Caled pegou a estrada secundária que circulava o terreno da minha tia e me levou para um lugar reservado da floresta que eu não conhecia, de lá eu podia ouvir o barulho da cachoeira, mas não vê-la.
- Onde estamos?
- Mais ou menos no meio da reserva, aqui não seremos importunados.
Eu concordei e larguei minha mochila no banco indo até onde ele estava.
Caled retirou o casaco e o jogou no chão, fez um sinal para mim e me segurou de frente para ele, depois me circulou ficando as minhas costas.
- Agora quero que abra os braços.
Fiz o que ele me pedia, ele deslizou as mãos pelos meus braços e desceu pela minha cintura.
- Consegue sentir isso? Essa energia que minhas mãos emanam quando se aproximam da sua pele?
- Consigo.
- É nisso que quero que se concentre, cada um de nós, demônio, meio demônio, ou até mesmo anjo emana uma energia diferente, é nossa identidade, quase como uma digital, nenhuma é igual à outra, é assim que nos reconhecemos, é assim que aprenderá a se defender dos seus inimigos Alicia, agora feche os olhos.
Novamente eu obedeci, e percebi que ele se afastou, eu já não sentia mais meu corpo formigar, algo tinha mudado, continuei com os olhos fechados e perguntei.
- Onde está? – esperei e ele não respondeu. – Caled?
Dei mais um tempo, mas percebi que ele seguia em silêncio, então abri os olhos e percebi que estava sozinha, olhei para todos os lados o procurando, mas ele tinha sumido, caminhei de um lado a outro, mas nada, demorou um pouco para mim entender, ele queria que eu o procurasse, que sentisse sua presença, sua energia, Deus! Como era difícil, fechei os olhos e inspirei o ar puro, tinha tantos cheiros diferentes ali, só agora eu tinha conseguido perceber, meu olfato estava muito mais apurado, meus ouvidos mais sensíveis, e até meu paladar parecia estar mais atiçado, como se eu pudesse sentir tudo a minha volta, foi quando o reconheci, ele estava há uns 300 metros de mim em meio a floresta, quase não consegui acreditar que eu o tinha mesmo encontrado, corri na direção que meus sentidos me levavam e lá estava ele, parado, me esperando e sorrindo.
- Viu só, você consegue.
Fiquei tão emocionada que me esqueci de que não podia abraça-lo e corri na sua direção circulando meus braços nele, Caled se contorceu de dor.
- Desculpa, fiquei animada.
- Tudo bem, é doloroso, mas suportável.
Ficamos a tarde toda treinando, aprendi a sentir a força do vento, calcular a velocidade que ele vinha, e a sentir cheiros de longe, era engraçado só perceber estas coisas agora.
- Porque eu nunca consegui antes?
- Porque não sabia que era capaz, nós humanos somos manipulados a nos robotizar, ensinados desde pequenos a fazer apenas aquilo que nos ensinam, ou nos "programam" como eu prefiro dizer, não somos treinados para nos superar ou fazer o que está além dos nossos conhecimentos, porque pode ser perigoso ou mortal, ter medo é muito bom nos mantém seguros, porém também cria uma prisão do que podemos ser.
Era quase seis da tarde quando ele me deixou em casa, e eu estava exausta, minhas energias estavam esgotadas.
- Porque estou tão cansada?
- Ativou os seus sentidos e poderes, infelizmente nosso corpo humano nos limita, não somos como Rafael, por exemplo, ele pode fazer isso sem nem ao menos sentir uma fadiga, mas nós, nós nos exaustamos.
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Alicia e o Condenado
RomanceAté onde você seria capaz de ir por amor? Seria capaz de entregar sua alma? De condenar seu corpo as chamas? Seria capaz de morrer por quem ama? As vezes nossas fantasias infantis podem se tornar grandes pesadelos e talvez viver entre os limites do...