O CLIMA QUE preenchia a casa de Taeyang quando Intak ia embora mudava brutalmente, tudo ficava mudo quando ele ia embora e parecia muito mais deprimente feito noite de domingo.
Desde a última mensagem que Intak mandou, o celular de Taeyang não vibrou mais, mesmo que quase duas horas tivessem se passado. Pensou que, finalmente, Keeho o deixaria em paz, tendo conhecimento sobre seu suposto namorado – foi o que Intak deu a entender.
Enquanto tomava um banho quente que embaçou o banheiro inteiro, dificultando sua visão, começou a pensar em como tudo parecia tão conectado, como se fosse coisa do destino mesmo, coisa que nunca tivera acreditado fielmente. Mas descobrir que até mesmo sua paixonite pelo japonês do ensino médio poderia se envolver na história o deixou pensativo, querendo saber o que o destino tramava para todos eles.
Teve de secar o corpo no quarto após o banho, pois o vapor do banheiro o impedia de respirar normalmente. Conseguiu vestir apenas uma calça moletom, sendo interrompido por batidas na porta que tentou ignorar para fingir que não havia ninguém em casa, mas foi em vão, as batidas apenas aumentavam. Sem camiseta e com o cabelo úmido pingando sobre seu peitoral, abriu a porta e congelou ao reconhecer o rosto presente.
— Cheguei em boa hora. — a afirmação pareceu mais uma indagação devido ao tom utilizado.
— O que você quer, Keeho?
O canadense, sem nem ao menos tentar disfarçar, olhava-o de cima a baixo, analisando e tentando lê-lo como se fosse uma revista. Uma mistura de raiva com vergonha se manifestou dentro de Taeyang.
— Seu namorado ainda está aqui?
Taeyang se interrompeu quando percebeu que iria revelar que o garoto loiro da foto que Keeho recebeu não era seu namorado de verdade, era apenas uma farsa para tentar se livrar dele.
Acabou apenas negando com a cabeça e Keeho se inclinou minimamente, olhando para cada centímetro do cômodo como se não acreditasse no dono da residência.
— Ele não se importa se eu entrar, certo? E nem você?
Ele riu fraco, mas não de sua própria fala, e sim da expressão incrédula de Taeyang sobre sua intromissão, não conseguindo nem falar algo para refutá-lo.
Keeho ficou parado, o encarando como se esperasse um convite para entrar. De forma inconsciente, Taeyang deu um passo para o lado, deixando um espaço para que seu vizinho fosse capaz de adentrar sua casa.
O pior de tudo é que o coreano sabia que o canadense não era assim só consigo, mas com todo mundo, e tinha pena das pessoas que o conheciam. Cogitou que ele já tivera se metido em problemas por consequência de seu jeito inconveniente e isso o satisfazia.
Demorou para se dar conta de que nem havia vestido uma camisa ainda e sentiu seu rosto esquentar por isso. Odiava quando ficava extremamente envergonhado, já que seu rosto sempre adquiria uma coloração rosada que podia ser percebida de longe.
— Eu vou terminar de me vestir, você espera aqui. Quando eu voltar, vai me contar o que veio fazer aqui. — Taeyang ordenou sério e subiu correndo até o quarto.
Vestiu a primeira camiseta que encontrou quando abriu o guarda-roupa e ajeitou o cabelo ainda úmido e bagunçado antes de voltar para a sala, encontrando o canadense sentado em seu sofá como uma criança obediente esperando a mãe.
— Então...? — ele começou, exigindo explicações.
— Só queria te ver, fiquei com saudade. — admitiu.
Taeyang arqueou a sobrancelha, nada convencido daquela resposta fajuta. Keeho concordou com a cabeça sobre a própria fala para reforçá-la.
— Garanto que se me conhecer melhor, sua visão sobre mim muda. Podemos ao menos tentar? — o seu olhar se assemelhava ao de um gatinho implorando por ração.
Seu jeito insistente e pidão o lembrava do melhor amigo, que o atazanava até que aceitasse engatar em suas ideias mirabolantes.
