A tarde ensolarada de outono estava tranquila a brisa soprava suave arrastava as folhas secas pelo gramado do parque. O sol brilhava forte acima deles e seus raios tingiam o céu em uma paleta de tons alaranjados.
Ethan era puxado pela guia por um Sammy afobado, que latia incessante e alegremente para os esquilos e folhas que pairavam ao seu redor.
Olívia, Ethan descobriu com o passar dos dias, era a maior tagarela. E eles conversavam sobre tudo. E discordavam sobre tudo também. Ela era divertida e linda. Sua mente era brilhante e seu senso de humor...
Ele estava extasiado. Quanto mais os dias passavam, mas ele queria conhecê-la. E quanto mais conhecia, mais próximo ele queria estar.
Eles estabeleceram uma rotina a qual cumpriam fielmente.
Ethan ia assistir seus ensaios de violino religiosamente e ela sempre passava na sua casa para ver Sammy.
E o experimento social...
Aquilo era muito melhor.
Ao chegar na árvore preferida de Olívia, ele apenas a observou, como sempre fazia desde que passaram aí ao parque. Era um ritual, como ele gostava de dizer. Olívia tirava as sandálias para sentir a grama morna, fechava os olhos e suspirava fundo. Então ela sorria e abria os lentamente ponto e quando fazia, seu olhar era tão brilhante que também perdia o fôlego.
—Sabe o que eu acho? — Olívia falou ao sentar-se na grama ao lado de Sammy e acariciar a cabeça do cachorro. Ethan esperou continuar, apreciando a simplicidade daquele gesto — As pessoas esperam que nossa geração mova montanhas, que com os avanços da humanidade nossa vida é mais fácil. Mas a verdade é que, com ou sem tecnologia, estamos mais perdidos que nunca. Não é Sammy? — brincou ela com o animal, que latiu como em resposta à Olívia. Ela sorriu e acariciou a cabeça de Sammy mais uma vez.
—É uma observação interessante.
—É um fato. Vejo isso nos meus tios, nos professores... As pessoas mais... maduras, elas simplesmente não entendem. Ou não querem entender.
—De fato, é um fato absurdamente interessante.
—Sou cheia deles, se quer saber.
—Sou todo ouvidos, senhorita. Por favor, agracie meus ouvidos com seus fatos — respondeu Ethan em tom solene, brincalhão.
—Tudo bem. Esse fato é ótimo: se eu pudesse ser qualquer coisa, seria uma fada e estaria num campo florido nesse exato momento, dançando em círculos na chuva depois de construir minha casa de madeira perto de um riacho.
Ethan conteve a risada e fechou os olhos. Não era uma cena difícil de se imaginar.
—O que você seria?
Ele manteve os olhos fechados, mas respondeu:
—Se eu pudesse ser qualquer coisa, eu seria eu mesmo e estaria aqui ou em qualquer outro lugar do mundo com você.
Ethan abriu os olhos e viu que Olívia o encarava.
—Se faz diferença, você estaria dançando na chuva comigo, Ethan Murray.
Ele sorriu e acariciou a cabeça de Sammy que havia cochilado entre os dois. Sua mão encostou levemente na de Olívia, levando-a a corar.
Eles permaneceram ali absorvendo os últimos raios de sol se despediram daquele dia e até eles mesmos precisaram se despedir. Ethan, como um perfeito cavalheiro, acompanhou a Olívia até em casa, que ficou extremamente calada durante todo o trajeto.
Não era o tipo do silêncio que deixava desconfortável. Era o tipo de silêncio que dizia coisas que não precisavam ser ditas.
—Tem um lugar que quero que conheça — disse Ethan ao se aproximarem da fachada da mansão.
—Sim, senhor.
—Te busco amanhã.
***
—E esse... é o lugar que te falei — disse Ethan com um sorriso ao afastar as mãos que usava para cobrir os olhos de Olívia.
O lugar era parecido com uma praça. Mas no alto de um prédio na cidade.
Talvez aquele fosse um dos lugares mais bonitos que Olívia já tivera a sorte de ter visto na vida.
Havia bancos esculpidos numa madeira rústica marrom-acinzentada que rodeavam um chafariz médio no meio do lugar, onde um cupido jorrava água pela boca. Ainda, os vasos de cerâmica chinesa que abrigavam cerejeiras de médio e pequeno porte davam ao lugar uma imagem geralmente vista em contos de fadas.
Lá de cima era possível ver toda a cidade onde eles moravam.
As ruas adornadas de árvores altas com folhas verdejantes. Crianças no parque empinando pipas coloridas ou tomando sorvete. O imenso sol, se pondo no horizonte. A ponte Sheffield.
—Então... o que achou?
—É o lugar mais lindo que eu já vi —ela respondeu — Como descobriu esse lugar?
—Você não é a única que tem lugares bonitinhos escondidos nas mangas — ralhou, fazendo-a abrir um sorriso —Mas, respondendo sua pergunta, foi logo depois que eu me mudei para a cidade.
—Quando veio morar com seu avô? — disse, a voz, um fiapo de um sussurro.
—Sim, senhorita. Tínhamos uma dinâmica... interessante.
—Ah, eu tenho um vasto conhecimento sobre dinâmicas familiares — respondeu Olívia.
—Então... — disse balançando a cabeça, como se o ato pudesse afastar pensamentos, mudando de assunto. Falar sobre o avô ainda o deixava... ele não sabia como falar do velho Murray o deixava, porque evitava pensar e falar sobre isso. E no geral, ocupava seus dias fazendo mil coisas apenas para manter afastados tais pensamentos.
—O que temos para hoje, Murray?
—O que é melhor para um encontro do que um piquenique noturno? — o olhar de Ethan transbordava confiança e seu sorriso era um misto de malícia e determinação implacáveis.
—Eu não sabia que isso era um encontro — Olívia respondeu sorrindo.
—Acho que é melhor ir se acostumando — disse, se aproximando e puxando-a pela cintura, deixando-os a poucos centímetros de distância.
Fazia muito, muito tempo que Ethan queria fazer aquilo. Encurtar distâncias. Ele podia ouvir o som de seu coração tamborilando dentro do peito e senti o de Olívia no mesmo ritmo frenético. Ela fitou seus olhos e ele se perdeu naquele mar de verde. Olívia sorriu e ele quase caiu de joelhos diante da garota que fazia seu coração sorrir.
—Onde isso nos deixa, Ethan Murray? — ela quis saber.
—No lugar certo, MacMillan. Nos deixa no lugar certo.
Ethan encurtou ainda mais a distância e a beijou.