JÁ EM SUA casa, Taeyang ainda não conseguia acreditar na audácia de Keeho fingindo serem próximos para impressionar os amigos, e querendo saber de sua vida quando, as poucas vezes em que se viram, foram através da janela ou quando iam, coincidentemente, jogar o lixo fora na rua ao mesmo tempo. E, mesmo assim, não se falavam. Apenas se entreolhavam e Keeho lhe dava um sorrisinho de canto.
Estava prestes a puxar os próprios cabelos, tamanha raiva que estava sentindo pelo jeito inconveniente de seu vizinho, quando o celular vibrou sobre a escrivaninha. Taeyang girou a cadeira de rodinhas, apenas o suficiente para que seu braço pudesse alcançar o aparelho. Tocou duas vezes na tela para ligá-la e viu que Intak tinha mandado uma mensagem.
"Cara, descobri uma parada sobre o túnel"
"Mas de novo esse papo?" — Taeyang pensou novamente, já cansado de ler ou ouvir sobre isso.
De qualquer forma, respondeu à mensagem do amigo perguntando qual informação incrível ele tinha descoberto.
"Quando você passa pelo túnel, vê o nome do amor da sua vida escrito, certo?
Mas quando você passa na direção contrária, vê o nome de quem vai partir seu coração"Taeyang juntou os pontos e inconscientemente sua boca abriu em completo choque. Não demorou para raciocinar que Keeho, a pessoa que estava destinada para si, seria a pessoa que mais o machucaria. Esse era mais um motivo para manter-se bem longe do garoto canadense, evitando criar sentimentos e ter seu coração partido.
"Como você descobriu isso?"
Taeyang digitou e logo Intak lhe respondeu, dizendo que ouviu uma dupla de garotas conversarem sobre isso no banco do lado de fora da loja de conveniências. Uma delas contava que, ao dar meia volta para sair do túnel, os corações desenhados se partiram e outro nome fora escrito. O nome de Jiung. Jiung seria responsável por quebrar o coração daquela garota, provavelmente, por estar destinado a Intak.
Taeyang estava curioso para saber se o melhor amigo havia testado e resolveu perguntar isso também.
"Sim, eu voltei lá
O nome que apareceu nos corações partidos foi Haku Shota, o que é estranho, porque não conheço ninguém com esse nome
Você conhece, Theo?"O queixo de Taeyang caiu ainda mais ao lembrar que esse era o nome do intercambista japonês qual possuía uma queda durante o último ano do colegial.
Só conseguiu se sentir muito mal por Intak, mas torceu para que esse acontecimento não o envolvesse de forma alguma, para não ser o responsável por magoar alguém de forma tão cruel, quanto mais seu melhor amigo de longa data.
Taeyang mentiu, dizendo a ele que não conhecia ninguém com esse nome e Intak pareceu acreditar, logo ficando offline. O celular fora largado de novo sobre a escrivaninha e Taeyang tentou relaxar o corpo na cadeira, largando todo seu peso e soltando um suspiro.
Ultimamente, só conseguia se perguntar o porquê a vida era tão triste e injusta às vezes, ainda mais com os inocentes. Não se recordava de ter pecado para que o destino lhe pregasse tais peças e o fizesse afundar numa piscina de culpa e uma leve pitada de angústia, deixando-o sufocar sem piedade.
Tentou se ocupar com outra coisa para distrair a mente da tortura que ela lhe fazia com um emaranhado de pensamentos e paranoias. Pegou o violão que estava parado no canto do quarto há pelo menos um mês e pôs sobre seu colo, utilizando os pés para girar sutilmente a cadeira de um lado para o outro, pensando em uma música para tocar.
Lembrou que esteve praticando Jolene, de Dolly Parton, por duas semanas, mas parou de repente e sequer sabia o motivo. Resolveu tocar o que havia aprendido até o momento, arrastando a ponta dos dedos pelas cordas do violão de forma nada agressiva.
