Ontem à noite, quando Toni enfim ligou (quer dizer, acho que foi ela, porque o número era privado), deixei o telefone tocar até cair na caixa postal. E hoje de manhã, enquanto me arrumo para a escola, apago o recado sem sequer ouvir.
— Você não está nem um pouquinho curiosa? — pergunta James, rodopiando na cadeira da escrivaninha, com uma roupa preta, tipo Matrix, e os cabelos penteados para trás.
— Não. — Olho para o moletom de Mickey, ainda na sacola da loja, e escolho outro para vestir. Outro que ela não tenha comprado para mim.
— Pelo menos você devia ter me ouvido. Agora eu poderia fazer um resumo de tudo pra você.
— De novo: não. — Enrolo os cabelos na altura da nuca e uso um lápis para prendê-los num coque.
— Também não precisa descontar no cabelo, né? Caramba, o que ele lhe fez? — James ri. Mas, ao perceber que não vou responder nada, olha para mim e diz: — Não entendo você. Por que essa raiva toda? Vocês se perderam na autoestrada e a Toni esqueceu de dar o número dela. Que mal há nisso? Quer dizer, quando foi que você ficou assim tão paranoica?
Balanço a cabeça e me viro, sabendo que ele está coberto de razão. Estou com muita raiva. E sou paranóica, sim. Mais que isso: sou uma louca que se irrita com qualquer bobagem e sai por aí ouvindo pensamentos, vendo auras e sentindo a presença de espíritos. Acontece que meu irmão não sabe da história toda, e não estou disposta a contar.
Não sabe, por exemplo, que Peaches nos seguiu até a Disney.
Nem que Toni sempre some quando a garota está por perto.
Prestando mais atenção na fantasia reluzente dele, pergunto:
— Até quando você vai brincar de Halloween?
James cruza os braços e faz um bico.
— Até quando eu quiser — diz.
E quando vejo os lábios dele, trêmulos, ameaçando chorar, sinto-me a pior das criaturas.
— Poxa, James. Desculpe. Sinto muito se falei alguma bobagem. — Pego minha mochila e jogo sobre os ombros, desesperada por um pouco de paz, não vendo a hora de encontrar algum tipo de equilíbrio na vida.
— Não sente porcaria nenhuma — ele me encara, bravo. — Está escrito em sua testa.
— Claro que sinto, James. Acredite, não quero brigar com você.
Ele balança a cabeça e levanta os olhos para o teto, batendo um dos pés no carpete.
— Então, você vem comigo? — Vou para a porta, mas James se recusa a responder.
Então respiro fundo e digo: — Ande logo, James.Você sabe que não posso me atrasar.
Resolva logo, vá.
Novamente ele balança a cabeça, agora de olhos fechados. Quando enfim os reabre, eles estão vermelhos e marejados.
— Não tenho de estar aqui, você sabe! — diz.
Encosto na maçaneta da porta, impaciente. Preciso sair, mas sei que não posso. Não depois do que acabei de ouvir.
— Do que você está falando?
— Digo, aqui! Tudo isso! Você e eu, nossos encontros. Eu não tinha de estar fazendo isso!
Encaro meu irmão, sentindo um frio repentino na espinha. Não quero ouvir mais nada.
Fiquei de tal modo habituada com a presença de meu irmão que sequer cheguei a supor que talvez ele preferisse estar em outro lugar.
— Mas... mas achei que você gostasse de vir aqui — digo com um nó na garganta, a voz refletindo meu pânico.
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para sempre - choni
RomanceUma adaptação do livro Para Sempre de Alyson Noël - Depois de perder toda a familia em um desastre de automóvel, do qual inexplicavelmente escapou, Cheryl Blossom tem sua vida transformada por completo. Ela muda de cidade, de escola, de amigos, e pr...