◽CAPITOLO VENTISETTE

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Capital, Itália

◽Joe Salvatore

Entro no carro com minha consciência me culpando como nunca havia culpado antes.

Alguém que mata, que tortura, que extorque não deveria sentir remosso, mas naquele momento, eu sentia o arrependimento de uma única quebra de confiança.

Não sei por quanto tempo fiquei ali parado, olhando através do vidro escuro.

Olho meu reflexo no espelho. Não estou marcado, noto apenas o batom visível em um dos colarinhos.

Assim que ligo meu telefone, vejo cinco chamadas perdidas da Nádia e uma mensagem dela me dizendo que iria sair com Lorenzo. Não há ligações de Violleta, tão pouco da mansão.

Respiro fundo e dou partida na minha Lamborghini Reventón, a caminho da mansão.

Ligo para minha esposa, mas ela não me atende.

Quando chego na mansão, reparo que o Audi de Nádia não está na garagem ainda. Estaciono o carro e desço, guardando as chaves.

—  Buona notte, senhor Salvatore.

Judite parece apreensiva quando sorri, colocando a bandeja de chá que segura em cima da mesa de centro.

— Buona notte, Judite.

Retiro meu paletó e sigo rumo ao quarto principal, o corredor está vazio, o que muito me admira, mas de tudo o que mais me deixa apreensivo é o fato que minha esposa não está.

Começo a ficar preocupado.

— Onde está Violleta?

Judite me encara, confusa.

—  Estive agora pouco no quarto, a senhora Salvatore estava dormindo.

Nego, irritado.

— Acabo de sair do quarto e ele está completamente vazio. Onde minha esposa está?

—  Senhor Salvatore, eu não sei...

Olho para ela, vendo lágrimas se formarem nos seus olhos.

— Como assim você não sabe!?

— E-eu…

Nesse momento, um som de piano ecoa pelo corredor; uma melodia triste e conhecida, reconheço a cifra de Bach.

Ando até meu escritório e a vejo de costas. Está com o cabelo solto, um novo corte na altura dos ombros. O vestido vermelho de seda caído ao redor do banquinho do piano a deixa com um ar sexy.

Violleta não para de tocar por um minuto sequer, embora eu saiba que já tenha notado minha presença.

Quando a música termina, eu me aproximo.

— Como chegou aqui?

Ela não me responde, continua olhando para a janela.

—  Como quer que eu confie em você?

Eu não respondo.

— Como quer que eu confie se está sempre me dando motivos para desconfiar?

Engulo seco.

— Não sei do que você está falando. —  Digo, calmo. — Vamos subir, o ar está muito gélido para...

Minha noiva vem até mim, os passos ágeis como se quisesse me bater, mas então ela para.

Ela está de pé.

—  Não finja que se importa comigo.

Violetta estava de pé sozinha.

— Violetta, você está em pé. Você...

Ela ri.

— Você saberia se estivesse aqui, não é mesmo, Joe? Se estivesse comigo.

Naquele momento eu soube que não poderia mais mentir.

Quem quer que tenha passado a informação para ela, devia ter feito algo bem inteligente.

— Eu posso explicar.

—  Eu não quero suas explicações, Joe. Não quero nada de você.

Me aproximo.

—  Não se aproxime de mim!

— O que aconteceu hoje, foi um erro, foi uma coisa de momento. Eu não quis...

Violleta passa a mão no rosto.

— O que aconteceu hoje ou não sei por quanto tempo vem acontecendo, foi a prova que você não vale nada.

Abro a boca, ela me corta:

—  Você me deixou quando mais precisei…  Você é pior do que eu imaginei. —  Suas palavras me provocam todo tipo de dor possível. — Mas o que eu deveria esperar de alguém como você?

Alguém bate na porta apressadamente.

—  Senhor Salvatore.

A porta se abre, revelando Judite e Lorenzo, com os olhos vermelhos e perdidos.

—  Joe, pegaram a Nádia. — Ele fala, a voz sumindo.

Encaro ele sem entender.

— Do que está falando?

Lorenzo me encara, os olhos atordoados quando   explica toda a história, Violleta andava de um lado para o outro, parecendo tentar encontrar uma lógica em tudo.

—  Por que só me contou agora? Que porra passa na sua cabeça para deixar ela sozinha?!

Ele coloca a mão no rosto, se levantando da poltrona no exato momento que o celular da minha esposa toca.

Ela parece se concentrar na mensagem.

— Eu tenho muita consideração por você, Joe. Para mim, somos muito mais que colegas de trabalho. Nós somos irmãos. Mas não vou permitir que você coloque sobre mim a culpa do que está acontecendo. — Violleta olha para ele.  — Você mais que ninguém sabe que eu amo sua irmã e daria minha vida por ela.

Respiro fundo.

Encaro a medalha que ele encontrou no estacionamento.

— Eu vou encontrá-la.

Violleta caminha até a porta, girando a maçaneta.

— Vocês não precisam se envolver nisso, vou trazer Nádia de volta.

Suas palavras de repente me parecem distantes demais para serem compreendidas.

— Só pode se está de brincadeira comigo.

— Essa medalha é da família Lombardi. —  Ela puxa um cordão no pescoço para fora do vestido e me mostra a mesma medalha em cor azul. — Eu sei onde eles estão. Isso tudo vai acabar e eu vou trazer ela de volta pra vocês.

— Conseguiu as coordenadas? — Mattia pergunta, do lado de fora do escritório e ela concorda. — Vamos.

Ela se vira.

— Violleta, nós dois...

—  Não existe nós dois, nunca existiu. Esse casamento é uma grande fraude

Fico calado, vendo ela sair pela porta.

—  Não pode deixar ela ir.

Eu já sabia que jamais iria poder alterar como ela era, mesmo assim, uma parte minha tinha a esperança de poder modificar tudo, consertar meus erros e ser um bom marido.

Mas eu não conseguia. Eu nunca fui uma pessoa da qual alguém poderia se orgulhar.

LA MÁFIA [VOL.1 OBSESSÕES] Onde histórias criam vida. Descubra agora