"Jolene, Jolene, Jolene, Jolene...
I'm begging of you, please don't take my man
Jolene, Jolene, Jolene, Jolene...
Please don't take him just because you can"Ele cantava com sua voz doce e se esquecia do mundo inteiro ao seu redor, preocupando-se apenas com os acordes e ecoava pelo cômodo inteiro. Quem ouvisse, poderia afirmar que escutou o som de um anjo cantando sem nem ter chegado ao céu.
Levou um segundo para abrir os olhos ao final da música e se assustou ao ouvir palmas um pouco baixas pela distância, virando o rosto de imediato. Era Keeho o aplaudindo. Tinha esquecido de fechar a janela, e pela altura que cantava, o canadense o ouviu.
— Você canta bem. Não sabia que tocava. — ele apoiou as mãos no batente da janela e se inclinou, falando alto para que fosse escutado.
— Está me perseguindo?
— Somos vizinhos, seu tonto. E você não é nada discreto.
Taeyang gostava demais de si mesmo e não era recorrente ele se sentir patético ou algo assim, mas Keeho devia ter um superpoder, pois era campeão em fazê-lo se sentir de tal forma.
— Mas você fica me observando igual um stalker, chega a dar medo. — largou o violão no canto do quarto novamente.
— Somos vizinhos há meses, qual o problema de nos conhecermos melhor? Não quer ser meu amigo?
"Você é o problema" — Taeyang sentiu-se cruel por pensar assim.
— Você já tem sua creche para jogar basquete e, aparentemente, gosta muito de se exibir para eles!
Revelou sua frustração sobre o acontecimento de mais cedo e Keeho deu o típico sorriso de bad boy e arrastou a língua no interior da bochecha.
— Não está com ciúmes, está?
A audácia do canadense fez Taeyang se indignar, deixando transparecer através de sua expressão, qual nunca conseguia controlar.
— Porque, se estiver, — ele continuou — não precisa se preocupar. Prefiro você.
O coreano levantou as sobrancelhas incrédulo e o canadense levantou as sobrancelhas convencido. Taeyang se levantou e fechou a janela, fazendo Keeho desmanchar sua expressão e toda sua marra.
Deitou-se na cama e pegou o celular, pensando se havia um tutorial na internet de como se livrar de um vizinho chato e irritantemente esnobe. Talvez pudesse vendê-lo em algum site de teor duvidoso.
Em vez disso, apenas ficou navegando em suas redes sociais, vendo as publicações aleatórias que passavam por sua tela, até receber uma solicitação em sua conta do Instagram. Keeho estava pedindo para segui-lo.
Direcionou rapidamente o olhar para a janela, confirmando que o stalker do Canadá não estava mais o observando feito um psicopata. Não estava, e aquilo deixou-o aliviado.
Não aceitou o pedido virtual, mas mandou uma mensagem, ordenando que parasse de persegui-lo. A mensagem foi visualizada sem demora, e logo respondida. Keeho riu e disse que ainda conseguiria conquistar pelo menos uma amizade com Taeyang.
"Pode parar de tentar, isso não vai acontecer"
Keeho parecia apagar e digitar incessantemente, pensando no que responder. Como esperado, foi insistente e, com certeza, tinha a intenção de irritá-lo.
"Isso é o que vamos ver, gatinho ;)"
Taeyang pegou o travesseiro e o pressionou contra o rosto, permitindo-se gritar de raiva pelo garoto arrogante. Desistiu de respondê-lo e sequer aceitou a solicitação que lhe fora enviada, apenas silenciou o aparelho e não tocou mais nele pelo resto da noite.
VOCÊ ESTÁ LENDO
o túnel • taeho
FanfictionDizem que na cidade há um túnel e que, ao passar por ele, você vê o nome do amor da sua vida escrito em vários corações. Taeyang só não esperava ler o nome de seu vizinho idiota neles.