— Tudo bem. — não planejava suas falas ou ações, parecendo estar sendo controlado ou agindo no modo automático. — Diga-me mais sobre você, então.
Keeho não piscou por longos segundos, provavelmente tentando digerir a aceitação sobre o rabugento vizinho coreano que sempre fugia de uma aproximação ou diálogo. Respirou fundo e tentou buscar na mente algo para falar de si e persuadir o outro. Temeu não ser suficientemente interessante para manter aquela decisão de Taeyang.
— Nasci em Toronto e morei lá durante minha vida toda com minha mãe, depois da separação dela com meu pai. — ele começou, o tom de voz baixo — Me mudei para cá justamente para passar um tempo com meu pai.
Taeyang não imaginava algo assim dele. Na verdade, não imaginava nada. Não queria presumir nada sobre a vida alheia e era assim com todos, não era exclusividade de Keeho.
— Já deve saber que jogo basquete — ele coçou a nuca — mas também canto como você, costumo desenhar no tempo livre e ler livros de suspense, quando não estou estudando música e moda.
Ele era muito mais instigante do que Taeyang jamais poderia imaginar. Keeho contou coisas que não pareciam condizer com seu jeito espalhafatoso, e suas feições soberbas e levemente intimidadoras. Nem notou quando estavam sentados lado a lado, compartilhando informações sobre si e histórias inusitadas de vida.
Até que Keeho não era tão insuportável.
— Ainda vou te convencer a assistir filmes de terror comigo!
Keeho não aceitava o fato de Taeyang não ser tão chegado em filmes de terror (preferia filmes de ação e drama) e tentava convencê-lo a maratonar alguns não tão pesados consigo.
— Nem morto! — ele gesticulava com as mãos enquanto recusava.
— Por acaso você tem medo, gatinho? — ele inclinou o corpo na direção de Taeyang, que ficou visivelmente nervoso. A respiração falhou.
— Não, eu não tenho medo. Mas filmes de terror são sempre a mesma coisa: uma garota gostosa morre primeiro, os personagens são muito burros, não acreditam na pessoa inteligente, quem faz piadas o tempo todo também morre, assim como o cara babaca. Tentam forçar algo amedrontador, mas acabavam só enfiando sangue e mais sangue falso para persuadir a audiência.
Keeho ouviu atentamente a opinião de Taeyang e teve de concordar, mesmo sendo apaixonado por terror desde que se conhecia por gente.
— Nem sempre é assim! Já assistiu Fuja, ou Nós? São filmes de terror psicológico com um plot twist extraordinário.
— Já ouvi falar. Mas só assisto quando você assistir Simplesmente Acontece!
— Vá sonhando. Dez minutos de filme e já consigo prever o quão chato ele é, com personagens estúpidos.
Entrariam em uma discussão onde Taeyang defenderia o filme indicado, se não fosse pelo celular de Keeho vibrando. Puxou o aparelho do bolso da calça jeans e observou brevemente a tela, antes de se levantar e espreguiçar o corpo.
— Está tarde, é melhor eu ir. — ele guardou o celular e se dirigiu em direção à porta, sendo seguido por Taeyang.
Taeyang não quis demonstrar interesse, teve de controlar a vontade de perguntar o que era tão importante. Talvez a intromissão de Keeho fosse contagiosa.
— Boa noite, até amanhã. — ele se despediu e passou pela porta.
Começou a caminhar de volta para sua própria casa, quando Taeyang reuniu coragem para abrir a boca e chamá-lo. Interrompeu os passos e se virou.
— Não... — sua boca foi mais rápida que seu cérebro — ele não é meu namorado.
O sorriso que se formou nos lábios de Keeho fora perceptível, este que nada disse, apenas tornou a andar para a casa ao lado.
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o túnel • taeho
FanfictionDizem que na cidade há um túnel e que, ao passar por ele, você vê o nome do amor da sua vida escrito em vários corações. Taeyang só não esperava ler o nome de seu vizinho idiota neles.