43º capítulo

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Caled pegou a estrada secundária que circulava o terreno da minha tia e me levou para um lugar reservado da floresta que eu não conhecia, de lá eu podia ouvir o barulho da cachoeira, mas não vê-la.

- Onde estamos?

- Mais ou menos no meio da reserva, aqui não seremos importunados.

Eu concordei e larguei minha mochila no banco indo até onde ele estava.

Caled retirou o casaco e o jogou no chão, fez um sinal para mim e me segurou de frente para ele, depois me circulou ficando as minhas costas.

- Agora quero que abra os braços.

Fiz o que ele me pedia, ele deslizou as mãos pelos meus braços e desceu pela minha cintura.

- Consegue sentir isso? Essa energia que minhas mãos emanam quando se aproximam da sua pele?

- Consigo.

- É nisso que quero que se concentre, cada um de nós, demônio, meio demônio, ou até mesmo anjo emana uma energia diferente, é nossa identidade, quase como uma digital, nenhuma é igual à outra, é assim que nos reconhecemos, é assim que aprenderá a se defender dos seus inimigos Alicia, agora feche os olhos.

Novamente eu obedeci, e percebi que ele se afastou, eu já não sentia mais meu corpo formigar, algo tinha mudado, continuei com os olhos fechados e perguntei.

- Onde está? – esperei e ele não respondeu. – Caled?

Dei mais um tempo, mas percebi que ele seguia em silêncio, então abri os olhos e percebi que estava sozinha, olhei para todos os lados o procurando, mas ele tinha sumido, caminhei de um lado a outro, mas nada, demorou um pouco para mim entender, ele queria que eu o procurasse, que sentisse sua presença, sua energia, Deus! Como era difícil, fechei os olhos e inspirei o ar puro, tinha tantos cheiros diferentes ali, só agora eu tinha conseguido perceber, meu olfato estava muito mais apurado, meus ouvidos mais sensíveis, e até meu paladar parecia estar mais atiçado, como se eu pudesse sentir tudo a minha volta, foi quando o reconheci, ele estava há uns 300 metros de mim em meio a floresta, quase não consegui acreditar que eu o tinha mesmo encontrado, corri na direção que meus sentidos me levavam e lá estava ele, parado, me esperando e sorrindo.

- Viu só, você consegue.

Fiquei tão emocionada que me esqueci de que não podia abraça-lo e corri na sua direção circulando meus braços nele, Caled se contorceu de dor.

- Desculpa, fiquei animada.

- Tudo bem, é doloroso, mas suportável.

Ficamos a tarde toda treinando, aprendi a sentir a força do vento, calcular a velocidade que ele vinha, e a sentir cheiros de longe, era engraçado só perceber estas coisas agora.

- Porque eu nunca consegui antes?

- Porque não sabia que era capaz, nós humanos somos manipulados a nos robotizar, ensinados desde pequenos a fazer apenas aquilo que nos ensinam, ou nos "programam" como eu prefiro dizer, não somos treinados para nos superar ou fazer o que está além dos nossos conhecimentos, porque pode ser perigoso ou mortal, ter medo é muito bom nos mantém seguros, porém também cria uma prisão do que podemos ser.

Era quase seis da tarde quando ele me deixou em casa, e eu estava exausta, minhas energias estavam esgotadas.

- Porque estou tão cansada?

- Ativou os seus sentidos e poderes, infelizmente nosso corpo humano nos limita, não somos como Rafael, por exemplo, ele pode fazer isso sem nem ao menos sentir uma fadiga, mas nós, nós nos exaustamos.

Alicia e o CondenadoOnde histórias criam vida. Descubra agora