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Marília havia pegado, naquele dia, 0 carro
emprestado de lucas para levar maiara até sua casa antes de ir para o hospital. O frio já não castigava tanto, afinal estavam quase na primavera, porém ainda se agasalhavam bem.

Ela já tinha o dinheiro para comprar seu
próprio carro, porémo deixava no banco,
rendendo juros enquanto não via que
era algo de extrema importância. Havia
ido viver em uma república anos atrás
justamente para economizar dinheiro,
afinal seu pai lhe mandava o dinheiro para
a despesa de uma casa grande somente para ela, então conseguia juntar bastante por mês.

- Você fica muito bonita dirigindo. - maiara
elogiou, reparando no semblante sério e
concentrado de sua namorada.

- Obrigada. - Marília disse, entrelaçando
seus dedos nos de maiara. Ela andava com
cuidado, em uma velocidade lenta, afinal
Maiara já havia sofrido um acidente de
carro, não precisava de outro.

Sei que é seu aniversário, lila, mas eu
posso te pedir algo? - maiara perguntou,
vendo o carro ser estacionando em frente à Sua casa.

-O que quiser, amor. - Marília disse, se
virando para olhá-la. Maiara desprendeu
seu cinto e mordeu o lábio inferior.

- Me ensina a dirigir? - Pediu empolgada,
reparando a surpresa invadir o rosto de sua namorada.

- Acho que ainda é muito ce..

- De novo isso. -- maiara expressou bufando, aparentando estar chateada.

- Isso o que, mai?

- Nada. - Disse, soltando o ar de seus
pulmões. - Nos falamos mais tarde.

- Não faça isso, mai. - Marília disse rindo.
Sabe que odeio ficar curiosa.

- E que você pode se chatear. - maiara disse, olhando para suas mãos.

- Me dirá depois?- Marília perguntou e
Maiara assentiu.

- Olhe, é a senhora Wilsson. - maiara disse
animada, olhando pelo retrovisor a vizinha da frente varrer sua calçada. - Vou lá dar um oi para ela.

-Eu te acompanho. - Marília disse, soltando
O cinto.

- Não. Você está na sua hora.

- Mas pode vir algum carro e..

- Marília, quando você vai parar com isso?-
Maiara questionou irritada.

- Parar com o quê?- Marília indagou
confusa.

-Com isso de me prender.- Explicou. - Eu
sei que você me ama e sei que faz pelo meu
bem, mas o médico, a psicóloga, a psiquiatra e todo o resto do mundo, inclusive a minha māe, me indicou fazer coisas de pessoas da minha idade.

- Eu só queria te fazer companhia. - Disse,
vendo maiara arquear uma sobrancelha.-
Tudo bem, é só... que você está progredindo muito rápido. Não sei até onde eu posso te deixar...

- Você nāo é a minha mãe para me deixar
fazer algo ou não. - maiara disse irritada e
Marília se espantou. Ela jamais havia visto
sua namorada explodir daquele jeito. - Eu
sei que é seu aniversário e eu não quero que seu dia seja ruim, erntão nós falamos mais tarde.

- Espere... - marília pediu, segurando
suavemente o pulso de maiara quando
viu que a garota iria abrir a porta. - Você
está mesmo chateada comigo por querer
te proteger?-- maiara suspirou e demorou
alguns segundos antes de Ihe fitar.

- Você não me deixa nem atravessar a
rua sozinha, como se eu fosse estúpida o
suficiente para não olhar para os dois lados.

- maiara disse. - Sobre termos relações, eu
entendo, lila, você ainda não acha que
esteja preparada, apesar de eu claramente
demonstrar que sim. - Continuou. - Você
não me deixa fazer nada das pessoas da
minha idade ou não deixa seus amigos
falarem de determinados assuntos quando
estou presente, mas eu andei pensando
muito nisso.

- Andou?

- Sim, andei. - maiara disse. - Tenho
certeza de que minha mãe poderia ter te
dito: "Não quero vocêê perto da minha filha, ela ainda tem a mente de uma criança." Mas ela não disse, lila. Sabe por quê?

- Porque ela confia em mim? - Marília
perguntou confusa.

-Também, mas sobretudo, porque ela
confia em mim. - maiara disse, se inclinando e dando um selinho em marilia antes de abrir a porta. - Eu preciso crescer, Marília, e juro que estou tentando.

