Prólogo | O mito do túnel

555 55 26
                                    

ÀS VEZES, SER o melhor amigo de Intak era um castigo. Taeyang se perguntava se havia pecado tanto na última vida, para sofrer de tal forma nesta.

Revirava os olhos e fingia que não estava mais escutando enquanto Intak falava novamente sobre o mito do túnel, e que o nome de Jiung, o atendente da loja de conveniências, estava estampado por toda parte lá. Se fosse real, seria uma pena. Jiung é todo atrapalhado e vive esbarrando nos cantos das prateleiras, tendo que reorganizar o que acabara de organizar.

— Por que não tenta, ao menos? Só uma vez! — suplicava o moreno juntando as mãos.

Taeyang rosnou e virou a cadeira de rodinhas para conseguir focar no rosto do amigo. Ele tinha uma cara de cachorro que acabara de cair da mudança.

— Se eu for nessa porcaria de túnel, você me deixa em paz?

O mais novo assentiu freneticamente com a cabeça e Taeyang suspirou derrotado, finalmente aceitando aquele pedido tosco.

Dizem que na cidade há um túnel e que, ao passar por ele, você vê o nome do amor da sua vida escrito em vários corações.

Óbvio, Taeyang achava uma bobagem. Uma mentira criada por, provavelmente, uma garota do fundamental que estava apaixonada por um garoto que não tinha conhecimento de sua existência, mas idealizava ambos namorando e saindo juntos, feito um filme clichê americano dos anos 2000.

Fora puxado da cadeira pelo insistente Intak, que o guiou até o tal túnel mágico. Parecia escuro demais, um pouco amedrontador. Taeyang chegou a pensar que poderia ser uma brincadeira de mal gosto do amigo para assustá-lo dentro do breu daquele longo corredor.

Mas não pode contestar, Intak o empurrou para dentro e ficou o esperando, curioso para saber qual nome seria escrito ao mais velho. Pela vigésima vez naquele dia, Taeyang revirou os olhos e suspirou profundamente, virando-se pelos calcanhares e começando a andar pelo túnel, sem pressa.

Nada. Nada. Nada.

Nada além de paredes cinza e sem graça, junto a um chão cinza e sem graça que pareciam não acabar nunca. Estava prestes a gritar para o amigo que o aguardava lá fora e sair dali, quando corações em vários tons de rosa começaram a ser desenhados em cada centímetro daquela estrutura.

Corações rosa pastel, rosa neon, rosa pink, rosa choque, rosa chiclete e muitos outros, nas paredes, no chão, no teto. Piscavam como se fossem luzes de natal enroscadas num pinheiro. Taeyang nunca tivera visto nada igual. Se deslumbrou, se perguntando como era possível aquilo acontecer.

Ficou curioso para saber se algum nome seria realmente escrito naquelas dezenas de corações, pois não amava ninguém e sequer pensava nesse tipo de coisa. Pensava que ainda era cedo para ter encontrado o amor de sua vida.

Mas o choque impiedoso veio quando um nome surgiu dentro de cada coração. O último nome que ele esperava ler.

Yoon Keeho.

O idiota canadense que havia se mudado para o lado de sua casa não mais do que quatro meses. Mesmo sendo pouco tempo, Taeyang não suportava o jeito convencido daquele garoto.

Pode ter uma feição intimidadora, mas Keeho não passa de um canalha exibido, que pensa estar acima de tudo e todos. Tem sempre uma piadinha sem graça na ponta da língua e mãos habilidosas no basquete. Ocasionalmente Taeyang o vê saindo de casa carregando a bola de basquete embaixo do braço, caminhando até a praça que possui uma quadra para poder jogar com alguns garotos após a aula deles acabar.

Provavelmente Keeho os humilha quando perdem. E assusta criancinhas nas horas vagas.

Taeyang acelerou o passo até conseguir chegar ao fim do túnel e apoiou as mãos nos joelhos, ofegando como se tivesse acabado de ver a cena mais assustadora de seus vinte anos, como uma cena sangrenta de um filme slasher antigo.

Intak logo chegou e sabia que o amigo não gostou do resultado que obteve. Quando questionou, o mais velho endireitou a postura e pigarreou numa falha tentativa de disfarçar o horror em sua face.

— Não havia nenhum nome escrito.

Era péssimo em mentir. Quando mentia, seus lábios tremiam e ele arregalava minimamente os olhos, mas Intak fingiu não perceber. Sabia que insistir em outra coisa irritaria o amigo duas vezes mais, e não estava a fim de ser agredido.

O segundo castigo de Taeyang nessa vida seria sentir, ou pior, ter algo com Keeho. Preferia ser amarrado e apedrejado em local público.

Intak continuou tagarelando sobre ter visto o nome de Jiung enquanto andava pelo túnel para encontrar Taeyang no outro lado, indagando ao destino quando finalmente uniria os dois como o roteiro perfeito de um livro.

Taeyang parou de prestar atenção assim que ele proferiu a primeira palavra, ainda pensando na cena que acabara de presenciar.

Talvez tenha sido um engano daquele túnel estúpido.

o túnel • taehoOnde histórias criam vida. Descubra agora