21. O amor é feito de paixões

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Música on: "Photograph" (Ed Sheeran) 

Os dedos longos percorriam a capa de couro do caderno. Era preto e fechado por fivelas, com o desenho da Estrela de Davi na capa. A curiosidade em abrir e conhecer seu conteúdo, esmagava seu peito. Rafaella havia o esquecido sobre a cama, logo que retirou a foto de Renato de dentro dele.

"Fotografia... fizemos essas memórias para nós mesmos, onde nossos olhos nunca se fecharão. Nossos corações nunca foram quebrados, e o tempo está congelado para sempre..."

Os olhos castanhos foram para a porta, que estava fechada e mordeu o lábio inferior lutando contra a voz que lhe sussurrava.

"Tranque a porta, e abra o caderno."

Mas, não estaria ela invadindo a privacidade da mulher, que confiava tão cegamente nela a ponto de deixar, o que visivelmente era seu diário, ali a seu alcance?

Gizelly engoliu a saliva com dificuldade. Não poderia começar seu relacionamento com Rafaella dessa forma, mas havia um relacionamento? E qual seria?

Tomando uma respiração profunda, se ergueu da cama levando o pesado caderno consigo e o colocou sobre a penteadeira, olhando seu reflexo no espelho.

– Não és este tipo de pessoa, e não será agora que se tornará. – Disse fixando seus olhos em seu reflexo, vendo as feições de seu rosto. Seu semblante estava tão diferente de quando morava com o Barão. Parecia mais leve, iluminado talvez. Seus olhos nunca estiveram tão castanhos e sua pele tinha um cheiro diferente, um... perfume característico de um certo alguém. Se abraçou ao mesmo tempo em um sorriso lhe tomou os lábios a fazendo rir de forma anasalada e fechar os olhos.

Rafaella...

O perfume da mulher estava impregnado em suas vestes, em sua pele, em seus pensamentos.

– O que está acontecendo contigo, Gizelly?

A mulher estava tão absorta em suas sensações, tão submersa nos pensamentos, que só se deu conta de que não estava sozinha, quando sentiu o toque em seu ombro, a fazendo abrir os olhos assustada.

– A sinhá tá bem? Eu bati, chamei, aí fiquei prercupada e entrei. Vai que tinha batido as botas! – Juliana a olhava assustada, fazendo o sinal da cruz enquanto finalizava seus devaneios. – Deus me livre!

– Estou bem, Juliana. Apenas... refletindo sobre os últimos acontecimentos. – Disse se recompondo. – Mas o que quer, aconteceu algo?

– O patrão tá lá, falando com o doto e tarzinha lá. – Fez uma careta revirando os olhos, o que acabou por fazer Gizelly rir. Juliana havia tomado suas dores, era notório.

"Pobre mulher, sofrendo por amor, e nós a difamando."

O pensamento fez Gizelly sentir o gosto amargo do arrependimento. Falaria com Juliette depois, no momento ainda não lhe era auspiciosa a ideia de que estava trancada com Rafaella, em um espaço tão reduzido quanto o escritório. E essa verdade a sacudiu de forma intensa, a fazendo descer os dedos pelo pescoço até o colo, exposto pelo discreto decote em seu vestido, numa carícia tensa. Teria que falar com a prima, algo muito estranho estava acontecendo.

– Não há mais com o que se preocupar, Juliana. A mulher não é o que pensávamos.

– Como não, se eu vi com esses zoio que a terra há de comer, a tar atracada nos beiço do patrão! Eu vi, Gi, eu vi! – A negra falava apontando para os olhos com o dedo indicador, num tom de voz baixo e conspiratório.

– Isso é algo que... ele, terá de me explicar também.

– Então vossuncê sabe o que a tar vei fazê aqui? – Juliana estava curiosa, não havia conseguido ouvir nada, já que teve que ficar com Sebastião, para que pudessem conversar.

Lies - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora