Capítulo XXVII

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— Acredito que tenha exagerado em... no que quer que seja isso — disse a sombra, perto de mim.

— Eu tenho quase certeza de que é assim! Veja, a receita diz para colocar um pouco de água, batatas, cebola...

— E por que colocou pimenta? Não era para ser um sopa saudável?

— Porque a pimenta é vermelha e bonita. Deve dar um gosto bom, não?

Ele riu, claramente divertido com a minha ingenuidade infantil.

— Vou colocar mais uma. — Peguei outra pimenta e comecei a cortá-la, antes da faca atingir ligeiramente meu dedo. Imediatamente lambi a ferida. — Droga!

— Se estiver querendo servir um vampiro, deve ser uma boa receita, de fato. — Fiz uma careta para ele.

— Está com inveja. Tem inveja porque eu posso cozinhar e você não. — Mostrei a língua. Mas a diversão escapou de seu olhar por um momento. Não estar materializado o afetava bem mais do que ele gostava de demonstrar. Imediatamente mudei meu semblante. — Desculpe. Eu esqueço que...

— Pois bem. Se eu estivesse materializado, provavelmente seria forçado a comer isso. E apesar de meu paladar não ser como o seu, tenho certeza de que não sairia vivo disso — zombou.

Revirei os olhos.

— Você é o pior. — Voltei meu foco para a massa.

Ouvi um passo. Alguém havia entrado na cozinha.

Me virei bruscamente e encontrei Lizzy.

Heylel começou a rir, aquela sua risada macabra que assustaria qualquer um. Menos eu, que cresci ao seu lado.

Apenas sorri para Lizzy, indicando que estava tudo bem. E fingindo que, para ela, eu não estava conversando sozinha.

Lizzy ergueu uma sobrancelha, antes de seu olhar parar em meu dedo.

— Se feriu? Deixe-me ver! — Correu até mim.

— Acha que é o suficiente? — perguntei, mirando a adaga no pescoço do meu sacrifício. Um homem qualquer com um histórico de abusos sexuais, de acordo com o demônio informante – ou melhor, fofoqueiro de primeira –, Behemoth.

— Qualquer sacrifício que valha uma vida serve para mim. Sou bem menos exigente que meu senhor, senhora — assegurou.

— Se você diz. — Cravei a lâmina no pescoço do homem e, desacordado, ele mal teve como reagir.

Vê-lo morrer... Matá-lo, era diferente. Porque já não me afetava tanto como da primeira vez que matei alguém.

Eu deveria ter sentido alguma coisa. Qualquer coisa. Mas foi tão insignificante quanto a vida medíocre que aquele homem tinha. Antes de eu a tomar dele.

— Behemoth, eu o invoco. Assuma uma forma para que se misture com os humanos.

Chamas escuras como a noite cobriram o ambiente por inteiro e Behemoth deu uma risadinha.

Logo, um homem inteiramente de preto surgiu ao lado da mesa do meu sacrifício. Suas fardas eram de um mordomo, como as de Sebastian, mas provavelmente para deixar claro que serve a alguém. A algo.

Sua pele era escura. Escura em um tom que eu havia visto pouquíssimas vezes. Mais ainda do que as de Soma e Agni.

Cheguei perto dele e toquei seu queixo, o erguendo sutilmente.

— Essa cor...

— Não gosta, senhora?

— É linda. — Sorri, gentilmente. Então agarrei a mandíbula dele. — Escute bem. Isso não é um contrato. Siga todas as minhas ordens e não espere nada em troca de seus serviços. — Apertei. — Nada de matar inocentes. Nada de devorar almas, a não ser que eu permita. Caso se descontrole, eu mesmo o matarei.

Dancing With The Devil - Kuroshitsuji (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora