VIII

3 1 0
                                    

-Eu sei o que estava pensando em fazer naquela ponte.

-E pode me culpar?

-Eu jamais... no meu aniversário de 16 anos eu roubei a chave da minha casa antiga. Dirigi por 3 horas até lá sozinha. Eu não tinha um plano formado na minha cabeça, mas para mim não fazia sentido continuar... vivendo. Cada dia era pior que o outro. Levei uma corda e pensei que seria... fácil... acabar com a dor.

De repente havia ficado difícil respirar. O ar se tornou espesso e pesado. Ethan apenas encarou a menina, imóvel, esperando. Os olhos de Olívia estavam fixos em uma pedra.

-E eu fiz o que você está pensando. Teria terminado, acabado com tudo. No começo foi... senti alívio. Durou 5 segundos. A dor que veio em seguida podia ter partido meus ossos. Havia escuridão e frio... Por sorte... - as palavras abandonaram sua fala. Olívia suspirou, afastando aqueles pensamentos - Eu não lembro o que aconteceu depois. Mas meu pescoço ficou machucado por 1 semana. Nunca mais pensei em tirar minha própria vida, e tenho vivido com isso e com todas as outras coisas. Eu jamais te julgaria, Murray - disse, finalmente erguendo os olhos e encontrando os de Ethan -Não vim te julgar, eu jamais faria isso. Vim porque um dia alguém achou que minha vida valia a pena quando eu não conseguia achar isso, e essa pessoa me impediu de cometer uma besteira. E eu acho... acho que a sua vida vale a pena também.

Eles não falaram nada pelo que pareceu uma eternidade, apenas ali, se olhando. Respirando.

Foi Ethan quem quebrou o silêncio.

-Então... o experimento social? - falou, buscando desesperadamente um assunto mais leve.

-Baseado na Teoria da Azeitona.

Ethan sorriu.

-Continue.

-Você sabe... Todo casal, segundo essa teoria, teria que ter um equilíbrio que seria um gostar muito de uma coisa e o outro odiar muito essa mesma coisa.

-Tá bom. Então digamos que, hipoteticamente, eu ame azeitona e você odeie, isso nos torna o casal perfeito? Está assistindo a seriados demais - brincou.

-Na verdade, o experimento seria desmentir a teoria.

-Eu faço isso para você agora, desminto sua teoria.

Foi a vez de Olívia sorrir. Ela esperou ele formular sua resposta. Ethan começou:

-Não é sobre gostar de azeitona ou não, ou ser um o complemento do outro. É sobre ser completos juntos. Sobre transbordar. A teoria da azeitona é falha porque faz a pessoa achar que o vazio que ela sente pode ser substituído por alguém. Quando na verdade, esse vazio só pode ser preenchido por você mesmo. As pessoas são falhas. Elas vêm e vão. Se você usar alguém como muleta, quando essa pessoa falhar, e ela vai, você vai sofrer.

-Justo. Você tem um bom ponto.

-Precisamos pensar em outra coisa para fazer esse experimento funcionar, então - Ethan a encarou.

-Sim - disse ela, sustentando o olhar dele.

-Tem alguma ideia?

-Eu adoraria ir passear com Sammy. Poderíamos pensar em ideias juntos - respondeu - Não eu e Sammy, eu e você - acrescentou rapidamente.

-Combinado - o garoto riu.

Mais 1 minuto apenas encarando Ethan se passou.

-Sinto muito pelo seu avô.

-Está com pena? - retrucou ele, afetado.

-Não. Sei o que esse tipo de perda faz com a gente.

Ethan não ousou tirar os olhos dos de Olívia.

-Ele não era uma muleta, se é o que está pensando.

-Não era nem um pouco o que eu estava pensando.

Ethan respirou fundo uma, duas vezes, antes de continuar.

-Eu sinto que eu é quem deveria ter sido, e não fui. Deveria ter sido a muleta. Eu é quem deveria ter estado lá. Foi ele quem caiu.

-Não foi culpa sua.

Silêncio mais uma vez. Eles estavam ficando bons nessa coisa de não falar. Então ela continuou:

-Os médicos disseram... disseram que ele já estava doente há um tempo. Não havia nada que você ou eles pudessem fazer.

-Eu não fazia ideia.

-Não tinha como você saber.

Ethan pigarreou, dando as costas à Olívia para absorver mais daquele lugar, querendo mudar de assunto.

A menina apenas o observou, ainda parada. Esperava que ele falasse alguma coisa, mas Ethan estava perdido demais na sua própria mente.

Olivia estava prestes a quebrar aquele silêncio ensurdecedor quando ouviu a voz rouca de Ethan irromper de sua boca.

-Preciso ir, Olívia.

Ela acenou levemente com a cabeça. Ethan andou devagar até ela e parou na sua frente.

-Obrigado por hoje. Por falar sobre uma experiência tão... Obrigado por confiar isso a mim. Foi muito importante.

Olivia sorriu, tímida.

-Quando nos vemos, então?

-Fácil. É só me ligar e eu irei, MacMillan.

-Combinado, Ethan Murray.

CONTOS DE GAVETA [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora