- Cadê a Rosinha?- ela sussurrou passando os olhos pela sala. - Já foi? - viu Alexandre assentir enquanto se aproximava do sofá com um grande balde de pipoca em seus braços.- Foi ver os netos e os filhos em Piedade. Você e eu estamos com ele, não há necessidade de deixá-la enfurnada aqui. - ele colocou o pote sobre a mesa de centro, vendo Amora se contorcer para conseguir pegar um pouco. - Ela mandou um beijo para você, não queria vir aqui e correr o risco de acorda-lo. - apontou com o queixo na direção dela. - Ele não dormiu direito na noite passada.
- A única coisa que passa pela minha cabeça é que se Giovanna sequer imaginar que você dispensa ela algumas vezes na semana enquanto estão aqui... - seus olhos deixaram de encara-lo para admirar a figura adormecida de Pedro que respirava fundo, agarrado à seu colo. - Não gosto nem de pensar.
- Ela não faria nada, Amora! - Giovanna poderia ser assustadora quando contrariada mas naquela situação não poderia tomar nenhuma atitude drástica, estava lado a lado com a lei assim como ele também, porém, era a justiça que decidiria qualquer coisa. - Ela não pode, temos guarda compartilhada. Sou o pai e tenho tantos direitos quanto ela.
- Você sabe que ela só ainda manda a Rosa para poder vigiá-lo, não sabe? - o fuzilou com seus olhos. - Um vacilo teu e óh... - ela encenou passando a mão livre como uma faca pelo pescoço.
- Acha que eu não sei que ela enche a coitada de perguntas quando voltam pra lá? Sempre que vou sair com ele, eu aviso à Rosa caso não esteja perto, sempre! Porque eu sei que Giovanna vai perguntar, questionar... que merda. - ele finalmente se sentou ao lado deles, passando ferozmente as mãos por todo o seu rosto. - Odeio isso.
- Eu sei que sim, Nero... - sentiu a cabeça da amiga descansar em seu ombro. - Sei que não é nada fácil para você... e nem para esse garotinho aqui. - Amora era como uma irmã, era uma das pessoas mais importantes em sua vida.
- Tenho tanto de medo de prejudicá-lo... juro que tento, Amora... eu tento lidar com tudo isso da melhor forma possível.
- E o tempo passou para vocês dois, Nero... o problema é que você ainda se culpa e tenta se punir, você percebe isso? - ela não estava errada. Seus pensamentos eram insuportáveis de aguentar, ainda amava sua história, seu passado... era difícil acordar e ver o quanto sua vida tinha mudado, mesmo depois de tanto tempo. - Você e ela ficaram presos nesse limbo, fingem que estão bem, quando na verdade vocês só estão guardando todo esse peso que só cresce cada vez mais...precisam deixar isso ir, de verdade...
- Aquelas sessões de terapia só serviram pra comer o meu dinheiro... - Amora estava pronta para rebatê-lo. Ele nem havia sequer terminado. - Antes que você berre comigo, só ia dizer que, bom, você daria uma ótima psicóloga. Poderia ter investido em você, doutora Mautner. - precisava mudar o clima daquela conversa e parece que havia o feito com sucesso, a expressão da amiga suavizou, o fazendo quase gargalhar.
- Eu não iria berrar, não com ele aqui dormindo tão bonitinho. - Ela abaixou seu pescoço um pouco apenas para dar um beijo no topo da cabeça do menino que estava com o rosto enfiado em seus cabelos loiros. - Não me canso desse cheirinho, coisinha mais preciosa... - ela o viu se inclinar até a mesinha tentando pegar o celular que havia começado a vibrar incessantemente. - O que foi?
- Karen... - respondeu com um breve suspiro. - Ela está querendo nos ver hoje... Disse que quer conhecê-lo.
- Você não quer?

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Us Again
FanfictionToda separação é triste. Ela guarda memória de tempos felizes (ou de tempos que poderiam ter sido felizes...) e nela mora a saudade. - Rubem Alves