07 | Destinados

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PASSARAM-SE DIAS APÓS o show de talentos e Keeho não falou mais com Taeyang, nem mandou nenhuma mensagem, nem foi até a casa dele, e faltou coragem para que Taeyang roubasse esse papel e fosse atrás de Keeho. Resolveu esperá-lo até que ele se sentisse confortável para contar o que estava acontecendo.

Ao mesmo tempo, Intak negava estar chateado com o infortúnio envolvendo Jiung, mas Taeyang o conhecia a tempo demais para saber exatamente o que o amigo sentia. E o pior de tudo: não sabia como ajudá-lo a sair daquele poço de infelicidade e desesperança.

Os dias se tornaram cada vez mais frios e desmotivadores, tirando de Intak a vontade de sair de casa, mas seu amigo jamais o deixaria na mão, então sempre o convidava para fazer algo por mais irrelevante que fosse, como ir até o mercado ou, simplesmente, ficar em casa sem mover um músculo no sofá ou na cama. Não precisavam fazer algo ou achar um assunto para debater, apenas ter companhia já era suficiente e fazia falta. Era estranho não ter Intak por perto, mesmo que permanecesse em silêncio durante todo o tempo em que estivessem juntos, então era desanimador para Taeyang se despedir de seu amigo no final da tarde.

Enquanto descansava as costas no batente da porta e observava o amigo desaparecer entre as ruas, sua atenção foi tomada por Keeho saindo de casa. Diferente de todas as outras vezes em que o tivera visto, ele não estava com o convencido sorriso de canto nos lábios, estava sério e voltou a parecer intimidador.

O contato visual entre eles não durou muito porque Keeho preferiu desviar o olhar e fingir que não se importava com a presença do coreano. Não magoou tanto quanto era de se esperar, mas Taeyang ainda sentiu.

Foi em direção a Keeho que, ao perceber isso, tentou escapar em passos rápidos para evitar conversa e reaproximação. Taeyang se inclinou rapidamente e alcançou seu pulso, fazendo-o se virar sem nenhuma mudança na expressão.

— O que está acontecendo? — ele foi direto ao ponto. Sabia que desistiria se tentasse começar com um diálogo comum. — Por que não fala mais comigo?

Não deveria se importar tanto assim, ainda mais lembrando que não gostava de Keeho e não tinha intenção de lhe dar uma chance, mas fizera isso de forma meio inconsciente, como se fosse uma marionete e alguém estivesse o controlando. Apesar disso, não estava arrependido, percebeu que a impressão que tinha de Keeho era quase totalmente errada e passou a saber lidar com ele, querê-lo por perto mais vezes. Odiava quando alguém agia estranho repentinamente, aparentando não haver motivos. Afinal, não se lembrava de ter feito algo que deixasse Keeho tão distante.

— Eu só estou a fim de ficar sozinho. — não queria admitir que estava daquele jeito por conta de ciúmes de um garoto que nem conhecia.

Deu-se convencido pela resposta e largou o pulso do estrangeiro, que se virou novamente para continuar seu caminho, onde quer que estivesse indo. Se ele havia dito que queria ficar sozinho, assim seria, Taeyang aguardaria sem pressioná-lo.

Durante este curto período, Intak lutava contra sua vontade de ir até a loja de conveniências, após dizer que ficaria um tempo sem ir para não ser tão cruel consigo mesmo, torturando-se daquela forma. Contudo, quando se deu conta, já estava em frente a porta do estabelecimento e encarando o atendente atrás do balcão através do vidro. Ele apoiava o cotovelo sobre a madeira do balcão e olhava para cima conversando consigo mesmo, tinha um leve bico nos lábios e parecia descontente.

Intak entrou atraindo a atenção de Jiung, que se ajeitou sobre o banco onde estava sentado e sorriu envergonhadamente, ajeitando o bucket hat preto que usava.

— Você por aqui... — o atendente disse entre um suspiro — não que seja ruim, claro que não! É uma surpresa, já que não te vejo desde a noite no show de talentos. Senti sua falta. Como vai?

Ele disparou todas as palavras de uma vez e se encolheu ao reparar no quanto havia falado, muito mais do que deveria. Intak piscou pausadamente e tentou assimilar o que acabara de ouvir, deixando um sorriso bobo escapar.

