01 | Curiosidade

323 46 75
                                    

TAEYANG MAL CONSEGUIU dormir durante a noite de tanto virar-se sobre o colchão da cama, não conseguindo tirar da mente a cena que vivenciou durante a tarde. Toda vez que fechava os olhos, recordava-se do nome Yoon Keeho sendo escrito em todos aqueles corações cintilantes desenhados por cada centímetro do túnel, dando-lhe um pouco de vida.

Não costumava pensar em namoro e sequer já tivera se apaixonado alguma vez em seus vinte anos de existência. Apaixonar-se é um termo muito forte. Pode-se dizer que Taeyang já teve uma queda pelo intercambista japonês enquanto frequentava o último ano do ensino médio, mas o sentimento passou tão rápido quanto surgiu, pois o garoto logo voltou para seu país de origem, e Taeyang se formou.

Mas não achava que já tinha passado disso: quedas e paixonites. O único amor verdadeiro que ele realmente contava era o amor-próprio, e o amor de amizade que possuía com Intak. Exceto se pensar nas coisas que gosta de fazer, de conhecer mais sobre, de ter. Mas é simplesmente isto: gostar.

Se bem que, se parar para analisar, o ato de amar é o ato de gostar, só que um pouco mais forte e intenso. Um sentimento tão banal e ordinário pode se tornar algo realmente profundo se você amontoá-lo.

Sentiu que precisava voltar até o túnel no dia seguinte para ter certeza de que aquilo estava correto. Certificar-se de que não tinha lido errado, ou que o túnel tivesse escrito errado. Ou, até mesmo, se era o Keeho que pensava ser. Por mais que não conheça nenhum outro Yoon Keeho pela cidade e, provavelmente, não devem existir muitos outros por aí.

Assim o fez. No dia seguinte, voltou até aquele túnel e se sentiu ridículo por um instante. Ele iria mesmo atravessar aquele longo corredor uma segunda vez, mesmo após se aborrecer com seu melhor amigo de tanto o garoto insistir para ele ir uma primeira e única.

Olhou brevemente ao seu redor antes de começar a caminhar sem pressa dentro daquela escuridão tenebrosa. Logo os corações começaram a ser desenhados, de diferentes tamanhos, diferentes tons de rosa e cobrindo totalmente o interior da estrutura. Seu coração palpitando em ansiedade dentro do peito, desejando com todas as forças que possuía, que outro nome aparecesse.

A decepção veio com tudo, atingindo-o em cheio, quando o mesmo nome do dia anterior foi escrito dentro dos corações.

— Eu não entendo... — ele sussurrou para si, como se houvesse outra pessoa ali para escutá-lo — Por que ele?

Tantos nomes naquela cidade e aos arredores poderiam surgir naquele maldito túnel, mas por que justamente o de Keeho?
Pensando em Intak, que recebeu o nome de Jiung, o atendente desastrado da loja de conveniências, apesar de os dois não se conhecerem bem. Talvez seja coisa do destino, algo que é para acontecer. Não que já tenha acontecido ou está acontecendo, mas está planejado, até porque Taeyang não possuía sentimentos bons pelo vizinho canadense e não tinha interesse algum em conhecê-lo, nem que estivesse endividado.

Relaxou os ombros e resmungou para si, pedindo para que quem estivesse escrevendo seu destino, que o alterasse como as gravações de um filme ou o rascunho do final de um livro. Mas não era simples assim. A vida poderia ser muito injusta.

Ao invés de atravessar o corredor inteiro para chegar ao outro lado, resolveu dar meia volta para conseguir pegar o mesmo caminho que o levaria de volta para casa.

Quando se virou, de repente, todos os corações, tão perfeitamente desenhados em tons cativantes, começaram a perder a cor e se transformarem num tom de rosa deprimente. Rachaduras partiram os corações no meio, um a um, e Taeyang acompanhava o processo com os olhos.

Apesar dos corações terem se partido, o nome de Keeho continuava intacto e isso deixou Taeyang confuso. Não fazia ideia do que poderia significar e tentou nem esquentar a cabeça com aquilo, apenas saiu dali e perambulou pelas calçadas não tão cheias até chegar em sua residência.

