Recomeçar

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                     Boa leitura!
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Pov: Danilo

Com um sorriso de orelha a orelha, e a serenidade de dias melhores que se refletiam no seu rosto de semblante suavizado pelo sono. Minha alma antes tão castigada pela dor estava em paz na leveza de que o pior havia mesmo indo embora e já não nos assombrava mais. Maraisa dormia a poucos metros de mim como a maioria dos doentes deste hospital e de grande parte da cidade devido ao horário que eu me mantinha desperto. Foi impossível conter a ansiedade diante da notícia de que logo mais ela receberia alta e que juntos depois de tantos altos e baixos iríamos para casa, para nossa casa. Observá-la dormindo estava se tornando uma mania satisfatória para mim, resguardar seus sonhos e prezar por sua segurança seria mais do que primordial de agora em diante, não cometeria o mesmo erro e jamais permitiria que sua vida voltasse a ficar em risco. Independente de sua decisão após termos nossa conversa, eu estava decidido a protegê-la de qualquer maneira, mesmo de longe não me afastaria definitivamente do seu alcance e continuaria garantindo seu bem-estar acima de tudo e de todos, contra sua vontade ou não. Netão era um desgraçado sanguinário, ele não mediria esforços para usá-la pra me atingir, indo do inferno até o fim do mundo guiado pelo ódio e sua sede de vingança. Esse desgraçado tem ido longe demais, embora eu soubesse que era só o começou de suas maldades e que ele era capaz de coisas muito piores, brincar assim com uma vida foi a gota d'água. A única maneira de pará-lo é a morte, e desde o dia que tive conhecimento do seu envolvimento em tudo isso, não consigo deixar de pensar em uma forma de eliminá-lo desse mundo da maneira mais cruel e violenta possível. O silêncio da madrugada que mantinha somente os sons corriqueiros ganhou um novo ruído e consequentemente chamou minha atenção, ao desgrudar as costas da parede esbranquiçada que me servia de apoio, meus olhos caíram sobre a mulher a minha frente. Maraisa ainda dormia, entretanto o sono tranquilo passou a ser conturbado evidenciando em seus traços tensos os indícios de um sonho ruim, isso vinha ocorrendo com certa frequência nas últimas noites de sua recuperação e provavelmente seja um reflexo por conta de tudo que ela foi obrigada a passar. A morena balbuciava frases e palavras que na maioria das vezes eu não tinha o entendimento, minha prioridade foi sempre acalmá-la e livrá-la do pesadelo, até aquele momento em que um nome que eu conhecia muito bem escapou de seus lábios em um sussurro.

— Adira... Perdão... — Eu que a essa altura já estava ao seu lado em seu amparo travei diante de suas duas palavras.

Ainda inerte a policial continuava com suas frases vagas e desconexas, não falando coisa com coisa. Segundos depois voltei a mim ao ter sido tirado brevemente da realidade sem conseguir me mexer do lugar que eu estava, com sua frase inacabada martelando minha mente atordoada. Aos poucos ela foi se aquietando sobre o colchão e seu corpo se acalmando para que novamente o sono doce assumisse o controle de seus sonhos. Uma pane geral atingiu meu cérebro, Maraisa não chegou a conhecer minha irmã, não fazia sentido algum seu pedido de perdão, por mais que eu estivesse disposto a dar tudo para ver as mulheres da minha vida juntas, isso jamais seria possível. Mesmo tendo consciência de que seus devaneios não passavam de um sonho, o acontecimento de minutos atrás me perturbou mais do que provavelmente deveria. Lembranças de Adira dominavam meus pensamentos, memórias que nunca seriam apagadas iam sendo resgatadas do meu subconsciente. Tivemos tão pouco tempo juntos, mas vivemos intensamente cada segundo na companhia um do outro. De uma hora para outra o quarto me pareceu bem menor do que o habitual, eu estava sendo sufocado pelas lembranças de um passado injusto que não era tão distante assim, nesses casos a saudade doída se tornando nossa única companheira, e comigo não foi diferente.

