O que esperar do inesperado? O diferente tende a nos assustar, e por natural as barreiras de proteção se erguerem. A coragem não está em se jogar ao perigo, mas no mais audacioso dos atos, o ato de amar. Mas como amar o desconhecido, o errado, o pecaminoso?
O que Gizelly e Rafaella estavam prestes a descobrir é que o certo e o errado, é nada mais do que um ponto de vista. Se amar é errado, então porque o primeiro mandamento é "Amar a Deus"?
As dúvidas davam voltas na mente de Rafaella, que se via diante do maior impasse de sua vida. Havia sido criada em um convento, seguindo os preceitos católicos, e um deles era de que a mulher deveria servir ao marido, e dar-lhe filhos, herdeiros. Mas... ela era o marido da relação?
Suspirou...
Precisava conversar com Júlio, antes que suas emoções se sobrepusessem à razão, e estava perigosamente perto disso. A cada vez que mirava aqueles olhos de avelã, sentia um pouco mais de sua sanidade a abandonar. Até quando seria capaz de conter a vontade avassaladora de tomar Gizelly nos braços, e a amar inteiramente?
O ombro deu uma leve fisgada ao tentar se ajeitar na cama. Era inquieta demais para ficar ali, deitada na cama como uma imprestável, mas a dor no ombro era algo real.
Bufou...
– Inferno! Até quando terei de ficar nesta maldita cama? – Questionou a si, e obteve uma nova fisgada como resposta. – Okay, já entendi...
[...]
Gizelly vinha descendo as escadas, quando ouviu vozes vindo da cozinha, e ao ouvir o nome de Renato, resolveu parar para escutar.
– Ele disse isso? – Parecia ser a voz de Juliana.
– Sim... – Agora era Samuel.
Gizelly estreitou os olhos, se aproximando mais da porta da cozinha.
– E pucadiquê, ele falaria um absurdo desses, Samuel? Vossunssê fez arguma coisa que não divia? – Quitéria parecia enraivecida.
– Claro que não, mãe! Sempre respeitei Gizelly e o patrão. Jamais faria algo, devo muito ao patrão. – Samuel se defendeu.
– Ma então, pucadiquê ele falaria que a sua vida era mais importante que a dele pra menina Gizelly? – Quitéria agora soava preocupada, e Gizelly sentiu um calafrio lhe subir a espinha. Rafaella havia dito aquilo? Por que ela pensaria assim?
Intrigada, Gizelly resolveu entrar na cozinha e sanar de uma vez suas conjecturas.
– Bom dia, Quitéria! – A voz de Gizelly acabou por assustar a todos. – Por favor, prepare o desjejum, Renato acordou e julgo estar necessitando se alimentar. – Disse deixando um beijo na bochecha da negra, que abriu um sorriso em imediato.
– Que maravilha! Aquele menino é forte, como um touro! – Limpou as mãos no paninho que tinha jogado no ombro. – Juliana, vá arrumar o banho do patão, vá.
– Não há necessidade, eu faço isso. – Felicidade, que vinha entrando pela cozinha, prontamente se ofereceu, já saindo em disparada.
– Essa menina tá sempre querendo agradar o patrão. – Quitéria observou, olhando por onde Felicidade havia saído, fazendo Gizelly estreitar os olhos. Teria uma conversa com ela mais tarde, agora tinha algo mais importante para tratar.
– E tu, Samuel, que conversa é essa que estavam tendo? O que de fato aconteceu ontem?
Samuel sentiu o peso dos olhos inquisidores sobre si. Gizelly cravou os olhos no negro, enquanto tomava assento a mesa.
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Lies - Girafa
RomanceBrasil, 1886. Em meio ao progresso ferroviário, a pressão inglesa e aos movimentos abolicionistas, duas famílias firmam um acordo vantajoso para ambas. Gizelly e Renato iriam se casar. Envolto a trocas de cartas, tramas e complôs, uma mentira se to...