08 | Amigo

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O HUMOR DE Intak melhorou excessivamente após o esclarecimento de toda a situação desagradável através daquele diálogo com Jiung, andando saltitante pelas ruas e ofuscando a visão de todos com seu sorriso largo estampado no rosto.

Foi em direção a uma pequena lanchonete próxima de sua casa para encontrar Jongseob, sem segundas intenções, apenas para agradecê-lo todo apoio oferecido nos dias em que não estivera bem, a companhia dele além da de Taeyang o ajudou muito.

Adentrou o estabelecimento e logo o cheiro de molho caseiro e batata frita invadiu suas narinas, trazendo-o um ótimo sentimento, mas Jongseob ainda não estava lá. Teve de se esgueirar entre as cadeiras ocupadas de tão apertado que era o local, até alcançar uma mesa vazia e aguardar pelo amigo que não tardou a chegar, sem precisar de muito esforço para encontrar Intak solitário brincando com os próprios dedos.

Sorridente, ele puxou uma cadeira na frente do loiro e se sentou, sendo recebido com um cumprimento simpático. Havia apenas um cardápio na mesa e Intak deu liberdade para Jongseob escolher o que iria pedir antes que fizesse o mesmo. No fim, pediram a mesma coisa e ficaram jogando conversa fora enquanto aguardavam pacientemente.

— Não te chamei apenas para papear e comer, Seob. — Intak continuava a brincar com seus dedos sem ter o olhar fixo no rosto do garoto a sua frente.

Os olhos de Jongseob se iluminaram e, imperceptivelmente, inclinou-se sobre a mesa para aproximar seu rosto ao de Intak, ansioso para ouvir o que mais ele tinha a dizer.

— Eu só queria te agradecer por ser tão gentil comigo ultimamente, você tem sido um ótimo amigo. — ele sorriu minimamente e subiu o olhar, percebendo a aproximação súbita do mais novo, deixando-o nervoso.

O brilho de seus olhos desapareceu tão rápido quanto surgiu, assim como o sorriso em seus lábios, que se desmanchou ao reparar na ênfase da última palavra proferida. 

Amigo. Não era o que Jongseob desejava ser.

— Você está se tornando especial para mim, gosto de você. — Intak encostou as costas na cadeira, ocasionando um afastamento entre ele e o garoto.

— Gosta? Tipo, gosta... de mim? — ignorou totalmente a insegurança que sua mente começou a arquitetar.

— Gosto como amigo, claro. Porque eu gosto de Jiung.

Jongseob arregalou os olhos ao sentir como se alguém tivesse arrancado o coração de seu peito e o apertado até acabar com ele de vez. Imaginou seu coração virando poeira e escorregando da mão de quem quer que estivesse o torturando daquele jeito.

— Aquele menino do show de talentos? Que namorava a ruiva? — sua voz estava trêmula.

— Ele não namora ela, são só ficantes, mas acabaram com isso porque não tinham sentimentos verdadeiros. Eu e ele estamos destinados, e ela está destinada à melhor amiga.

Intak esquecia do mundo ao seu redor quando começava a falar de Jiung como se estivesse se afundando num livro de contos de fadas, onde Jiung era seu príncipe encantado num cavalo branco, e ele era a princesa mais tola de todas as histórias de fantasias existentes.

Continuou a falar e mais falar sobre seu amado, mas Jongseob já havia parado de prestar atenção há um tempo. Como se tivesse colocado abafador de ruídos, sua audição fora prejudicada pela decepção de descobrir que seus sentimentos por Intak não eram recíprocos.

— Bem que vi naquela merda de túnel que você partiria meu coração, mas não acreditei. — ele interrompeu Intak, que não escutou direito o que ele disse devido à suavidade em sua voz.

Repetiu a fala do mais novo em sua mente até seu cérebro conseguir captar cada palavra e sentiu-se abalado por ele. Não tinha culpa de não poder retribuir seus sentimentos, afinal, essas coisas acontecem e, provavelmente, passaria por isso incontáveis vezes. O amor machuca, mas é impossível pará-lo, sendo ele muito mais forte do que nós.

— Sinto muito, você sabe que não sou capaz de mudar isso. — Intak falou o óbvio e Jongseob concordou, ainda entristecido. — Mas ainda pode encontrar a sua pessoa, quer me contar quem é?

— Não posso, porque nem ao menos sei quem ele é! — seus olhos lacrimejavam de frustração, sentindo-se estupidamente idiota por pensar que tinha chance de seu sentimento por Intak ser mútuo.

— Qual é o nome dele, Seob

— Shota. Haku Shota.

Nada mais precisou ser dito. Intak se levantou e se espremeu entre as pessoas presentes no minúsculo estabelecimento para ser possível chegar até o balcão, onde pagou o atendente e sequer pegou seu troco. Voltou para agarrar o braço de Jongseob e arrastá-lo para fora, deixando-o totalmente perdido.

— Que diabos? — ele reclamou até o loiro soltá-lo.

Ajeitou a roupa e acelerou o passo para alcançá-lo, não importando quantas perguntas fizesse, não recebia resposta alguma. Aquilo começou a deixá-lo irritado.

Finalmente, chegaram na quadra onde Jongseob costumava jogar basquete com Keeho e seus outros colegas. Intak descansou sobre a grade e puxou o celular do bolso, digitando rapidamente sem que Jongseob pudesse ver. Sua tela tinha um brilho mínimo e o pôr do sol dificultava ainda mais sua visão.

— Agora é só esperar. — Intak concluiu e olhou para Jongseob com um sorriso de canto, sentindo-se o maior cupido.

Jongseob estava louco para saber o que ele tramava.

Logo, o japonês de cabelo chamativo chegou com roupas ainda mais extravagantes do que naquele dia da cafeteria, com seus olhos semicerrados para evitar o brilho do sol, que só não era mais radiante do que seu sorriso ao reconhecer Intak logo a frente.

Rolou um breve cumprimento até que seu celular vibrasse com uma mensagem de Taeyang, as palavras contidas nela deixaram Intak preocupado.

Preciso de você.

— Agora é com vocês, preciso ir. — nem guardou o celular de volta, apenas o segurou firmemente e começou a correr até a casa do amigo, deixando um Haku e um Jongseob sozinhos e ligeiramente confusos.

Eles deram de ombros e se entreolharam com um silêncio constrangedor se instalando entre os dois, até que Jongseob tomou coragem para admitir:

— Não tive a oportunidade de dizer naquela noite, mas eu adorei o jeito que dança. — sua voz era pacífica e seu olhar se mantinha fixo no chão de concreto. — Sou apaixonado por dança, meu sonho é seguir com isso quando finalmente terminar a escola.

Haku riu e coçou a nuca, ficando tímido com o elogio do mais novo, por mais acostumado que estivesse a ouvir coisas do gênero e que sempre inflavam seu ego.

— Sei que você vai conseguir! Um dia dançamos juntos, o que acha? — ele sugeriu e deu a Jongseob um sorriso convidativo.

Quem tivera destruído o coração de Jongseob com a confissão de Intak na lanchonete, acabara de juntar todos os pedaços espalhados e os remendados como uma peça de roupa, usando uma agulha e linha de costura para consertá-lo e deixá-lo apresentável a Haku.

o túnel • taehoOnde histórias criam vida. Descubra agora