Durante o caminho, passou em frente a praça onde Keeho jogava basquete, e lá estava ele, com suas roupas inteiramente pretas, mas não tanto quanto seus cabelos tingidos, que até semana passada eram castanhos.
Eram quase seis da tarde, o que indicava que as aulas da escola do outro lado da rua acabariam, e assim alguns garotos se reuniriam na praça para tentar derrotar Keeho num jogo de basquete.

Demorou para perceber que estava parado feito estátua no meio da rua, e que Keeho o encarava com aquele sorriso irritante, como se achasse que era melhor do que qualquer um ao seu redor, e aquilo o irritava profundamente.

O canadense passava a bola de basquete de uma mão para a outra e seguiu Taeyang com o olhar, observando-o sair dali aparentemente irritado, dando passos um pouco fortes.

O sinal da escola soou e logo uma avalanche de pessoas saiu pela porta dupla, todos se atropelando para se livrarem logo do local. Cerca de seis garotos chegaram correndo na quadra e cumprimentaram Keeho com um aperto de mãos peculiar. Não era possível ouvir bem a voz de Keeho, diferente do restante dos garotos, que pareciam ter um alto-falante preso em suas gargantas.

Logo Taeyang fora impedido de continuar seu caminho por um dos garotos que estava na quadra, que chegou levemente ofegante e tocou seu ombro.

— Com licença — o garoto disse tentando recuperar o fôlego — Keeho me pediu para te chamar, quer você na quadra.

O garoto, que não parecia ter mais do que dezessete anos, usou o polegar para apontar para a quadra atrás deles, e percebeu o canadense olhando para os dois ainda com aquele sorriso ligeiramente irritante.

— Diga a ele, que ele vai ficar querendo. 

Deu de ombros e se preparou para continuar o trajeto, até que Keeho começou a chamá-los através de um sinal com a mão. Rosnou de raiva e revirou os olhos, temendo conseguir enxergar o próprio cérebro de tanto repetir esse ato, e seguiu o garoto até a quadra, totalmente contra sua vontade.

— Oi, vizinho! — o mais alto abriu os braços quando Taeyang se aproximou, agindo como se fossem íntimos há anos.

"Ele não está esperando que eu o abrace, né?" – Taeyang pensou.

Continuou estático diante aquela cena ridícula e Keeho pigarreou antes de abaixar os braços, retornando à sua postura de garoto estrangeiro e intimidador. Taeyang nada disse, apenas continuou olhando para o outro no aguardo de uma explicação, de uma resposta.

— Está tão desanimadinho hoje, o que foi? — ele fez um bico e se aproximou, fazendo Taeyang dar alguns passos para trás.

Os outros garotos se entreolhavam e alguns tentavam segurar o riso. Aquilo fez o sangue do Choi ferver, pois odiava que o debochassem, e se recusava a fazer papel de palhaço num circo organizado pelo idiota canadense que, inoportunamente, era seu vizinho.

Keeho fez um sinal esquisito com a mão e então os garotos pegaram a bola de basquete, começando a jogar entre si no outro canto da quadra.

— Por que age assim comigo? Por acaso já fiz algo para você? — ele se aproximou mais um pouco e abaixou o tom de voz, permitindo que apenas Taeyang o escutasse.

— Porque você é um metido convencido que se acha superior a todos!

Taeyang não mediu as palavras e simplesmente jogou-as na cara do outro, que piscou algumas vezes para demonstrar surpresa.

— Era só isso? — questionou, louco para sair logo dali.

— Por que a pressa? Vai se encontrar com alguém?

— Quanta curiosidade. E se eu for sair com alguém, algum problema?

Estava ainda mais confuso. Essa era a primeira vez que trocava mais de duas palavras com o canadense, então não entendeu todo esse interesse repentino dele para cima de si.

— Podia sair comigo, mas você é um chato que julga pelas aparências. 

O comentário de Keeho deixou Taeyang sem palavras. Entrabriu os lábios, mas nenhum som saiu, não conseguiu encontrar nada para dizer. Apenas franziu as sobrancelhas e saiu dali, deixando Keeho sozinho naquela parte da quadra e voltando, finalmente, para sua casa.

o túnel • taehoOnde histórias criam vida. Descubra agora