Capítulo 4 - "O Diabo veste Couro"

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Narrador

Passou-se uma semana desde o acidente. Samantha tinha ficado em casa esse tempo, mas já estava farta então decidiu voltar ao trabalho. Durante esses dias, tanto Gabriel como Mathew insistiram para ela apresentar queixa, mas ela não quis. Já sabia que o processo ia ser arquivado, assim como foi o dela. 

Era estranho como estava animada para levantar cedo numa segunda. Riu disso e preparou-se para o trabalho.

- Ok garotão, vamos para a escola. - Mathew abriu a porta do carro para o filho - Hoje sou eu que te vou buscar.

- A sério? Isso significa que podemos lanchar os dois? - Andrew perguntou com um grande sorriso. Normalmente era a babysitter que o ia buscar e cuidava dele até Mathew chegar. 

- Combinado. E, podes incluir passeio no parque, pois não vamos sair de lá até chegarmos ao topo no baloiço. 

Andrew quase teve um ataque. Ninguém ia conseguir tirar aquele sorrisinho do rosto, Mathew também sorria. Amava o filho, o seu sorriso, tudo sobre ele. Não tinha nada mais puro que uma criança, e, sendo pai dela, sentia-se o homem mais sortudo do mundo. Era só ele e Andrew à anos.

A segunda passou igual para todos. Mathew trabalhando no hospital, como sempre. Samantha trabalhando na loja, como sempre. Só Andrew que esperava pelo toque de saída, ansioso por ver o pai o esperando no portão.

- Samantha, está na tua hora. - Carmen, a chefe, avisou-a.

- Ah nem reparei. - terminou de dobrar as roupas e foi para a parte de trás da loja. Tirou o uniforme da loja, vestiu a sua roupa e saiu depois de se despedir da chefe. 

Ao andar pela rua, sentia o ar fresco entrar nos pulmões. Tinha a sensação que seria uma boa semana, pelo menos tinha começado bem. 

Recebeu uma mensagem de Gabriel.

"Como correu o primeiro dia?"

Riu da figurinha que ele mandou, um menino muito atento a algo com as pernas a abanar.

"Muito bem. Precisava mesmo sair de casa."

"Fico feliz por ouvir isso. Se quiseres me contar o dia, é só ligar."

"Eu sei. Obrigada."

Samantha sorriu com o carinho de Gabriel. Mas também sentiu medo, será que ela estava a dar esperanças que algo fosse acontecer? Ele quer que algo aconteça ou era tudo uma ilusão da cabeça dela? 

No caminho para casa, passou numa sorveteria. Queria mimar-se e tinha esse direito.

- Pode ser com duas bolas, morango e chocolate. Obrigada. - pagou.

- Samantha! - ao sair ouviu alguém chamar. Olhou em volta e viu Mathew sentado num sofá, mais afastado. Acenou e foi até ele - Um mimo depois do trabalho?

- Quem não merece? O mesmo para ti vejo. - sentou-se no sofá a frente dele.

- O mesmo para nós. - corrigiu-a.

- Nós? - perguntou sem entender.

- Pai, já lavei as mãos. - Andrew veio a correr da casa de banho - Já posso comer? Ah olá. - acenou para Samantha que retribuiu.

- Andrew esta é a Samantha, minha amiga e paciente, Samantha este é o Andrew, meu filho e também paciente. - apresentou-os.

- Acho que já nos conhecemos. - Andrew olhava diretamente no rosto de Samantha, o que a fez estranhar e rir um pouco desconfortável. Não é muito normal uma pessoa olhar diretamente no seu rosto sem piscar.

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