Todos estão tentando me ajudar nisso, mas a pessoa mais importante para mim, além da minha mãe, näo está colaborando muito. -- Falou seriamente. - Bom serviço. - maiara disse solenemente antes de fechar a porta e Marília sentiu o desejo de sair do carro e ir consertar as coisas, porém estava em suua hora, por isso ligou o carro.

-Já estou aqui. O que tinha para falar
comigo?-- Ela perguntou a murili, sem
aparente humor.

- E sobre a sua falta de um tempo atrás,
alegando que sua namorada estava doente.

- Ele disse seriamente e Marília bufou, ela
não estava em um bom humor, havia sido
superprotetora com maiara sem sequer
perceber e, o pior de tudo, não havia
reparado que isso magoava sua namorada.
Que péssima namorada ela era, pensava.

- Não sou obrigada a ter cem por cento de
presença.- Marília disse secamente e o
homem sorriu, fazendo Marília enrugar o
rosto em completa confusão.

-Sabe por que impliquei tanto com você?-
Ele perguntou e marilia negou. - Porque eu
me via em você, criança: Sempre dedicada,
sem vida social, fazia horas extras, tirava as melhores notas.

- E por que isso é um problema? - Marília
perguntou com rispidez.

- Porque eu perdi minha mulher e só fui
descobrir nove horas depois, porque não
quis atender o telefone, afinal eu estava
estudando no meu horário de almoço. - Ele
disse com amargura. - Ela estava viva e
eu poderia ter dado um útimo adeus, mas
coloquei o trabalho acima de tudo.- Marília
o fitou surpresa.

- Está dizendo que. só porque com você foi
assim, comigo seria igual? Que meu tratou
igual a um nada por rancor de você mesmo?
- Ela perguntou incrédula, vendo ele
assentir.

- Mas quando me ligou algumas semanas
atrás e mencionou que faltaría por sua
namorada..- Ele disse.- Vi que era
diferente. Eu gostaria de me desculpar com
voce.

- Uau.- marilia disse, sentindo raiva e ao
mesmo tempo dó. - Está tentando se redimir mesmo.

- Estou.-- Ele disse, entregando uma folha
enrolada com um laço vermelho. Marília
pegou com certo receio, mas quando abriu
não pôde crer no que lia.

- Eu não acredito. - Marília disse
boquiaberta, sorrindo logo em seguida.

- Te fiz trabalhar quase o dobro, você está
mais do que apta. - Ele disse sorrindo.
Era uma das poucas vezes que marilão
havia visto sorrir. - Desde aquela ligação
eu conversei com todos da universidade
e do hospital, você se formaria em julho,
hm?-- marilia assentiu. - Bem, adiantei seu
processo, parabéns, você é oficialmente
uma fisioterapeuta.

Marília nem sabia dizer quando foi que
lágrimas haviam começado a descer de seus olhos, mas as podia sentir ali.

- Você pode ir na formatura em julho, junto
com os seus colegas, se quiser. - Ele disse..
E bem-vinda à equipe do hospital. A partir
de hoje você é assalariada.

- Muito.. Obrigada. - Ela disse, vendo seu
certificado com os olhos brilhando.

- Eu consegui isso semana passada, mas vi
na sua ficha que hoje era seu aniversario,
então esperei. - Ele disse suspirando. - Feliz
aniversário. - Disse em um sorriso. - Era só
isso. Ao trabalho, mendonça.

- murilo..- marília o chamou assim que
ele virou as costas.- Você não poderia
prever que sua esposa morreria. Você
não tem culpa. - Ele assentiu e a olhou
desconcertado.

- Obrigada, mendonça, você realmente tem um bom coração.- Ele disse. - Um dia talvez
eu acredite nisso que você disse. - Ele disse
sorrindo tristemente, se virando e saindo
dali.

Marília naquele momento era um turbilhão de sensações. Se sentia mal por ele, feliz demais por ela, com raiva de si mesma por ter magoado maiara e finalmente, arrasada por querer compartilhar algo tão grande
com alguém que provavelmente nåo a
queria ver naquele momento.

Em Um Piscar de olhos....[mailila]Onde histórias criam vida. Descubra agora