A necessidade de ar fresco foi mais forte que minhas razões, segui até a cama de Maraisa sem fazer movimentos bruscos, lhe dando um beijo na testa sentindo sua respiração suave acariciar minha face. Bastou apenas isso para que minhas angustias diminuíssem, era incrível o efeito que ela tinha sobre mim, mas ainda sim optei por dar uma volta, eu precisava de uma caminhada, a brisa da noite me ajudaria a distrair as ideias. Deixei o quarto com o intuito de dar uma espairecida pelos arredores do hospital, de primeiro instante não me afastar muito do local onde a policial estava era meu objetivo, mas todavia acabei me distanciando mais do que gostaria, deixando que meus pés me guiassem até em casa para o Jardim do qual Adira tanto se orgulhava e passava boa parte dos seus dias. De tudo que eu tenho guardado em seu quarto, dos objetos e acessórios intocáveis, esse lugar era onde mais sua memória se mantinha viva. Minha irmã era como uma flor, suave como as pétalas, com a doçura do aroma, e muitas vezes tinha a dureza dos seus espinhos. Neste aspecto Maraisa se aperfeiçoava a ela, elas eram tão parecidas no jeito e gostos, foi impossível não amá-la ainda mais quando aos poucos fui descobrindo as semelhanças entre elas. Andei por todos os canteiros me perdendo em tantas histórias melancólicas recordadas a cada metro quadrado do jardim orvalhado, entre uma passada e outra um novo sorriso triste surgia com as boas lembranças que chegavam a machucar ao mesmo tempo que serviam de conforto. Com os sinas do amanhecer cortando a escuridão, regressei para a unidade de saúde colhendo quatro belas rosas vermelhas com a intenção de fazer uma singela surpresa para Maraisa, lhe presenteando com suas flores favoritas assim que ela acordasse. As várias horas de conversas banais durante sua recuperação, nos rendeu algumas descobertas sobre o outro, entre filmes, comidas típicas e estilo musicais estava sua preferência pelas rosas vermelhas. O caminho de volta foi rápido, por sorte quando adentrei seu leito, a policial ainda dormia do mesmo modo que estava antes, nem se dando conta da minha ausência, uns dez ou vinte minutos depois, não sei ao certo quanto se passou, até que os primeiros raios de sol surgiram por uma fresta na cortina. Nesse intervalo de tempo a movimentação no corredor já começavam a todo vapor, Virginia como fazia toda manhã iniciava as visitas aos seus pacientes e em breve passaria para avaliar a saúde de Maraisa, e finalmente assinar sua alta. A rotina hospitalar se dava início bem cedo, às sete em ponto ninguém mais pregava o olho, e o café da manhã "ingerível" ao meu ver para alguém que não estava enfermo, normalmente era servido trinta minutos depois do banho dos pacientes. Assim que a morena terminava de se alimentar, ela praticava uma caminhada pelo quarto por recomendações médicas comigo sempre ao seu dispor. Tê-la junto ao meu peito com as minhas mãos espalmadas em sua cintura, sendo seu apoio e incentivando-a toda vez que Maraisa pensava em desistir por medo de não conseguir, quando nos primeiros dias suas pernas trêmulas não lhe ajudavam a se sustentar sozinha, foram mais do que gratificantes para mim. Levou praticamente quase uma semana até que ela pudesse ganhar massa muscular, reaprendendo a caminhar com um passo depois do outro, como uma criança que se preparava para dar os primeiros passos sem a ajuda dos pais. Fui tirado de meus pensamentos por um toque de mão macia e dedos quentes sobre a minha, imediatamente um sorriso maroto contornou meus lábios desamarrando o semblante fechado da minha cara.

Apaixonada Por Um Criminoso (Adap. Danisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora