A manhã

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“Preciso falar com você amanhã de manhã. Te encontro na sua casa”
A mensagem de seu chefe brilhava na tela, gelando seu estômago.
O que Uchiha Sasuke poderia querer com ela num sábado de manhã?
A luz do aparelho iluminava parcamente o quarto, enquanto a rosada rolava pela cama, pensando no que ele poderia querer, havia uma duvida, que anteriormente não existia, se fosse talvez um mês ou dois antes ela teria certeza, mais uma vez, de que ele iria demiti-la, que a achava incompetente e outras coisas do tipo, mas agora não era só isso.
Ela sentia o estômago revirar de ansiedade, por ter ele perto, e quem sabe ter o contato que tiveram quando ela sofreu o acidente. Era besteira ela sabia, ele nunca se atrairia por ela, e esse era outro sentimento, o de rejeição, ela tinha certeza de que se ele tivesse algo a dizer era que ele a odiava e que não queria que ela chegasse nem perto dele, ou então vir ele e a ex-noiva, após reatar e humilhar a garota, até que ela fosse reduzida a nada.
A mente de Sakura era uma verdadeira bagunça de medo e insegurança, ela não sabia lidar com o que sentia por ele, tentou de todos os modos vê-lo apenas como seu chefe e um amigo com que ela se abria, se comunicava, nada além disso. Mas seu coração traíra fazia questão de bater mais forte quando ele estava por perto, fazendo seus sentidos entrarem em colapso, o cheiro forte de perfume e creme de barbear, fazia suas mãos suarem frio, sua visão embaçava, e o máximo que ela conseguia pensar era em se enfiar embaixo da mesa, mas claro seu bom senso não deixava, e para equilibrar essa balança tinha Karin, que servia como desculpa para que os dois não almoçarem juntos e o café da manhã fosse mais curto, e com a ruiva falando pelos cotovelos. O problema era que Karin tinha o péssimo hábito de a provocar e dizia que o Uchiha era caidinho por ela, um absurdo, alguém como ele nunca se interessaria por ela.
Sakura se achava feia e sem graças demais para alguém como ele. Rico, poderoso e que com certeza tinha quantas mulheres quisesse em sua vida, ou sua cama… outro assunto que a deixava vermelha e sem ar. Pensar em qualquer tipo de relação carnal com ele, nem mesmo um beijo ela conseguia imaginar, mas havia algum tipo de diabinho que habitava o cérebro dela, um que agia do nada absolutamente e que a fazia imaginar coisas que ele poderia fazer com ela, que a deixava quente, molhada.
– Porcaria, eu preciso dormir. – Ela resmungou deitada em sua cama. Já tinha tomado um chá de camomila para relaxar, mas a mensagem de seu chefe tirou completamente o sono de Sakura, que apenas rolava pela cama. Pensou em mandar mensagem para qualquer uma das amigas, mas era muito tarde, o horário de seu telefone marcava 1h30, fazia mais de três horas que ele havia mandado a mensagem e ela não conseguiu nem mesmo responder, apenas encarava esperando que algo extraordinário acontecesse. Mas obviamente nada aconteceu, após as 3h da manhã ela dormiu, um sono inquieto, que vagava entre um sonho e um pesadelo, um que seu chefe a beijava e que depois a humilhava com a ex à tira colo.
Contudo o som de sua campainha a tirou de um sonho bizarro e irritantemente bom, que a fazia lembrar da cena da série que havia assistido naquela noite, porém os protagonistas eram ela e o chefe, se pegando em cima de uma mesa enorme.
– Dias pares – bufou acordando irritada, pegando um roupão azul pastel no cabideiro de seu quarto, estava realmente de mau humor, sua noite havia sido horrível e tinha alguém no portão, tocando a campainha as sete horas da manhã de um sábado. Sakura geralmente era calma, mas hoje ela não sabia se conseguiria ser gentil com a pessoa que estava no portão, calçou os chinelos na soleira da porta sem prestar atenção no portão que era totalmente fechado.
Ia começar a despejar um verdadeiro discurso grosseiro quando abriu o portão de visitas e deu de cara com Sasuke.