— Bem, até. — mentiu — E sua namorada?

Estapeou-se mentalmente por ser tão idiota a ponto de fazer uma pergunta daquelas, tentando parecer mais curioso do que aborrecido ou enciumado para que o outro não desconfiasse. Jiung pareceu confuso com sua pergunta, inclinando a cabeça para o lado feito um cachorrinho até compreender o que ele quis dizer.

— Yeji não é minha namorada, é só... uma ficante. Eu e ela nos gostamos de jeitos diferentes. – não teve coragem de continuar o contato visual — Fico triste em magoá-la assim, mas sinto que ela sente algo pela melhor amiga dela, a Ryujin.

Uma chama de felicidade se acendeu no coração de Intak, fazendo-o festejar dentro do peito como há algum tempo não sentia. Foi aquela notícia que o fez segurar ao máximo o sorriso, tendo que virar o rosto para o lado e forçar uma tosse.

— Você gosta de outra pessoa, Ji? — tomou liberdade para chamá-lo por um apelido e andar entre as prateleiras de salgadinhos.

— Gosto. É um garoto loiro com o sorriso mais bonito que já vi, costuma vir aqui de vez em quando e conversar comigo. O nome dele apareceu para mim quando andei por aquele túnel.

Parou e raciocinou que Jiung tivera feito uma descrição perfeita sobre ele, deixando-o sem reação por alguns segundos arrastados, passando tão lentamente que pareceram horas. Ele se virou e ambos se olharam com as bochechas coradas. Se não fosse pelos barulhos na rua, os batimentos cardíacos sincronizados poderiam ser ouvidos.

— Estamos destinados um ao outro. — Intak concluiu.

[...]

Taeyang estava deitado na cama quando ouviu vozes e risadas altas vindas da rua, e apenas para matar sua curiosidade, se levantou e espiou pela janela do quarto, encontrando Jongseob empurrando amigavelmente o ombro de Keeho como se ele tivesse acabado de contar a piada mais hilária existente.

Lembrou-se de que o canadense havia lhe dito mais cedo que sentia a necessidade de estar sozinho, então aquela cena foi como uma onda que o engoliu sem misericórdia, fazendo-o se afogar sem a possibilidade de nadar de volta até a superfície. Sentir-se em segundo plano era uma miséria, ainda mais depois de tanta insistência de Keeho.

Continuou os observando até que Jongseob se despedisse e fosse embora, enquanto Keeho permaneceu na porta de sua casa, enfiando as mãos no bolso do moletom e encolhendo os ombros, ainda com aquele sorriso que expressava felicidade.

Taeyang desceu apressadamente as escadas e foi até a casa de seu vizinho, percebendo o sorriso em seu rosto se desmanchar ao reconhecê-lo. Arrependeu-se instantaneamente, mas ainda queria entender o porquê estava sendo tratado feito lixo.

— Qual é, cara? Você me persegue, se aproxima, e vai embora sem mais nem menos? — ele falou frustrado e se aproximou do canadense — Você tinha dito que queria ficar sozinho, mas, na verdade, queria ficar longe de mim! 

Keeho já estava acostumado a ouvir o quanto ele era um babaca egoísta e exibido, e várias outras coisas, mas ouvir aquilo de Taeyang – mesmo ele estando correto – parecia doer muito mais.

— O que foi que eu fiz? — ele perguntou, por fim.

— Não podemos ser amigos, Theo. Sinto muito. — ele confessou no tom mais baixo possível.

— Por quê? O que há de errado? — ele continuava querendo respostas.

— Porque eu gosto de você, caramba! Foi o seu nome que vi naquela porcaria de túnel, é você quem está destinado a mim! — largou a calmaria para chegar ao nível de Taeyang.

O coreano ficou perplexo e chegou a tossir com o engasgo que a surpresa havia lhe dado, respirando pesadamente enquanto o vento frio e seco bagunçava seus fios.

— E quem vai partir seu coração, Keeho? — ele fez a última pergunta antes de decidir que voltaria para sua respectiva casa.

Você.

o túnel • taehoOnde histórias criam vida. Descubra agora