20. Ninguém sabe dizer onde a felicidade está

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Música on: "Chosen Family" (Rina Sawayama) 

Obs.: Aperte o play, o repeat, e deixa a música rolar...

Rafaella fechou a porta do quarto e caminhou de cabeça baixa até Gizelly, que estava de pé, à frente da janela olhando para rua escura, e aquilo fez o coração da maior vacilar. Era exatamente assim que estava naquela noite em que disse adeus a Renato, e lá estava ela, prestes a dar adeus novamente a quem tinha tanto apreço.

Havia levado Gizelly para seu quarto, dessa vez. Faria aquilo no único lugar que era realmente seu, que ainda guardava restos do que um dia foi Rafaella Price Kalimann.

– Me conte a sua história e eu te conto a minha, sou todo ouvidos, não se apresse, nós temos a noite toda. Me mostre os rios cruzados, as montanhas escaladas, me mostre quem te fez andar até aqui. – Gizelly tirou os olhos da janela, os voltando para Rafaella, que ainda mirava o chão numa postura envergonhada.

Respirou fundo, e abriu o grosso caderno que havia buscado em sua mala. O abrindo, tirou do meio das páginas uma fotografia e a estendeu para que Gizelly pudesse ver de quem se tratava.

– Este é Renato. – Gizelly se aproximou capturando a fotografia, percorrendo os olhos castanhos curiosos pela superfície do papel, observando os traços do homem que achava conhecer, e o que viu a fez estremecer. A semelhança entre eles era assustadora, a mesma boca, o mesmo nariz... – Somos gêmeos, como bem sabe. Gêmeos idênticos, como já deve ter percebido. – Riu nervosamente. – Quando... nossa mãe faleceu, papa não soube como cuidar de duas crianças, então... mandou Renato para um colégio de Padres em Portugal, e a mim para um internato na França. – Suspirou, negando com a cabeça. Rafaella olhava para todos os lugares, menos para Gizelly, que a encarava atentamente. – Eu... vivi lá até que recebi uma carta de meu pai, me chamando. Não era ruim viver com as freiras, sabe? Elas não eram carinhosas nem nada, mas era o que eu tinha. Quando cheguei a Londres, e encontrei Renato depois de tanto tempo... – Sua fala ficou presa e precisou pigarrear algumas vezes. – Ele me visitava no internato, mas da última vez... uma irmã desistiu dos votos e... bem... as Irmãs culparam Renato, e ele não pode mais ir me ver. – Sorriu lembrando do irmão. – Renato amava as mulheres, e elas o amavam. – Completou ainda sorrindo.

– E foi quando chegou a Londres, que soube do casamento? – Gizelly tinha um meio sorriso no canto dos lábios, no fundo estava gostando de saber que não era uma louca neurótica. Havia realmente algo muito errado em tudo aquilo.

– Não... papa nos avisou que viria ao Brasil resolver assuntos da ferrovia, os barões não estavam gostando da ideia de ter trilhos de trem cortando suas terras, seu pai era o mais fervoroso deles. Foi aí que veio tudo isso. Papa veio ao Brasil e deixou Renato e a mim responsáveis pelos negócios na Europa. Veja, Gizelly. – Rafaella finalmente tomou coragem para olhar a morena que mantinha os olhos sobre ela o tempo todo. – Isso tudo foi um arranjo entre eles, um belo dia recebemos uma respondência de meu pai, avisando que mudaríamos para o Brasil e que Renato se casaria. Ele não recebeu a notícia muito bem, na época eu não conhecia Juliette, então eu achei... uma covardia sem tamanho não responder sua carta! Não fazia ideia do que tu havias passado, só não achava justo que ficasse sem resposta.

Rafaella sacudia as mãos nervosamente enquanto falava.

– Ele se recusava até em ler sua correspondência! Ele era tão teimoso, Deus meu! – Passou as mãos pelos cabelos enquanto puxava uma respiração profunda. – Não sei como ele conseguia ser tão teimoso... e.... cabeça dura!

– Não sabes mesmo? – O tom irônico de Gizelly, fez Rafaella se voltar para ela com o dedo indicador em riste.

– Eu não sou teimosa, sou.... determinada. É.... diferente. – Disse estufando o peito, fazendo Gizelly rir de forma anasalada.

Lies - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora