Capítulo 13 - Festa de Halloween 3

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Se a voz já era aquela maravilha, capaz de me cercar de silêncio, e o toque aquele espetáculo, capaz de eletrizar minha pele, o beijo... bem, o beijo é uma experiência sobrenatural. Embora não seja nenhuma especialista no assunto, tendo beijado não mais que meia dúzia de garotas na vida, sou capaz de apostar que um beijo desses, tão completo e tão transcendental, é algo único na vida de alguém.

Quando Toni se afasta e fica me olhando, fecho os olhos novamente e puxo a garota de volta pela nuca.

Até que Betty aparece e diz:

— Caramba, faz horas que estou procurando vocês! Devia ter desconfiado que estavam escondidas aqui!

Imediatamente recuo, querendo morrer por ter sido pega no flagra pouco depois de jurar que não estava nem um pouco a fim da garota.

— A gente só estava...

Ela ergue a mão para me calar.

— Por favor, poupe-me dos detalhes. Só queria avisar que a Evangeline e eu vamos nos mandar.

— Já? — pergunto, calculando mentalmente o tempo que já havia passado desde que vim para a piscina.

— É. Minha amiga Peaches acabou de chegar e vai levar a gente pra outra parada. Se quiserem, vocês podem vir conosco. Mas acho que estão ocupados demais — ela ironiza.

— Peaches? — pergunta Toni, levantando-se tão rápido que sua imagem se desmancha num borrão.

— Vocês se conhecem? — pergunta Betty, mas a essa altura Toni já foi, tão rápida que a perdemos de vista.

Sigo correndo atrás de Betty, louca para me explicar, mas quando enfim a alcanço já nas portas de vidro do pátio, e coloco a mão sobre os ombros dela, sinto uma energia tão pesada, tão carregada de raiva e desespero, que as palavras se congelam em minha boca.

Ela se desvencilha de mim e, olhando por sobre os ombros, diz:

— Falei que você não sabia mentir. — E segue adiante.

Respiro fundo e continuo correndo atrás das duas, Betty e Toni, enquanto elas atravessam a casa inteira — sala, cozinha, escritório — rumo à porta de entrada, meus olhos fixos em Toni; fico espantada com a segurança e rapidez com que ela se move, como se soubesse de antemão onde estava a tal de Peaches. E quando finalmente chego ao

hal, quase caio dura ao vê-las juntas: Toni em todo o seu esplendor como a Rainha de Gotham e Peaches também vestida de Hera Venenosa, mas numa fantasia bem mais elaborada que a minha, infinitamente mais requintada e linda, deixando-me até envergonhada.

— Ah, você deve ser a... — Ela levanta o queixo e planta os olhos nos meus, duas esferas cintilantes de um castanho mel.

— Cheryl — balbucio, e corro os olhos pela criatura à minha frente, a peruca, a pele sedosa e perfeita, o colar de ramos em torno do pescoço, os lábios rosados perfeitos que deixam entrever dentes quase irreais de tão brancos.

Olho para Toni na esperança de que ela explique, com um mínimo de lógica, como a negra do hotel St. Regis veio parar no hal de entrada da minha casa. Mas ela está muito ocupada admirando a obra-prima à sua frente para perceber que eu existo.

— O que você está fazendo aqui? — pergunta, quase sussurrando.

— Betty me convidou — ela responde sorrindo.

Olhando de volta para Toni, sinto um calafrio de pavor correndo pela espinha.

— Como vocês se conhecem? — pergunto, notando uma mudança no comportamento de Toni, uma súbita frieza, como se uma nuvem escura tivesse encoberto o sol que costumava ficar ali.

para sempre - choniOnde histórias criam vida. Descubra agora