Meias Verdades

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                  Boa leitura!

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Pov: Danilo

Com o olhar cerrado, sem piscar ou mover um músculo do corredor vazio do hospital, eu a observava por um grande quadro de vidro que cruelmente nos separavam. Mais de vinte quatro horas já haviam se passado desde a sua transfusão de sangue, o tratamento de extrema urgência que salvaria sua vida estava sendo realizado a risca, e meu contato com ela até o final do procedimento médico será assim, do lado de fora do seu quarto, a enxergando pela merda de uma vidraça. Eu tentava convencer a mim mesmo que esse sacrifício seria em prol da sua recuperação, com isso a distância imposta por Virginia hoje de manhã quase não me incomodava loucamente. Esperançosamente eu aguardava um mínimo mexer de dedos ou qualquer outra forma natural de reação do seu corpo, que indicasse que ela estaria mesmo voltando para mim. Apesar de ter consciência de que ainda era muito cedo para grandes evoluções de melhoras, meu coração se recusava a aceitar o contrário, cada dia tem sido como viver um ano no inferno e estava mais do que na hora de todas essas desgraças terminarem. Ali olhando para ela, admirando seu rosto pálido de expressão serena por um tempo considerável, era o único momento em que minhas fraquezas não me assombravam, inexplicavelmente a calmaria de sua voz invadia minha mente e por um breve segundo tudo parecia ficar em paz. Tê-la junto a mim era quase como um vício, eu necessitava daquela mulher que por muitas vezes me enfrentou como poucos, era da minha Maraisa destemida, com toda sua marra e pose que me tirava do sério com suas teimosias, que eu queria comigo outra vez. Vê-la acamada e presenciar sua vulnerabilidade estava sendo um dos mais difíceis golpes que já recebi da vida, grande parte dos acontecimentos que agravaram sua saúde era destinado ao meu egoísmo. Por diversas vezes a policial implorou para ir para a casa, e como um perfeito estupido eu ignorei todas as suas súplicas, eu tinha plena consciência dos perigos que esse possível envolvimento amoroso trairia para ambos e mesmo assim insisti em mantê-la ao meu lado, sempre lhe impondo coisas que na maioria das vezes ela não concordava. Talvez, tudo isso seja um castigo por eu ter sido tão inflexível, antes eu nomeava esse sentimento que me dominava a fazer o que fiz, como amor, e quem sabe este não tenha sido o meu maior erro. Agora vejo que tudo aquilo que me cegava era medo, medo de perdê-la para uma realidade que não era a minha, ou possivelmente perdê-la para outro alguém que estivesse lhe esperando do lado de fora do meu mundo. Do jeito mais difícil eu compreendi que os sentimentos não são impostos, eles surgem ou não, do natural do que é simples e inexplicável, e com nós dois não seria diferente. O até então desconhecido amor que eu achava que não havia sido feito para mim, começou a demostrar a sua verdadeira forma de pureza, quando Maraisa desapareceu mata a dentro correndo inúmeros riscos que eu achei que poderia evitar. Nunca escondi de ninguém que mataria e morreria por ela, mas no meio de tudo aquilo, estando em um labirinto sem saída, eu percebi que isso não era o suficiente, estar disposto a dar a vida por quem se ama para muitos seria a maior prova de amor possível, porém para um homem como eu que não temia o inferno, seria algo brando a se fazer. O que sinto por Maraisa ultrapassava todos os limites do que é lógico e ela merecia mais do que minha insignificante vida como prova disso. A dor dilacerante que rasgou meu coração no fatídico dia que por muito pouco ela não me deixou para nunca mais voltar, me deu uma amarga amostra de que o sofrimento por deixá-la ir, não seria maior do que perdê-la para sempre. Uma decisão dura pensada e repensada foi tomada por mim já alguns dias, eu enfrentaria de frente os meus tormentos e abriria mão do que sinto para vê-la feliz, lhe daria a chance da escolha a deixaria seguir seu caminho se assim fosse sua vontade.

— Danilo! — A voz de Lauana atrapalhou meus devaneios, seguido do barulho dos seus passos que a traziam até mim com cautela.

— Achei que minhas ordens eram irrevogáveis para você? — Sem encarar seu rosto eu a questionei friamente.

Apaixonada Por Um Criminoso (Adap. Danisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora