MESMO NO DIA seguinte, Taeyang não conseguia acreditar que tivera aceitado dar uma chance ao seu vizinho estrangeiro e irritante, e nem que havia se enganado sobre sua personalidade. Não totalmente. Keeho ainda era um chato de primeira, mas se tornou suportável, principalmente pelas várias coisas que tinham em comum.
Óbvio que não deixaria de contar o ocorrido para seu melhor amigo, que apenas ouvia tudo atentamente com um sorrisinho que poderia ser lido como um “eu disse” ou “eu já sabia”. Fazia questão de levantar as sobrancelhas toda vez que relembrava o fato de que Taeyang abriu a porta praticamente semi nu, e que, pela descrição dada pelo mesmo, Keeho havia gostado. Mas não pôde deixar de ficar bravo por ele revelar que não eram namorados de verdade, dado que estava tentando salvar o amigo de alguma forma.
— Pelo amor de Deus, não faça essa cara! — Taeyang empurrou o ombro de Intak, que ria debochadamente.
— Paro de fazer se você aceitar ir comigo na cafeteria que abriu recentemente!
— Aquela temática de Alice no País das Maravilhas?
Intak concordou num murmúrio e não precisou insistir para convencer o amigo, Taeyang aceitou sem esforços, pois achou a proposta interessante. Já esperava receber um convite assim de Intak, que tivera visto a notícia da inauguração do local há um tempinho através das redes sociais. Ele virou a tela do celular para Taeyang com aquela expressão de criança bagunceira no rosto e Taeyang sabia exatamente o que aquilo significava.
Aquele seria o almoço deles. O mais novo já estava consideravelmente arrumado, assim como o mais velho, mas, mesmo assim, ele ficou um longo tempo na frente do espelho, tentando deixar seu cabelo perfeitamente arrumado sem nenhum motivo.
— Vamos logo, estou com fome! — Taeyang revirou os olhos.
Intak endireitou a postura e catou a carteira, permitindo que ambos finalmente saíssem de casa.
Durante todo o caminho, Taeyang mal conseguiu prestar atenção no amigo tagarelando por estar mais ocupado, torcendo para que não houvessem pessoas fantasiadas de personagens atuando. Achava uma graça, quando não estava metido no meio.
Mesmo sendo mais extrovertido que Intak, sentia vergonha de quase tudo. Já tivera ouvido em algum momento da sua vida que possuía até mesmo vergonha de viver. E não achava que era mentira.
Chegando na cafeteria, descobriu que as pessoas fantasiadas interagindo com os clientes só não era mais vergonhoso do que o nome das comidas e bebidas no cardápio. Leu cada nome escrito nele várias vezes, enquanto Intak já tinha escolhido o que iria pedir. Logo um garçom se aproximou, vestido de valete de copas, perguntou o que os garotos desejavam.
— Vou querer esses aqui — Taeyang lhe mostrou o cardápio e apontou para dois itens.
Intak percebeu o constrangimento alheio e tentou disfarçar o riso para conseguir fazer seu próprio pedido. O garçom anotou, fez uma reverência como se eles fossem parte de uma realeza, e saiu.
O local era bonito e possuía decorações fiéis ao filme (a animação de 1951, apesar de preferir o live action de 2010). A estrutura do local foi muito bem planejada, assim como a escolha de atores que andavam para lá e para cá, dando mais atenção às crianças que chegavam e pareciam deslumbradas, acreditando fielmente que os personagens haviam saído do filme e invadido nosso mundo.
Admirava cada canto do local enquanto aguardava os pedidos chegarem à mesa. Seu olhar voltou para a porta de entrada quando um garoto de cabelos vermelhos roubou sua atenção ao adentrar. Seus fios tingidos eram tão chamativos quanto suas roupas largas, fazendo-o parecer muito menor do que realmente era. Possuía algumas presilhas coloridas e as unhas pintadas com várias cores de esmalte neon.
Estreitando um pouco os olhos e analisando melhor a face do garoto, Taeyang conseguiu reconhecê-lo e relaxou as sobrancelhas, deixando sua boca abrir em surpresa pelo reencontro inesperado.
— Não acredito... — ele soltou involuntariamente.
— O que foi? — Intak virou o corpo na cadeira e tentou encontrar o que tivera deixado o amigo tão surpreso.
Os olhos do garoto de cabelos de fogo encontraram os olhos de Taeyang, que sorriu gentilmente e acenou.
Implorar mentalmente para que ele não fosse para lá foi completamente inútil. Parece que o garoto havia lido sua mente e feito o total oposto apenas para provocar.
— Theo, é você? Quanto tempo! — ele revelou sua voz suave e tocou seu ombro.
Ele forçou um sorriso e concordou sem jeito. Não estava nervoso por reencontrar sua paixonite do ensino médio, mas por saber que seria ele o culpado por magoar seu melhor amigo. Estava ali, em sua frente.
— Prazer, sou Haku Shota! — ele estendeu a mão para Intak, que não demorou a se lembrar deste nome.
Estendeu a mão de volta e o cumprimentou por educação enquanto lutava para esconder o receio em seu rosto, temendo conhecê-lo.
— Se importam se eu sentar com vocês? — ele perguntou alternando o olhar entre os dois rapazes.
Hesitaram em dizer que não havia problema, deixando o japonês puxar uma terceira cadeira e se sentar sobre a ponta da mesa.
— Não sabia que vocês se conheciam. — Intak comentou, deixando escapar que já conhecia, de certa forma, o estrangeiro, este que o olhou com uma interrogação desenhada no rosto.
— Estudamos juntos no terceiro ano, Theo era o criador de humor da turma. — ele abaixou o olhar e sorriu, lembrando-se dos tempos de colegial.
Intak era a única pessoa que ainda o chamava de Theo. Reencontrar um ex-colega e ex-paixonite após tantos anos num local como aquele, te chamando por um apelido que quase ninguém te chama, deixou tudo ainda mais constrangedor.
Os momentos antes dos pedidos chegarem se tornou um show de perguntas genéricas. Haku queria saber o que Taeyang estava fazendo ou planejava fazer da vida, e compartilhar o que ele fazia, sem deixar Intak de fora da conversa.
— E o que faz aqui, Soul? — chamou-o por um apelido que costumavam chamá-lo durante o tempo da escola, sem tentar soar rude ou grosseiro na pergunta.
— Recebi uma proposta para me apresentar em algumas regiões da Ásia. Vou para Taiwan depois daqui, mas estou tentando aproveitar porque senti falta da Coreia.
Desde o pouco tempo que passara no ensino médio, Haku já demonstrara o amor pela dança, e dizia que conquistaria o mundo com ela um dia.
— Vocês deviam ir! Será na próxima semana. — ele convidou e informou o endereço aos garotos, levantando-se e ajeitando a cadeira em seguida. — Espero ver vocês lá, agora, é melhor eu deixá-los a sós.
Ele se despediu e andou pelo salão até encontrar uma mesa vazia para se sentar, que ficava do outro lado, um pouco mais afastado.
Taeyang e Intak se entreolharam, sem saber ao certo o que dizer após aquela interação inesperada.
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o túnel • taeho
FanfictionDizem que na cidade há um túnel e que, ao passar por ele, você vê o nome do amor da sua vida escrito em vários corações. Taeyang só não esperava ler o nome de seu vizinho idiota neles.