A mudança é uma inquilina indesejada.
E a gente descobre muito cedo que, apesar de ser aparentemente ruim, a mudança é um elemento que está intrínseco à vida. Faz parte do estar vivo e é inevitável, assim como a morte.
Ah, a morte é a mudança mais indesejada de todas.
Mas, comecemos nossa história com era uma vez.
Era uma vez uma menina que há muito havia perdido tudo. Tudo o que é importante de fato. E depois desse episódio, um véu invisível foi removido dos olhos da menina, e ela passou a ter uma diferente perspectiva sobre o tudo. Sobre a totalidade das coisas, da vida. Com seu olhar nu, passou a admirar-se da capacidade de mutação da vida ao nosso redor. De como piscamos, e o mundo que a gente conhece se transforma em algo completamente novo e estranho. Sempre volátil. Inconstante. Ela obseravara com admiração e tamanho assombro que entre uma batida e outra de seu coração, a vida que ela conhecia escapara de seus dedos. A essência de seu tudo se tornara algo insólito.
O dia da morte de Olívia, com toda a certeza, foi o evento que mudou a sua vida, definitivamente. Acontece que não foi o coração dela que parou de bater naquele dia.
E de todas as mudanças, a morte foi também o que deu início a uma vida que ela nem imaginava ser possível de ser vivida. Nada extraordinário, na verdade, mas capaz de a trazer de volta e alegrar sua vida ordinária demais. Uma aquarela colorida tingindo a tela branca de sua existência. Como um conto de fadas pessoal, onde tudo se torna possível.
Mas nem todo conto de fadas termina com final feliz.
Algumas histórias, sobretudo as de amor, simplesmente não têm final feliz. Os sinais do fim iminente sempre estarão lá se você prestar atenção. E seu fim pode estar nos lugares mais inimagináveis: em uma vírgula, em uma canção inacabada, no meio fio de uma ponte antiga de uma cidade quase esquecida no mapa... porque algumas histórias de amor simplesmente não deviam acontecer. E isso é tudo.
Podemos recapitular essa primeira parte, acredito. Que tal o que vem antes do início?