chuva? Quem serás amanhã, Renato? Me fará sorrir... ou me trará arrependimento? Quem serás quando eu estiver perdida e assustada? Quem serás quando não houver ninguém lá? Quem es tu, hoje Renato, porque eu continuo a mesma..."

Gizelly suspirou, com os pensamentos a deixando inquieta.

De nada adiantava cercar seu coração vazio ou economizar a alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor... não é romance. Não queria deixar que aquela súbita saudade a sufocasse, mas seria capaz de não o fazer? Não queria aquela rotina de incertezas, não permitiria mais que o medo a impedisse de tentar. Sim, gastaria mais horas realizando que sonhando, fazendo do que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu. E Gizelly estava apenas começando a viver...

As batidas na porta elevaram seus olhos ao rosto que passou pela fresta aberta, com cautela.

– Gizelly... Perdoe-me a ousadia em bater em sua porta, mas... – O homem limpou a garganta. – Não fui capaz de trazer o patrão Renato para o quarto.

Ao ouvir o nome de Renato, Gizelly se levantou de um salto levando a mão direita ao peito, deixando que o livro caísse ao chão num som abafado, ao entrar em contato com o tapete.

– Onde está meu marido, Samuel? – A mulher já estava passando pela porta, num rompante tempestivo de puro zelo.

– Na biblioteca, vi a forma como saiu montado naquela besta, que ele chama de cavalo, e temi por sua vida. Não me olhes assim, Gizelly, devo minha vida a ele, e nunca serei capaz de retribuir tudo que fez por mim, e minha família.

Lies - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora