NO DIA SEGUINTE, o plano de Taeyang era não sair de casa. Queria ficar em seu quarto com as cortinas fechadas para impedir que seu vizinho bisbilhoteiro ficasse o incomodando, enquanto rabiscava algo num papel, ou tocava e cantava. Podia terminar um seriado que começara a assistir na semana passada, qual assistia vários episódios continuamente e, então, parava, sem motivo algum. Quando deixava a preguiça de lado para voltar a assistir, se perguntava porque tivera parado. Era um ciclo vicioso.
Mas, como de costume, Intak o convenceu a sair de casa e ver a luz do sol, o que chegava a ser cômico, pois Intak era mais introvertido que Taeyang – um extrovertido que tem preguiça de se comunicar com outros seres humanos.
Desde que Intak vira o nome de Jiung naquele bendito túnel, era para a loja de conveniências que eles sempre iam, apenas para suprir a necessidade do mais novo de ver o atendente do sorriso cativante. Taeyang fazia um sacrifício por seu melhor amigo, mas ainda achava um saco ter que aguentá-lo cair de amores sem nenhuma coragem de conversar com Jiung. Conversar mesmo. Não apenas trocar perguntas retóricas e falas clichês, como comentar o quão bonito está o dia.
Taeyang deixou Intak com os cotovelos apoiados sobre o balcão e se escondeu entre os corredores de produtos de limpeza, apenas para ficar consideravelmente longe dos rapazes, não tinha a intenção de gastar dinheiro com nada. Agarrou um galão de amaciante e fingiu estar concentrado na leitura do rótulo, mas ouvia atentamente a conversa do amigo com o atendente.
— Você ouviu falar da lenda do túnel? Já passou por lá?— o vocabulário de Intak parecia limitado apenas a palavras relacionadas a esse túnel.
Se o impedissem de falar qualquer coisa sobre este assunto, ficaria mudo.
— Passei ontem depois do trabalho. — o tom de voz do atendente era baixo, necessitando de um certo esforço para ser audível. — Ouvi dizer que quando se faz o caminho contrário, aparece o nome de quem vai quebrar seu coração, então fui testar.
— E que nome apareceu? — parecia um interrogatório, Intak bombardeava o coitado de perguntas, não demonstrando remorso em ser levemente metido.
— Jongseob. Kim Jongseob.
Intak olhou para cima e torceu os lábios, tentando buscar na memória e falhando em encontrar algo. Não lembrava de conhecer ninguém portador deste nome.
Por outro lado, Taeyang pensou já ter ouvido aquele nome ser mencionado em algum lugar, mas não conseguia recordar onde.
— E quem está destinado a você?
— Intak, “alguma coisa” Intak.
O citado se esforçou para conter o sorriso e fracassou, tendo de abaixar a cabeça para disfarçar o quão feliz havia ficado com seu nome sendo a reposta daquela pergunta específica.
Taeyang foi lentamente se aproximando até parar ao lado do amigo. Os três rapazes se entreolharam num silêncio constrangedor até que o coreano mais novo presente agarrasse a mão de Taeyang, puxando-o para fora do estabelecimento.
— Aliás, prazer, Hwang Intak. — foi a última coisa que disse antes de deixar o local para trás com um Jiung perplexo.
Foram cruzando ruas aleatórias, andando completamente sem rumo e sem sequer prestar atenção no que faziam, focados demais na conversa que teorizava quem seria o culpado por quebrar o coração do pobre Jiung.
Taeyang só desviou o olhar do rosto de Intak quando viu desfocadamente a quadra de basquete logo atrás do amigo. Numa reação instantânea, se abaixou e agarrou a manga do casaco esportivo de Intak, tentando (fracassadamente) se esconder.
— Que diabos? — ele olhou ao redor, confuso, procurando o que havia deixado Taeyang naquele estado. — Ficou louco?
— Vamos sair daqui! — ele sussurrou alto e puxou o braço alheio.
