PASSARAM-SE ALGUMAS SEMANAS após o ocorrido traumático que resultou em Taeyang se afundando numa crise depressiva da qual não possuía esperanças de sair, por mais que seus amigos tentassem o ajudar o máximo que podiam, com tudo que estivesse ao alcance. Tinha vontade de se trancar no quarto e nunca mais sair, sem abrir a janela ou ao menos acender a luz, e nem sempre permitia a entrada dos outros rapazes.
Intak era o que mais se entristecia em ver Taeyang naquele estado deplorável. Jiung e Jongseob, mesmo não conhecendo o mais velho tão bem quanto Intak, ainda sentiam muito por todas as desgraças pelas quais estava passando, assim como Haku, que se sentia egoísta por se diminuir entre aquela situação delicada para o ex colega toda vez que fracassava em fazê-lo rir ou tirá-lo de casa.
Aquele foi o período mais longo em que Taeyang se sentiu feio. Feio de verdade, não apenas pelas olheiras, rosto inchado de tanto chorar e ter o sono desregulado, o corpo reagindo à consequência de ignorar refeições durante o dia e outros fatores que influenciavam sua aparência, mas também sentia-se horrível por dentro por ter sido um idiota que acreditou fielmente em cada palavra de Keeho.
Ainda se perguntava quase todos os momentos do dia e da noite o porquê de ter tudo acontecido especificamente com ele. Será que havia feito algo tão ruim na vida passada para sofrer tanto nesta? Talvez, ao invés de água, tivesse oferecido vinagre a Jesus Cristo, ou tivesse sido aquele quem o pregou na cruz. E não podia deixar de se sentir ligeiramente egocêntrico por se lamentar tanto por um término de namoro repentino. Não é como se os tendões do seu coração fossem se romper, fazendo-o literalmente se partir (mesmo que Keeho já tivesse o feito), e muitas outras pessoas no mundo possuíam problemas maiores. Em sua percepção, era egoísta chorar por um motivo tosco desse, enquanto alguns não tinham moradia, comida, roupas que os aquecessem, e tudo o que ele podia ter.
Jiung, apesar de não ser próximo de Taeyang, sempre sabia o que dizer para ajudá-lo a se sentir um pouco melhor, dando-lhe mais um galho para se apoiar e, assim, de pouco a pouco, sair daquele poço que havia se jogado. Segurando-se firme nas palavras de Jiung que eram sempre as mesmas quando Taeyang mencionava esse pensamento, alegando ser egoísta
“Nunca compare dores. Não diminua sua dor, ela também é válida”.
Taeyang tentava imaginar outra pessoa passando pela mesma situação que ele e se dava conta de que jamais teria coragem de dizer ao sujeito as mesmas coisas que dizia a si mesmo. As palavras frias e cruéis que gritava para si mentalmente, mais perigosas que uma lâmina afiada, jamais seriam ditas em voz alta para outra pessoa, então por que se torturar tanto? Amores não correspondidos acontecem o tempo todo.
Mas amores que se vão repentinamente sem explicações, não deveriam acontecer.
Chega a ser cômico a forma que os sentimentos dele mudaram. Antes, não gostava do vizinho estrangeiro e convencido, então, passou a amá-lo e não se ver sem ele, depois, o sentimento inicial voltou ainda mais forte. Passou a odiar Keeho, em partes.
Sentia falta de ter algo para reclamar, para odiar. Sentia falta de revirar os olhos ao ouvir os comentários idiotas do canadense, de se forçar a bater palmas quando ele fazia cesta num jogo de basquete contra Jongseob, de tentar escapar dos encontros que tinham ao sair de casa para jogar o lixo fora. Sentia falta do início, quando Keeho era só seu vizinho, só o nome que havia lido no túnel, só o canadense irritante e insistente.
Escrever não tinha mais tanta graça quanto antes, já que todos os seus textos eram dedicados a Keeho. Se pegasse todos os papeis onde o nome do canadense estava marcado, poderia cobrir o chão do quarto, talvez até mesmo as paredes, ou transbordar pelo menos duas lixeiras. E essa foi sua vontade, amassar todo aquele emaranhado de folhas e jogá-las fora, atear fogo para deixar queimar junto com seus sentimentos pelo canadense. Queria seguir em frente com sua vida e seus amigos, que sempre estavam lá para ele.
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o túnel • taeho
FanfictionDizem que na cidade há um túnel e que, ao passar por ele, você vê o nome do amor da sua vida escrito em vários corações. Taeyang só não esperava ler o nome de seu vizinho idiota neles.