Capítulo 10 - Bilhete

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Na manhã seguinte, enquanto me arrumo para a escola, faço a besteira de pedir a opinião de James na hora de escolher um moletom.

— O que você acha? — Levanto o azul, depois o verde.

— Vai de rosa outra vez — ele diz, empoleirado na cômoda, inclinando a cabeça para o lado enquanto avalia as opções.

— Não tem rosa nenhum aqui! — digo irritada, pensando que seria ótimo se pelo menos uma vez meu irmãozinho não transformasse tudo numa grande brincadeira.

—Anda, me ajuda aí, vai. Estou correndo contra o tempo.

Ele esfrega o queixo e aperta as pálpebras.

— Esse azul... Está mais para o cerúleo ou para o violeta?

— Chega! —Jogo o moletom azul na cama e já estou passando o verde pela cabeça quando James diz:

— Vai de azul.

Paro, só os olhos à mostra, nariz, boca e queixo ainda escondidos pela malha.

— Sério. O azul valoriza seus olhos.

Contando até dez para não avançar no pentelho, acato a opinião dele e troco o verde pelo azul. Vasculho meus objetos em busca do gloss, mas não chego a passá-lo; James me interrompe:

— Desembucha, vai. Quer dizer, primeiro a crise do moletom, depois o suor nas mãos e agora a maquiagem. Quero saber o que está rolando.

— Não estou de maquiagem! — digo, quase gritando.

— Não quero ser chata, Cheryl, mas tecnicamente falando gloss é maquiagem, sim.

Claro que é. E você, querido irmão, estava quase pintando a boca.

Jogo o gloss de volta na gaveta, pego meu protetor labial de sempre e lambuzo os lábios com ele.

— Alô-ou! Ainda estou esperando uma resposta!

Contraio os lábios, dou as costas para James e saio correndo escadaria abaixo.

— Tudo bem, não precisa contar nada — ele diz, seguindo em meu encalço — Mas não pode impedir que eu tente adivinhar.

— Não amole — resmungo, entrando na garagem.

— Bem, sei que não é o Kevin, já que você não faz o tipo dele, e sei que não é a Betty, já que ela não faz seu tipo. Então só pode ser a... — Ele atravessa a porta trancada do carro e acomoda-se no banco do carona enquanto eu tento não ceder. — Acontece que você não conhece mais ninguém! Portanto, desisto. Fale aí, por favor.

Abro a porta da garagem e entro no carro do jeito tradicional, depois ligo o motor para abafar a voz dele.

— Sei que você está aprontando alguma — continua James, berrando mais alto que a barulheira. — Porque, desculpa, mas você está agindo exatamente como antes de começar a namorar a Heather. Lembra como ficava toda nervosa e aflita só por causa dela? Ah, será que a Heather gosta de mim também?, blá-blá-blá. Então, desembucha. Quem é a infeliz? Quem é a próxima vítima?

Assim que ele diz isso, o espectro de Toni se materializa à minha frente, tão linda, tão sexy e tão palpável que fico tentada a esticar o braço para tocá-la. Em vez disso, limpo a garganta, engato a ré e digo:

— Ninguém. Não estou a fim de ninguém. Mas de uma coisa você pode ter certeza: nunca mais vou pedir sua opinião pra porcaria nenhuma!

Aula de inglês.

Ao entrar na sala, percebo que estou suando frio nas mãos, tão nervosa e aflita quanto James acabou de dizer. E quando vejo Toni conversando com Donna, incluo paranoica a essa lista.

para sempre - choniOnde histórias criam vida. Descubra agora