42º capítulo

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No dia seguinte ele estava me esperando para me dar carona, escapei para fora em silêncio para não chamar a atenção de Helena.

- O que faz aqui?

- Vou te levar para a escola, esqueceu-se do combinado?

- Não combinamos nada! Esqueça isso! Helena vai acabar percebendo se vir me buscar todos os dias.

- Na verdade você é que não foi avisada, mas eu e Helena combinamos que eu a levaria para escola de agora em diante, aliás, ela inclusive já saiu para o trabalho.

Eu olhei para a garagem e a vi aberta onde o carro de Helena faltava, fechei os olhos sentindo o nervoso subir, como assim ela tinha combinado algo sem discutir comigo?

- Não faça essa cara, agora deixe de ser tão birrenta e entre no carro, sabe que é muito mais seguro se ficar ao meu lado e a propósito, não marque nada para esta tarde, vou começar a treinar você.

Entrei no carro e fechei a porta colocando o cinto de segurança.

- Como assim me treinar?

- Precisa destravar seus poderes Alicia, se auto conhecer, para pelo menos conseguir se defender, eu não tenho ideia de quanto poder Haziel tem, mas acredito que sendo ele um banido ele não tenha muita força, se você for bem treinada consegue acabar com ele.

- Bom, não foi você que disse que estaria aqui para me proteger? Não precisa me treinar, eu tenho você!

Ele parou o carro e me encarou por alguns segundos.

- Vou proteger você, custe o que custar, porém não sei quanto tempo irá demorar em Haziel atacar novamente, eu o feri, o enfraqueci, mas certamente ele logo se recuperará e virá atrás de você, e eu não sei se eu ainda estarei aqui.

- Como assim?

Ele soltou o ar devagar e coçou os olhos.

- Estou aqui há oito anos Alicia, vim para cá logo depois do acidente porque queria saber mais sobre sua tia e saber se ela pretendia trazê-la para cá ou não, porém confundir as pessoas com a minha idade tem dado muito trabalho e não conseguirei segurar isso por muito mais tempo, preciso me mudar, preciso ir embora, mas não quero deixá-la aqui sabendo que correrá riscos.

Eu fiquei em silêncio tentando processar tudo que ele tinha dito, Caled pretendia ir mesmo embora? Eu não tinha certeza se queria que isso acontecesse, eu não sabia se conseguiria seguir em frente sem ter ele, não queria perdê-lo, ele podia ler em meus olhos que eu tinha ficado mal com aquela informação, porém não questionou, apenas ligou o carro e seguiu em silêncio pelo resto do caminho.

Passei a aula inteira pensando no que Caled tinha me dito, Sophia deve ter percebido que eu estava muito distante, durante o intervalo ela me cutucou por baixo da mesa de refeições.

- Terra chamando Alicia! Aconteceu alguma coisa?

- Não, por quê?

- Está tão calada, falou apenas em monossílabas hoje e estamos quase terminando nosso horário e nem tocou na comida.

Olhei para o meu prato e percebi a comida intocada, nem tinha percebido, porém eu não tinha comido nada, suspirei.

- Caled me trouxe para a escola de novo hoje, porém mais uma vez eu pedi para ele parar uma esquina antes, não queria que Húlia nos enxergasse.

- E?

- Ele falou que vai sair da cidade.

- Como assim sair da cidade?

- Não sei quando será, mas ele acha que logo fará mudança.

- Para onde?

- Não sei, não me falou.

Sophia torceu a boca.

- Isso está tão estranho, porque de ele ir embora agora? Assim sem explicação e para onde ele pretende ir? Agora que vocês dois estavam se acertando!

- Eu não sei o que pensar, sei lá.

- O que você sente por ele Alicia?

Pisquei várias vezes processando aquela pergunta, eu não tinha uma resposta para ela, Caled me fazia sentir todas as sensações possíveis, raiva, ódio, compaixão, medo, desejo, carinho e por fim... Amor, sim era amor que eu sentia, na maior parte do tempo.

- Alicia?

- Acho que gosto dele e na verdade acho que não quero que ele vá embora, quero que fique comigo, quero ter uma chance com ele, sei lá...

Ela arregalou os olhos e tomou vários goles do seu suco.

- Uau, eu realmente esperava um "eu gosto dele", mas não algo assim, é claro que eu já tinha percebido, porém nunca falei nada porque você parecia transparecer que não havia nada.

- E não há! Esse é que é o problema, eu e Caled nunca tivemos nada, nada mesmo Sophi! Nem mesmo um beijo, como pode ser possível?

Ela torceu a boca e deu de ombros.

E o pior eu sabia que nada poderia acontecer, e não era apenas por que eu era um anjo e ele um demônio, mas porque toda vez que a minha pele entrava em contato com a dele ele se feria, como poderíamos ter alguma coisa sem nunca nos tocarmos? 

Assim que as aulas acabaram eu e Sophia saímos na calçada, eu pegaria uma carona com ela se ele não estivesse me esperando, eu podia olhar para os lados e fingir que não era comigo, mas ele veio em minha direção ignorando todas as pessoas que olhavam para nós, segurou minha mão e me arrastou para o carro, vi o queixo de Hulia cair e seus olhos explodirem em um milhão e meio de palavrões, e o pior de tudo, eu gostei daquilo, ele abriu a porta para mim e circulou o carro, entrou em silêncio e partiu.

- O que foi isso?

- Estou quebrando as regras deles, as suas e as minhas também, pode me xingar a vontade, estou acostumado.

Eu sorri empolgada.

- Não vou te xingar! Na verdade eu gostei.

Disse sorrindo.

Ele balançou a cabeça confuso.

- Acho que estou perdido, não queria ser vista comigo e disse que gostou?

- Na verdade é bem empolgante, vamos fazer de novo amanhã?

Caled olhou novamente para ela sem compreender, mas os olhos dela brilhavam de um jeito que ele ainda não tinha visto.

- Estou fazendo mal a você.

Ela voltou a olhá-lo sorridente e então sorriu também, era involuntário não reagir de forma alegre a vendo tão animada.

Alicia e o CondenadoOnde histórias criam vida. Descubra agora