Mais uma analisada no ambiente e Intak entendeu o que estava acontecendo. Não conseguiu controlar o riso e levou um tapa na perna, pois estava atrapalhando o plano de não chamar atenção.
— É Keeho, não é?
Taeyang acenou com a cabeça e Intak continuou encarando o canadense na quadra como se fosse uma assombração, sendo logo percebido pelo mesmo. Keeho acenou e inclinou levemente o corpo para o lado, tentando enxergar o que Intak escondia atrás de si.
Keeho cochichou algo para aquele mesmo garoto do dia anterior e logo ele se aproximou da dupla de amigos. Desta vez, o garoto parecia possuir mais um piercing no rosto, se é que isso era possível. No dia anterior, Taeyang notou um em cada sobrancelha, um no nariz e um na boca. Naquele momento, havia um em cima do lábio superior e um entre seus olhos, pouco acima do nariz. Além disso, a ponta de seus cabelos eram tingidos de rosa, o que deixavam-no ainda mais indiscreto.
— Hey, eu de novo! Sou Jongseob, nos falamos ontem, lembra?
Intak e Taeyang se entreolharam tentando disfarçar o choque em finalmente descobrir quem seria o sujeito que procuravam.
— Lembro sim. Keeho está me chamando de novo? — Taeyang levantou e sacudiu a poeira acumulada na roupa.
Jongseob concordou com a cabeça e Intak pareceu ainda mais surpreso com a quantidade de revelações para um único dia.
— Você não odiava Keeho? São amigos agora?
Taeyang cobriu a boca do amigo com a mão e ele continuou a falar, mas era abafado demais para ser compreendido. Forçou um sorriso para Jongseob e arrastou Intak pela calçada, ainda o impedindo de continuar falando besteiras.
— Diga a ele que estou ocupado, tenho outros planos.
Jongseob assentiu novamente e voltou para a quadra. A dupla de amigos saiu dali antes que pudessem presenciar o olhar enciumado de Keeho os perseguindo. A sorte de Intak era que os olhos de Keeho não soltavam raios laser.
Taeyang levou o amigo para sua casa e ambos não sabiam nem por onde começar a falar, eram informações demais para assimilar, feito uma avalanche que os atropelou sem piedade, arrastando-os morro abaixo.
Tinha esquecido de contar o que acontecera no dia anterior; sobre a arrogância de Keeho, seu possível ciúme, e seus flertes descarados. A reação de Intak fora exatamente como sua mente havia imaginado, mas ficara tão confuso quanto Taeyang em relação ao ciúme de Keeho, dado todos os fatores já mencionados.
Continuaram fofocando sobre aquele assunto e outros aleatórios que tiveram descoberto durante até aquele momento da semana, sendo interrompidos em um certo horário da noite quando o celular de Taeyang vibrou agressivamente entre os cobertores. Alcançou o aparelho e fez o mesmo ritual de sempre, dando dois toques suaves para ligá-lo e ver a notificação pela tela de bloqueio.
“O garoto com você era seu namorado? Era com isso que estava ocupado?” — uma mensagem de Keeho no Instagram.
Taeyang não acreditou na inconveniência do canadense, mas fora impedido de mandar um texto com diversos xingamentos por Intak, que pegou gentilmente o aparelho de sua mão e o desbloqueou para entrar no aplicativo. Abriu a câmera e tirou uma foto com uma das mãos cobrindo parte de seu rosto, enquanto os fios loiros cobriam outra parte. Enviou para Keeho e digitou logo em seguida.
“Sim”
Algo tão simples, mas direto, que deixou Keeho sem resposta por longos minutos. Logo outra mensagem surgira na tela do celular.
“Você é namorado dele?”
Intak enviou emojis que continham um sorriso e devolveu o celular a Taeyang, que ria por achar engraçada a situação, e também ria de desespero.
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o túnel • taeho
FanfictionDizem que na cidade há um túnel e que, ao passar por ele, você vê o nome do amor da sua vida escrito em vários corações. Taeyang só não esperava ler o nome de seu vizinho idiota neles.