XII

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Ethan foi pontual. Chegou em frente à mansão dos Murray, estacionou a moto preta no meio fio e sacou o celular para avisar que já estava ali. Olívia apareceu na frente da casa minutos depois. Ao vê-lo parado ali com o típico sorriso ladino e jaqueta de couro, a menina se permitiu rir também.

O fim da tarde estava quente. Olívia usava um macacão jeans curto e os tênis de sempre. E essa simplicidade encantadora foi o suficiente para deixar o garoto paralisado vendo-a se aproximar.

—Oi — ela disse, finalmente perto.

—Oi — Ethan respondeu, olhando-a fixamente –Você... está linda.

Olívia ficou sem palavras pelo que pareceram horas. Os olhos de Ethan fixos nos dela tiravam completamente sua capacidade de pensar coisas lógicas. Mas, com muito esforço, ela conseguiu se desvencilhar daquele transe.

—Eu sei, bonitão — brincou — E você vai ficar me elogiando ou nós vamos sair?

Ethan sorriu e estendeu um capacete cor de rosa para Olívia, que logo fez uma careta esquisita, recusando o objeto.

—Não sei se gosto da ideia de usar um capacete que não combina com minha roupa. Não é nada MacMillan perfeitinha da minha parte, não concorda? — brincou.

—Engraçadinha... — respirou fundo — O capacete só uma coisa indispensável para proteger essa sua cabecinha linda. Você vai continuar sendo MacMillan perfeitinha para as outras pessoas, eu prometo. Até mais.

Olívia sorriu.

—Tá bem, tá bem... Você ganhou. Eu uso essa proteção horrorosa de formiga atômica, tudo pelo entretenimento — pôs o capacete e subiu na moto, passando os braços ao redor de Ethan — Ué, ainda estamos parados por quê? Vai, vamos nessa!

Segundos depois, a moto estava pegando velocidade. O vento úmido daquele fim de tarde quente fazia os fios de cabelo de Olívia voarem, levando consigo os problemas para bem longe e também fazia Ethan esquecer os próprios.

Aquele seria um encontro memorável.

***

Eles foram a um lugar que Olívia desconhecia até então. Mas isso era de se esperar, já que os únicos lugares que ela frequentava eram a escola, o velho café e a própria casa. O lugar ficava um pouco afastado da cidade, subindo uma colina verde. Era um restaurante que também funcionava como hotel, e era semelhante a uma galeria de arte a céu aberto.

Haviam ali esculturas e quadros exuberantes expostos nos recantos, entre as mesas e nas poucas paredes ornamentadas com madeiras rústicas bem trabalhadas. E toda aquela paisagem em contraste com o brilho alaranjado do pôr do sol na colina e as luzinhas entre as mesas tornava o ambiente à obra de arte mais bela daquele lugar.

Ethan guiou Olívia até a mesa reservada para eles e até puxou a cadeira para a menina sentar-se, como um perfeito cavalheiro.

Foi nesse momento que ela percebeu que aquele Ethan era, na verdade, melhor que o Ethan do seu sonho.

Eles comeram e conversaram, e conversaram mais. Não havia lugar mais seguro para seu coração do que aquele. Do que ao lado de Ethan.

***

Estar apaixonado.

Não existe uma definição perfeita para esse sentimento. Uns dizem que é atração, ou admiração, outros a entendem como um querer mais que querer bem; para outros, a paixão é um estado de desequilíbrio emocional, veja só!

Platão, por exemplo, alega que a paixão é o desejo de vislumbrar algo que não consiste na realidade essencial, ou seja, contentar-se em viver com um ideal imaginário.

A verdade é que não era a primeira vez que Olívia pensava naquilo. Pensava com mais frequência do que queria admitir, para ser sincera consigo mesma.

De uma hora para a outra tudo se tornou complexo demais. Entende?

Era uma bolha confortável de se estar, o fato de pensar em alguém que até então só existia em seus sonhos e pensamentos. Mas Ethan era real. Real e muito melhor que nos seus sonhos. Esse fato pôs tudo de cabeça para baixo e sua bolha confortável e quentinha foi espetada por um alfinete que insistia em cutucá-la com aquela palavra, antes, sem significado algum para ela.

Apaixonada.

A P A I X O N A D A.

CONTOS DE GAVETA [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora