Capítulo 18 - Adriana

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Cerca de 15 dias se passaram do ocorrido com o n.4, sem maiores complicações. Tive que devolver ele aos estábulos, mas acho que as marcas que fiz nele deram uma acalmada nos ânimos dentro do Centro. Pude respirar e seguir com os trâmites de adoção, dos três. Até agora eu não acredito que fiz isso.

Como elas não saíram ainda, tenho que mantê-los no treinamento e dentro da rotina do CRM. Hoje, pretendo falar com o n.5 sobre a adoção, estou adiando isso a muito tempo já e isso está me deixando tão ansiosa que nem comer direito, eu consegui.

Ainda é cedo, faltam 30 minutos para às 14h, quando entro na sala de treinamento, os servidores devem estar no pátio tomando sol... o que? O n.5 já está aqui?

— N.5, já está aqui?

— Sim, senhora.

Separo as coisas que vou usar hoje, mas o silêncio me incomoda.

— Hoje vou te levar para fazer a ordenha do n.4.

Eu o provoco.

— O que a senhora desejar, senhora.

Que? Volto minha atenção para ele, que se mantém imóvel, ajoelhado.

— Vai para o meio da sala.

Ele obedece.

— Quem é sua dona?

— A senhora.

Nenhuma gracinha, nenhum comentário? O que está acontecendo?

— O que você fez ontem à tarde, depois que eu liberei vocês?

Ele estranha minha pergunta.

— O que a senhora me mandou fazer.

— Que seria?

Ele me olha, assustado.

— Minha ordem foi que você descansasse o resto do dia! O que é que você fez?

— Eu... é...

— N.5, minha ordem foi que te deixassem descansar, se ela não foi cumprida a culpa não é sua, quero saber o que fizeram com você, me diga.

Tem alguma coisa muito estranha com ele, nunca vi ele assim: assustado, inseguro, ele mal olha para mim.

— Eu não sei, senhora. Me lembro que estava dormindo... me levaram, não sei pra onde... acordei hoje na minha cela, mas me sinto bem! Quero servi-la e estou aqui para agradá-la.

Em segundos um filme se passa em minha cabeça, o ar falta aos meus pulmões e sinto um arrepio na espinha.

— MALDITA!

Corro até o telefone de emergência da porta da sala e grito para quem atende.

— Trás o n. 8 aqui agora! Do jeito que ele estiver, não me interessa! Agora!

Bato o telefone e discou o ramal dos estábulos.

— Chama a Jackeline! Já!

Uma eternidade depois ela atende.

— Jackeline, cadê o n.4? Vai lá agora! Eu não quero ninguém além de você próximo do n.4, NINGUÉM, tá entendendo?! Protege ele, sim! Quero, sim!

Desligo, respiro fundo e pego o telefone novamente, no mesmo momento ouço uma batida da porta e vejo o Gabriel entrar. Saio em disparada e o abraço com força, rezando para que esteja tudo bem com ele. Sem entender, ele me abraça de volta.

— Você tá bem?

Ainda sem entender meu desespero, ele sinaliza que sim.

— Gabriel, eu tô falando sério, você está bem mesmo?

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