Todas as ofensas que ia soltar em cima da pessoa ficaram presas em sua garganta, a engasgando, sufocando, pensou na roupa que usava, no quanto seu cabelo deveria estar despenteado e que nem mesmo havia lavado o rosto ou escovado os dentes, os óculos colocados de qualquer maneira. Seu rosto começou a queimar quando Sasuke a encarou de cima abaixo, o chinelo de coelhinho, o pijama rosa, o roupão, a cara, o cabelo tudo. Ela iria desmaiar ali mesmo, não ia ter jeito e por fim talvez fosse o melhor a acontecer, pelo menos não teria o olhar dele a queimando e os lábios comprimidos contendo uma risada.
– B-bom dia… – Com muito custo as palavras sairam de sua boca, um misto de vergonha e uma pontinha de irritação, no fundo ela queria gritar com ele, questionar aquela mensagem e a presença dele, mas nada disso saiu, ainda mais que ele parecia tão descontraído sem terno, sem gravata, sem parecer seu chefe, mas sendo seu chefe. Demorou um pouco até ela perceber que ele carregava uma caixa de papelão cheia de furinhos. – E-entre por favor. – pediu sentindo seu rosto queimar, querendo que fosse apenas ele a ver ela daquela forma, os vizinhos não precisavam disso.
– Eu só vim te trazer … – olhou para a caixa pequena, que agora ela dava alguma atenção.
– Abre aqui na sala. Para não quebrar… – quando ela ia abrindo a porta de sua casa para que eles entrassem um ganido baixo e leve a fez olhar para trás. Ela o encarou confusa e havia um sorriso sincero nos lábios de Sasuke, um brilho estranho, diferente.
– Eu ia pedir um favor para você, mas a pequena fofoqueira me denunciou. – Ele sorriu parecendo culpado.
– Isso… é… – ela abriu a caixa devagar. Suas mãos estavam trêmulas e sua boca estava entreaberta. – Isso… – era tão pequena que não dava o tamanho da mão de Sasuke, seu focinho tinha uma pelagem de cor amarelada e os pelos do topo de sua cabeça eram pretos, uma mistura fofa de castanho claro com preto, as patinhas mínimas faziam Sakura quase chorar de tão fofa. O homem colocou ela no chão e a pequena tropeçava nas proprias patinhas.
– É ela, não dei um nome ainda. Eu… hum… ganhei ela da minha mãe, mas eu não … você sabe… pelo menos por enquanto… você poderia?
– Você está me pedindo para cuidar dela para você? – Sakura perguntou, sentindo a boca secar, a voz levemente embargada.
– Sim, eu … eu não tenho condições de cuidar de um cachorro. – A pequena se aproximou de Sakura, cheirando sua mão tremula, deixou que se aproximasse e a conhecesse, não demorando muito até que a rosada pegasse a bolinha de pelos.
– Eu não sei o que dizer. – ela estava lutando muito para não começar a chorar ali, na frente dele, se ela começasse ela não sabia se conseguiria parar, e ele iria se assustar, mas dessa vez não iria ter um motivo ruim, o motivo era até nobre demais.
– Só prometa que vai cuidar dela com muito carinho. Minha mãe é uma mãe de pet muito exigente.
– Eu… vou… Cuidar com todo amor possível. – Sasuke não imaginou que a reação dela seria tão profunda assim.
– Haruno? – perguntou quando percebeu que ela olhava para o animalzinho em sua mão e lágrimas rolavam por seu rosto.
– Tá tudo bem… – disse para que ele ficasse tranquilo. – É que eu nunca pude ter um bichinho. – Ela respondeu e o Uchiha sentiu a dor em seu tom de voz. Pensou em perguntar o porquê, mas achou invasivo de sua parte e que apenas pioraria a situação dela.
– Mas ela é minha… – ele brincou tentando dissipar aquela tensão. – Eu vou querer ela de volta, quando eu estiver sem trabalho.
– Então ela vai morar comigo para sempre – Sakura sorriu.
