Capítulo 5

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N.5

Essa mulher é totalmente pirada, uma hora está super de boa, meiga, carinhosa e logo depois mete um puta tapão na minha cara, que, aliás, está doendo até agora. Eu, hein!? Massageio minha cara com a mão enquanto sigo para o refeitório.

Todo mundo já está comento e a cozinheira me entrega a comida com cara de irritação.

O que eu posso fazer? Reclama para a sua chefe! Vontade de responder para ela não me falta, mas prefiro não fazer isso, por muito menos já apanhei igual a um cachorro. Aliás, falando em cachorro, cadê o n.8? Hum, tá ali, no canto dos cachorros... N.4? Aff, ele almoça todo dia com aqueles caras do grupo. Escolho uma mesa vazia e me sento. Não posso reclamar da comida daqui, é boa, gostosa e variada. Bom, se eu considerar o que eu comia antes, isso aqui é um banquete dos deuses.

Eu sinceramente não sei o que pensar em relação a tudo o que está acontecendo. Tive a transa mais incrível da minha vida, mas antes achei que eu ia morrer de dor. Não morri, me sinto bem, um pouco cansado, mas bem.

Termino de comer, levo a bandeja para a cozinha e saio para o pátio. A gente pode andar pelo prédio, tem sinalização de onde podemos ou não ir, bem claro. Eu acho que alguns caras não sabem ler, porque é muito difícil encontrar coisas escritas pelas paredes.

Sento em um dos bancos do pátio gramado e deixo o sol me aquecer. A sensação é boa, revitalizante. Sempre gostei de tomar sol, em casa mesmo, quando meus irmãos saíam para brincar na rua eu ficava olhando eles enquanto tomava sol. Parece que já passou uma eternidade desde essa época. O n.8 se senta ao meu lado e eu vou pro chão para acompanhar ele.

— Ô pulguento, o que que você está achando de tudo isso? - Eu pergunto sem olhar para ele.

— Não me chama assim.

Dou de ombros.

— Sinceramente, eu não sei. Acho que eu gosto. - Ele diz se ajeitando melhor no chão.

— Hum...

— E você? - Ele me pergunta.

— Não sei também, fazia muito tempo que eu não comia tão bem, que eu não tinha uma cama para me deitar... Quanto a isso eu estou bem melhor do que antes. - Confesso.

— E quanto ao treinamento? - Ele me pergunta curioso.

— Olha, eu nunca apanhei tanto na minha vida. - Digo rindo.

— Eu também não. - Ele ri junto. - Mas ao mesmo tempo eu gosto de ver a treinadora contente, orgulhosa. Não me lembro de alguém olhar assim pra mim antes...

— Eu não consigo pensar assim, demorei muito para conseguir viver sozinho numa boa, agora tenho que ficar obedecendo ela. Tem horas que é bom, mas... não sei.

— Hum.. - Ele diz depois fica em silêncio.

— O que você acha do nosso colega? - Pergunto.

— Olha, eu nunca tive muito contato com ele, nem antes de virmos para cá. Ele é dos grandes, participava das reuniões com os outros líderes do grupo e era bem autoritário... - Ele diz pensativo.

— Não gosto dos caras que ele anda. Não bate, sabe?

— É, o grupo dele é do pessoal que tava na organização, mas grande mesmo, só veio ele para cá. - N.8 fala, reduzindo o volume da voz. - Sinceramente, eu não me meteria com ele.

— A nossa treinadora é a diretora, chefe, alguma coisa assim, aqui do centro. Será que é por isso que ele está com a gente?

— É diretora, ela se chama Adriana...Ouvi umas guardas falando. - N.8 me responde. - Mas acho que de todo mundo aqui que era do grupo, o mais "perigoso" é ele. Talvez ela queira ficar de olho nele...

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