Capítulo 5

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Lola

Encarei meu antigo quarto e suspirei.

A decoração dele tinha mudado ao longo dos anos, mas as paredes ainda eram rosas, como na minha infância. As paredes estavam decoradas com medalhas e fotos da minha família e das competições. As prateleiras tinham alguns livros e troféus.

Era o quarto de uma adolescente.

Pelo menos a cama de casal era boa.

Coloquei minha mala no canto, ao lado das milhares de caixas que eu teria que desempacotar e fui para a janela, tendo a vista da rua. Era um bairro bom e tranquilo. Sempre sonhei em construir uma família nesse lugar, perto dos meus pais.

Sonho estúpido.

Mamãe me chamou da cozinha e eu saí do quarto, indo para o corredor. Meu pai estava com ela na cozinha, em suas costas. Mamãe estava rindo de algo que ele disse.

Ele estava certo quando disse que foi difícil para eu aceitar a traição dele.

Desde criança, os dois sempre foram meu maior exemplo. Quando eu pensava no amor, era como eles que eu queria ser. E descobrir aquilo destruiu meu mundo encantado.

Mas eu já era uma adulta agora e tinha superado.

Pelo menos, tinha superado a maior parte.

— Vocês se lembram que eu estou em casa? – falei, entrando na cozinha e indo me sentar na bancada. Meu pai riu.

— Você não mudou nada. Continua uma merdinha implicante. – ele disse e eu mostrei minha língua a ele. Minha mãe bateu na mão dele e meu pai fez uma careta. — Por que eu apanhei?

— Porque eu sou a filha. – fui eu que respondi, pegando um pedaço do bolo que minha mãe tinha feito e deixado na bancada. Chocolate, o meu favorito.

— Gostaria de lembrar que eu tive uma participação no seu nascimento. – meu pai disse e eu revirei os olhos. — Você vai começar o trabalho quando?

— Na próxima semana. Eu ainda tenho que organizar algumas coisas antes de começar e eu preciso me inteirar sobre o time com a técnica Amaro. – respondi. Minha mãe tinha me dado uma mãozinha nesse emprego, então eu tinha algum tempo antes de ter que voltar aquela escola e a viver nessa cidade outra vez.

— Já conseguiu falar com ela? – foi minha mãe quem me perguntou. Eu tinha conseguido o número da técnica Amaro e enviado algumas mensagens, tentando marcar de encontrá-la. Mas ainda não tinha nenhuma resposta.

— Nada. Estou pensando em ir até a casa dela. Ela ainda mora no mesmo endereço?

— Sim, você sabe que ela odeia mudanças.

— É, eu me lembro bem disso.

— Você vai gostar das meninas. – minha mãe disse e eu suspirei. Eu duvidava. Eu conhecia muito bem a forma como uma adolescente que cresceu nessa cidade e foi treinada pela Amado pensava. E eu garantia que obediência não era algo que elas iriam se importar.

Ser uma merdinha irritante era algo que todas as adolescentes eram. Principalmente as dessa cidade.

Eu sabia por experiência própria.

E eu teria que ser aquela a lidar com isso.

Agora, eu me compadecia da técnica Amaro.

Uma pena que isso não me aliviaria em nada nesse emprego. Voltar para cá foi a melhor decisão que eu podia tomar naquele momento, mas certamente não foi a mais inteligente.

A gargalhada do meu pai chamou minha atenção. Ele estava me encarando.

— Agora você vai entender a razão de eu ter começado a ter cabelo branco quando você fez quatorze anos. – ele debochou e eu pensei em atirar um prato nele, mas acho que isso me tornaria uma filha ruim. — Reze para nenhuma delas serem como você.

As Batidas Do Seu Coração (The Heartbreakers #4)Onde histórias criam vida. Descubra agora