◽CAPITOLO VENTIQUATTRO

32 3 0
                                    


◽Joe Salvatore

Quando Mattia ligou para informar do acontecido, eu já estava a caminho da Itália. Sabia o que estava por vim, que ele buscaria um meio para me atingir, mas não imaginei que seria de uma forma tão baixa como tal.

Porque deveria me surpreender com isso? Estamos falando de alguém sem escrúpulos, de  alguém como  Russo Salvatore podemos esperar por tudo.

Vladimir me acompanhou calado o percusso inteiro, seguido pelos seus capangas. Em determinado momento, retornei a dez anos atrás e me lembrei da minha adolescência, onde meu tio e eu costumávamos a ser próximos.

É impressionante o quanto o tempo nos faz mudar, sabe? A dez anos atrás, meu pai era um exemplo para mim, e hoje ele é apenas  mais um dos meus inimigos. O responsável por um ataque à mulher que escolhi para passar o resto dos meus dias ao lado.

A mulher que estou perdidamente apaixonado.

—  Sua esposa é belíssima. —  Vladmir vira o jornal para mim, onde uma foto minha com Violleta está estampada com legendas imensas.

Sinto um aperto no peito.

—  Sabe, quando minha Luane... me deixou, eu achava que jamais iria superar a perda. O tempo passou, meu primogênito se tornou um homem e seguiu seus próprios rumos, mas eu ainda não tinha superado.

Olho para ele, notando a lágrima se formando nos olhos. Pela primeira vez em 20 anos, vejo Vladmir derrubar uma lágrima.

—  Quando ela se foi, eu prometi que ia me afastar na máfia, que seria melhor pelos nossos  filhos.

E então eu entendo o motivo dele ter se afastado da máfia, durante anos todos os integrantes se perguntavam o que o fez desistir do seu juramento.

Agora eu começava a entender os seus porquês.

— Mataram nossa criança, Joe e eu jurei para ela que protegeria nossa família. — Ele continuou. —  Não vou deixar que isso se repita. Não permita que ele tire sua família também.

—  Não irei, Vladmir.

Assim que aterrissamos, meu tio segue para a mansão para resolver os trâmites da vinda do desgraçado, enquanto eu vou ao encontro da minha esposa.

Encontro com Lorenzo assim que entro na clínica, não sei o que me acontece, mas não consigo sequer discutir, apenas o ignoro e sigo até a recepção do hospital. A recepcionista não me pergunta nada, muito menos se intromete, porém sinto seu olhar me segindo.

—  Onde ela está? —  pergunto, calmo, Lorenzo não responde—  Onde ela está, porra?!

—  Quarto 201, a doutora Gucci está cuidando dela.

Gucci. Detesto essa mulher.

Sigo até o elevador, atraindo olhares simbólicos. Desde já, sei que se deve a renca atrás de mim.

—  Diga para todos que podem se retirar. —  Digo a Lorenzo, que concorda—  Aviso de precisar.

Ele concorda novamente.

O elevador para no terceiro andar, respiro fundo antes de entrar no quarto, na tentativa de me preparar, mas quando tomo coragem e vejo Violleta deitada, completamente desacordada, meu coração se aperta.

Nunca pensei que iria me afetar tanto ver alguém assim, é algo tão comum, tão cotidiano que deveria ser normal.

Quando a vejo sinto um misto de emoções, sinto raiva, dor, tristeza, sinto um arrependimento por ter envolvido a nesse conflito. Sinto medo de acabar perdendo ela.

Engulo seco e caminho até a cama, seguro a mão dela gelada e pálida.

É horrível ver minha esposa desse jeito. Abaixo a cabeça, apertando a mão dela com mais força.

— Eu sinto muito. —  Ouço a voz da minha irmã. — Eu não devia ter ido atrás dela, se ela estivesse sozinha, nada disso teria acontecido.

Sinto a lágrima caindo do meu rosto.

— Eu não queria que isso acontecesse, Joe. Eu...

Olho para ela, os olhos vermelhos e inchados de alguém que não dormia a dias e vejo a criança que brincava comigo pelo jardim da mansão. Nossa infância passou pela minha cabeça em um flashback; As alegrias, os medos, os choros.

Tudo estava ali. De repente, vi a mulher incrível que minha irmã se tornou e eu não havia me dado conta.

— Quero que ele pague, Nádia. Eu quero vê-lo morto.

Ela concorda.

—  Não irei mais interferir. — Ela disse, abrindo a porta. — Se isso irá te fazer sentir melhor, faça o que julgar necessário.

Nádia se retira do quarto, me deixando sozinho com Violleta.

Meu celular vibra no bolso, Vladmir me ligava pela terceira vez, quando atendo ouço a  gargalhada dele e já sei do que se trata.

A volta de Russo tinha acontecido com sucesso, sem interrupções, como desejávamos. Em breve tudo voltará ao normal.

Quase tudo.

— Você não sabe disfarçar a cara de  cão sem dono... — Ouço uma voz rouca.

Não acreditei de imediato, mas quando vejo os olhos dela aberto,  minha ficha cai e tudo o que consigo fazer é sorrir.

— Um cão muito contente por te ver acordada.

Ela me encara e pela sua expressão, sei que tem algo errado.

— Joe, eu não tô sentindo. — Ela se mexe inquieta. — Eu n-não consigo…

Violleta se remexe agoniada, e eu levanto com  sobressalto quando vejo suas lágrimas.

— O que meu amor, o que houve?

— Joe, não consigo sentir minhas pernas.

LA MÁFIA [VOL.1 OBSESSÕES] Onde histórias criam vida. Descubra agora