Há momentos em nossa existência, em que nos vemos diante da encruzilhada que nos direcionará para o caminho que percorremos até o fim de nossa jornada.
Manu estava diante da igreja da província contemplando sua encruzilhada, seu dilema, seu tormento. Voltar para casa e desistir de tudo que estava sentindo, ou entrar e se entregar de corpo e alma às vontades que lhe dilaceravam. Ardia em desejos e luxúria, era assombrada em seus sonhos e pensamentos. Não tinha paz.
Por um momento, um breve momento, cogitou a hipótese de voltar, e deu um passo atrás.
"Não faça isso, Manu."
A voz em sua consciência a alertou.
"Vá buscar sua paz!
Os sussurros de sua alma, se sobrepuseram aos seus medos e temores, e tomando de uma respiração profunda, ergueu a cabeça e caminhou pela estrada sem volta...
– Bom dia, Padre. – Sua voz saiu natural.
– Bom dia, senhorita, Gavassi – Júlio ergueu seus olhos do livro que estudava, para percorrer o corpo curvilíneo de pé a sua frente, no meio de sua sala. Manu seria sua perdição, ou salvação? – Em que posso lhe ser útil, filha?
– Ah, Padre, não me chames desta forma. Posso ser tudo, menos sua filha.
Confuso
Júlio a olhou confuso, até que encontrou os olhos da mulher, que continham o brilho da lascívia em sua íris escuras, e respirou profundamente buscando por controlar seus pensamentos, que o atingiram com força. Não iria ceder, não poderia.
– Busco por alívio... para minha alma pecadora. – A mulher jogou, deixando no ar um convite subentendido.
– Se o que buscas é se confessar, pois bem. – Disse ao se levantar e buscar pela estola. – Não tenho nenhuma agendada, podemos conversar.
Malicia...
"Seria ele tão puro assim?"
Manu riu de seu questionamento interno, já bolando seu plano maquiavélico, enquanto sentava no confessionário fazendo o sinal da cruz.
"Hoje, não me escapas... Padre..."
– Então, senhorita Gavassi, a quanto tempo não te confessas?
– Não tenho nem noção disso. – Riu, ao paço que Júlio negou com a cabeça.
– E como tens se sentindo? Como está a sua fé?
– Como tenho me sentindo? Vejamos... – A mulher dizia abrindo a porta do seu lado do confessionário. – Quente...
Música on "I Put a Spell on You" (Iza)
Júlio enrugou a testa em confusão, ao ver a porta do seu lado ser aberta, e Manu passar por ela, dando prosseguimento a suas insinuações, num tom de voz baixo, arrastado, saboreando as palavras, provocando os efeitos desejados naquele a ouvida.
– Minha fé, queres saber? Pois bem... – Passou a língua pelos lábios, os umedecendo, antes de continuar. – Eu coloquei um feitiço em ti...
Surpreso...
– Porque és meu...
Júlio sentiu a saliva descer com dificuldade, sentindo a aproximação da mulher que o devorava com os olhos, movendo os lábios enquanto falava de forma sensual e trancava a porta do confessionário.
– É melhor parar de fazer as coisas que faz, eu não estou mentindo. Não, eu não estou mentindo, saiba que não aguento mais! Tu, estás ao meu redor!
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Lies - Girafa
RomanceBrasil, 1886. Em meio ao progresso ferroviário, a pressão inglesa e aos movimentos abolicionistas, duas famílias firmam um acordo vantajoso para ambas. Gizelly e Renato iriam se casar. Envolto a trocas de cartas, tramas e complôs, uma mentira se to...