– Eu trouxe algumas coisa… Já volto. – Ele caminhou até o carro e voltou com outra caixa com uma cama pequena, bem parecida com a de Lily, porém um pouco menor, dois brinquedinhos de borracha, um saco de ração, dois potes para água e comida e uma coleira com guia. – Acho que isso já é um começo. – ela afirmou com a cabeça, e agora Sasuke havia notado o brilho no olhar dela, um sorriso bobo em seu rosto, enquanto brincava com a pequena que mordia seu dedo.
Ele queria gravar aquela cena na cabeça, como a personificação de algo bom, de felicidade, em uma foto antiga, em que um pai presenteia um filho com um filhote deram o nome de “Instantes antes da felicidade” e era exatamente isso, a diferença ali é que era o momento da felicidade, da alegria, e Sasuke sentia uma vontade imensa de morar naquela memoria para sempre.
– Eu vou indo, vou  deixar ela conhecer sua casa e se acostumar…
– Não! – A Haruno percebeu tarde demais que foi muito enfática em sua negativa. – Entra, toma um café comigo, por favor. Acho que é o mínimo que eu posso fazer.
– Você não precisa…
– Eu insisto, Uchiha-san. – os olhos verdes que a muito não o encaravam pareciam brilhantes, diferentes, atrativos. Não conseguiu simplesmente se despedir e ir embora.
– Tudo bem. Eu aceito seu café. E mais uma vez, pare de me chamar de Uchiha-san.
– Desculpe, Uchiha-san. Não posso. – Ele fungou, rindo do jeito dela enquanto abria a porta da casa a qual Sasuke já havia ido e gostou, lhe fazia sorrir, pois aquele lugar parecia um lar, um refugio. Se pegou imaginando indo para um lugar como aquele depois de um longo dia de trabalho.
– Já escolheu o nome? – perguntou enquanto fechava a porta atrás de si, Sakura segurava a pequena em suas mãos olhando para ela, que parecia ansiosa para descer no chão, com certeza morder os moveis da Haruno.
– Eevee… – respondeu enquanto deixava o animalzinho cheirar a casa toda.
– Eevee? Que diabos é isso?
– É um Pokemon, bem fofo assim como ela. – ele sorriu ao lembrar que ela reconheceu o bichinho de seu chaveiro. – E foi você quem me deu também. – Notou as bochechas vermelhas dela enquanto entrava na cozinha e pegava um bule pequeno, que Sasuke já havia visto na internet, chamavam de cafeteira italina.
Agora que ele estava sentado na mesa da cozinha, percebeu que ele deve ter interrompido o sono de sua Assistente, tudo porque ele se sentiu ansioso demais e quase não conseguiu dormir, tanto pela ansiedade de ver a reação dela quanto por a pequena Eevee ter chorado a maior parte da noite. Ele não contava que ela choraria, eram quase duas da manha quando ela começou a ganir baixinho, na cozinha onde Sasuke havia feito uma caminha especialmente para ela, ligou para sua mãe e ela explicou que era normal, ela estava sentindo falta de seus irmão e o Uchiha se sentiu mal de ter separado ela dos irmãos e da mãe, se sentiu um sequestrador.
Foi até ela abriu a porta e deixou ela livre pela sala, temendo por seus móveis, mas se ela ficasse quietinha já seria um ponto positivo. O que obviamente não aconteceu, ela percebeu onde ele entrou e chorou quase uma hora inteira na porta dele e mesmo que Sasuke tivesse sono ele não conseguiria dormir. E após receber uma reclamação de seu síndico ele não teve escolha a não ser abrir a porta de seu quarto. Segundo sua mãe, ela ficaria calma se estivesse no mesmo ambiente que ele. Ajeitou uma caminha improvisada em seu quarto e deitou, fechando os olhos, tentando dormir em vão, pois algo batia em sua cama e caia chorando no chão, o rapaz suspirou fundo, prometendo que não faria isso, mas quando viu a bolinha de pelos o encarar, iluminada apenas pela luz do abajur sentiu-se mais culpado. Ele havia tirado ela de seus familiares.
– Vem – estendeu a mão e ela subiu, tão pequena e leve que parecia uma pelúcia.
não demorou muito e ela se aninhou nos pés dele sobre a coberta. – Eu mereço esse projeto de Chewbacca… – E dormiram os dois na mesma cama, o que fez Sasuke pensar pela manhã que havia acertado em cheio em seu presente.

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