22. E quando perde a razão

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Há momentos em nossa existência, em que nos vemos diante da encruzilhada que nos direcionará para o caminho que percorremos até o fim de nossa jornada.

Manu estava diante da igreja da província contemplando sua encruzilhada, seu dilema, seu tormento. Voltar para casa e desistir de tudo que estava sentindo, ou entrar e se entregar de corpo e alma às vontades que lhe dilaceravam. Ardia em desejos e luxúria, era assombrada em seus sonhos e pensamentos. Não tinha paz.

Por um momento, um breve momento, cogitou a hipótese de voltar, e deu um passo atrás.

"Não faça isso, Manu."

A voz em sua consciência a alertou.

"Vá buscar sua paz!

Os sussurros de sua alma, se sobrepuseram aos seus medos e temores, e tomando de uma respiração profunda, ergueu a cabeça e caminhou pela estrada sem volta...

– Bom dia, Padre. – Sua voz saiu natural.

– Bom dia, senhorita, Gavassi – Júlio ergueu seus olhos do livro que estudava, para percorrer o corpo curvilíneo de pé a sua frente, no meio de sua sala. Manu seria sua perdição, ou salvação? – Em que posso lhe ser útil, filha?

– Ah, Padre, não me chames desta forma. Posso ser tudo, menos sua filha.

Confuso

Júlio a olhou confuso, até que encontrou os olhos da mulher, que continham o brilho da lascívia em sua íris escuras, e respirou profundamente buscando por controlar seus pensamentos, que o atingiram com força. Não iria ceder, não poderia.

– Busco por alívio... para minha alma pecadora. – A mulher jogou, deixando no ar um convite subentendido.

– Se o que buscas é se confessar, pois bem. – Disse ao se levantar e buscar pela estola. – Não tenho nenhuma agendada, podemos conversar.

Malicia...

"Seria ele tão puro assim?"

Manu riu de seu questionamento interno, já bolando seu plano maquiavélico, enquanto sentava no confessionário fazendo o sinal da cruz.

"Hoje, não me escapas... Padre..."

– Então, senhorita Gavassi, a quanto tempo não te confessas?

– Não tenho nem noção disso. – Riu, ao paço que Júlio negou com a cabeça.

– E como tens se sentindo? Como está a sua fé?

– Como tenho me sentindo? Vejamos... – A mulher dizia abrindo a porta do seu lado do confessionário. – Quente...

Música on "I Put a Spell on You" (Iza)

Júlio enrugou a testa em confusão, ao ver a porta do seu lado ser aberta, e Manu passar por ela, dando prosseguimento a suas insinuações, num tom de voz baixo, arrastado, saboreando as palavras, provocando os efeitos desejados naquele a ouvida.

– Minha fé, queres saber? Pois bem... – Passou a língua pelos lábios, os umedecendo, antes de continuar. – Eu coloquei um feitiço em ti...

Surpreso...

– Porque és meu...

Júlio sentiu a saliva descer com dificuldade, sentindo a aproximação da mulher que o devorava com os olhos, movendo os lábios enquanto falava de forma sensual e trancava a porta do confessionário.

– É melhor parar de fazer as coisas que faz, eu não estou mentindo. Não, eu não estou mentindo, saiba que não aguento mais! Tu, estás ao meu redor!

Lies - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora