Capítulo 3 - "Curto-Circuito"

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Narrador

Samantha sentia-se morta. Sem forças, sem vontade para nada. O efeito da anestesia com certeza tinha passado. Abraçava a barriga, com lágrimas nos olhos, a dor era demais. Parte dela queria esquecer que aquilo tinha acontecido, que ela tinha voltado para casa, numa sexta igual as outras. A outra queria lembrar-se, lembrar-se o porquê, quem lhe fez aquilo. Mas já estava habituada a memória nunca lhe obedecer.

Com muito esforço e dor, foi até à casa de banho.

No exato momento que ia voltar a deitar-se ouve a campainha. Será que eram os homens? Tinham-na seguido e agora iam terminar o serviço? A campainha voltou a tocar. Em passinhos, foi até a porta.

- Bom dia. - Mathew sorriu. Que alívio que foi ao vê-lo - Presumi que estivesses com dores infernais então decidi ser eu a passar aqui e poupar-te o trabalho de ires ao consultório. Está tudo bem? Pareces preocupada.

- Tudo perfeito. Dores? Nunca ouvi. - ela riu, arrependendo-se mais tarde. Dor! Dor! Dor!

- Pois, vou fingir que acredito. - entrou após ela lhe dar espaço - Para si, senhorita. - mostrou um bouquê de flores vermelhas e brancas.

Um sorriso nasceu no rosto de Samantha, feliz pelo presente.

- Obrigada, Mathew. São lindas... Eu amei. - cheirou as flores, não conseguindo tirar o sorriso do rosto.

- Qualquer coisa para ver esse sorriso lindo.

As bochechas de Samantha deviam estar da cor das flores, vermelhas. Trocou as flores velhas que tinha numa jarra pelo bouquê.

- Ficam bem aí.

- Também acho. Obrigada, conseguiste animar-me.

- Ainda bem, essa é a intenção. Agora, fica de pé na frente do sofá. - mandou após pegar numa pomada.

- Só vou obedecer porque realmente tive uma noite a penar de dores. - encostou-se no braço do sofá e levantou a camisola até ficar no nível do soutien.

- Não vou mentir, isto não está com um bom aspeto, mas está melhor que ontem. - começou por limpar e desinfetar todos os ferimentos, ouvindo sempre um "ai" da parte de Samantha.

- Já está?

- Só falta a pomada, isto vai te ajudar com as dores e a não deixar cicatrizes. - espalhou devagar ao longo da barriga dela.

- Era só o que me faltava.

- Vais ficar com a pele macia, como sempre.

Samantha olhou para Mathew, que lhe deu um sorriso bobo. Em retribuição, também lhe sorriu. Ficaram em silêncio enquanto ele terminava de colocar a pomada.

- Agora, o rosto. - levantou-se ficando a centímetros de distância dela.

- Acho que consigo sozinha.

- Mas não estás sozinha. - colocou um pouco no dedo e espalhou pelo sobrancelha e bochecha dela. Tais movimentos foram feitos sem nunca quebrar o contacto visual.

- Obrigada. - segurou a mão dele. Mathew não falou nada, o que fez as respirações dos dois serem ouvidas, a um ritmo abnormal.

- Sam...

- Quanto eu devo pela pomada? - passou por ele, evitando que algum erro fosse cometido.

- Nada, tenho dezenas destas em casa. - limpou a garganta e recompôs-se - O meu filho sempre se magoa, então disto não falta.

- Como está o pequeno Andrew? Só o vi uma vez. - lembrou-se do menino pequenino. Única vez que se viram foi no hospital. Foi quando conheceu Mathew, Joe, foi quando isto tudo começou.

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