Abro os olhos e demoro alguns instantes para descobrir onde eu estou. Não me lembro a última vez que dormi em uma cama tão confortável. Meu corpo está dolorido, mas muito menos do que eu achei que estaria. Me levanto e vou usar o banheiro.
No espelho posso ver as marcas do chicote e dos golpes que levei no dia anterior. Que dia infernal... dói só de lembrar. Lavo o rosto e me enrolo em uma toalha que está no banheiro.
Quando volto ao quarto percebo que a diretora, não, a Adriana está dormindo no sofá encolhida. Não sei se eu a acordo ou a deixo dormir. Pensando bem também não sei o que sinto em relação a ela. Eu... Ah! Sei lá.
Vou até a copa procurar alguma coisa para comer e encontro uma máquina de café, fazem anos que eu não tomo um café e não resisto, aciono a máquina e pego um café para mim. Volto ao quarto e me sento na cama.
O café está gostoso, sinto conforto ao tomá-lo, me lembra o café que a minha esposa fazia, em um outro tempo, praticamente uma outra realidade. Eu sinto tanto a falta dela, dói lembrar. Se ela me visse hoje, não iria acreditar no que me tornei. Nem sei bem o que sou agora, me sinto um lixo, como a Adriana repetiu várias e várias vezes, mas por motivos diferentes. Que vida de merda essa minha.
Eu não posso julgar a Adriana pelo que ela fez, faria muito mais para proteger um dos meus, na verdade já fiz. Entendo o ódio que elas sentem... entendo a repulsa. Lembro do dia em que minha esposa chegou chorando em casa, em choque. Ela demorou uns dias para conseguir me contar o que aconteceu. Ela estava no escritório, trabalhava com contabilidade, o maldito do chefe dela a tinha chamado em sua sala, onde a atacou, tentou força-la a beija-lo. Aquele lixo! Quando ela me contou quis acabar com ele, mas ela não deixou, o que iam pensar dela, ela me dizia... que mundo lixo era aquele que vivíamos? Sinto uma lágrima de saudade e tristeza escorrer pelo meu rosto. Não sei se ela teria orgulho ou nojo de mim hoje. Fiz muita coisa errada desde que ela faleceu durante a pandemia.
Sinto um toque em meu ombro e me assusto, estava tão perdido em meus pensamentos que não percebi a Adriana se aproximar. Ela se senta ao meu lado e me olha compreensiva.
— Como você está? - Pergunta.
Seco minhas lágrimas com as costas da mão e respondo:
— Estou bem. - Minto.
Ela analisa meu rosto, tira suavemente o copo de minhas mãos e me abraça. Não tenho reação à aquele gesto. Então ela passa a acariciar meus cabelos e sinto mais lágrimas escorrerem por meu rosto.
Ela me solta, senta melhor na cama, apoiada na cabeceira e diz:
— Vem aqui, deita no meu colo... - Ela não manda, ela pede e eu aceito.
Eu nunca me permiti chorar por minha esposa, nunca me deixei abater, acho que transformei tudo em ódio... me sinto tão cansado, que não tenho forças para lutar contra isso agora. Sinto o carinho de Adriana em meus cabelos e liberto toda a tristeza que eu guardei por tantos anos. Me deixo chorar, me encolho em seu colo e deixo tudo sair enquanto lembro dos bons momentos que vivi com a Amália, minha eterna esposa.
A pergunta, que sempre volta, é: ela teria orgulho de mim hoje? E minha resposta é não, não e não. Me levanto do colo de Adriana e a encaro, preciso de uma segunda opinião desesperadamente:
— Eu sou tão terrível assim?
Pego Adriana de surpresa, ela me olha estranhando minha pergunta.
— Me fala, por favor... eu...sou tão terrível assim? - Insisto.
Vejo seus olhos marejarem e ela me abraça com força.
— Não! Não! Não é! Não! - Diz desesperadamente. - Eu... você não é terrível! Tenho orgulho de você! Não pensa assim, por favor...
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CRM - Centro de Reabilitação Masculina
Fiction généraleDark Romance Sadomasoquista/Poliamor. Como o mundo seria com as mulheres no poder? Subjugados, eles devem respeito e obediência a elas, os que não se curvam são enviados ao CRM.