Mudanças.

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Quando retornamos de Skye, a dra. McKee está nos esperando no salão de entrada. Eu imagino se ela vai nos perguntar sobre a viagem ou talvez pedir a Freen informações sobre lorde Henry – o colégio está sempre em busca de doadores ricos, segundo Nam –, mas, em vez disso, ela diz:

— Bem-vindas de volta, senhoritas. Espero que tenham se divertido em Skye. Um dos meus lugares favoritos na Escócia.

— Foi incrível — digo, com sinceridade, e a dra. McKee sorri de forma que me parece sincera.

Então ela diz:

— Na ausência de vocês, nós decidimos fazer algumas mudanças. Senhorita Armstrong, pelo restante do ano letivo, você dividirá o quarto com a senhorita Orntara. Senhorita Sarocha, a colega de quarto da senhorita Orntara, senhorita Graham, tomará o lugar da senhorita Armstrong em seu quarto.

Nós ficamos ali, no salão, sem dizer nada por um segundo, e de repente eu tenho esse pensamento horrível de que a dra. McKee ficou sabendo da gente dançando em Skye. Que de alguma maneira ela sabe que o chão se moveu um pouquinho sob nossos pés.

Eu sinto vontade de me retorcer de vergonha e nem olho para Freen quando ela diz:

— Pelo amor de Deus, por quê? Armstrong e eu estávamos começando a ficar amigas. Não é esse o objetivo de ter colegas de quarto?

O sorriso da dra. McKee fica um pouco mais duro.

— O objetivo de ter colegas de quarto é aprender a compartilhar o espaço com outras pessoas de maneira respeitosa e agradável. Amizades são um bônus adorável, mas não o objetivo.

Isso ainda me parece estranho, e penso que Freen vai continuar debatendo, mas, após uma longa pausa, ela apenas dá de ombros.

— Que seja — ela diz, e então se vira para mim. — Bom.

— Bom — repito, muito consciente da dra. McKee nos observando.

— Acho que te vejo na aula, Armstrong.

— É, eu também — respondo, e imagino se devemos apertar as mãos ou algo assim.

Mas Freen apenas se vira e caminha em direção às escadas com sua bolsa. Quando ela está fora de vista, para minha surpresa, a dra. McKee apoia a mão no meu ombro.

— Vai ser melhor assim, senhorita Armstrong, te garanto. E essa decisão não é um reflexo do seu comportamento de jeito nenhum, é mais uma... medida de precaução, digamos assim.

— Contra o quê? — pergunto, meus dedos dormentes onde seguro a alça da bolsa.

— Eu te disse — ela fala. — Você precisa ter cuidado ao escolher as amizades aqui em Gregorstoun. A senhorita Sarocha é uma pessoa adorável, e sua vida é realmente muito glamorosa, mas eu nunca imaginei que você se deixaria levar por isso. É parte do motivo pelo qual você foi selecionada pra ser a colega de quarto dela. Mas agora...

Com as bochechas queimando, levanto a bolsa um pouco mais alto.

— E agora parece que eu me deixei levar?

— A mãe de Freen acha que poderia ser melhor pra
ela conviver com alguém que não esteja tão apegado a ela — a dra. McKee diz e, OK, então.

Essa é a verdadeira resposta – isso não é apenas uma decisão do colégio, é basicamente um decreto real.

Eu me lembro de Freen contando que sua mãe achava que o fato dela gostar de garotas era uma fase. É esse o motivo disso tudo?

E, se for, o que isso significa?

Mudar de quarto não demora tanto quanto achei que demoraria. Esse é o combinado que fazemos, que eu vou para o quarto de Nam e Elisabeth se muda para o de Freen, e, enquanto guardo meus últimos livros, Freen se senta na beirada da cama, me observando.

— Ela é uma criança, sabe? Sei lá o nome dela. Lady McCavaleirinha.

— Não devemos usar títulos aqui — respondo —, então é senhorita McCavaleirinha.

Freen ri de deboche em resposta e eu coloco um marcador de livros no último romance de Colleen Hoover antes de adicioná-lo à minha pilha.

— Pelo menos, você não terá mais que olhar pra tantas pedras, provavelmente. Só cavalos de plástico.

— Eu gosto de pedras — Freen diz, e olho para ela com as sobrancelhas levantadas.

— Não gosta, não — digo, e ela joga o cabelo sobre um ombro.

— Estou crescendo e evoluindo sob sua influência, Armstrong.

Ela está brincando, mas tem algo em sua expressão, algo que me deixa mais triste do que eu deveria ficar por mudar de quarto. A final, vou dividir o espaço com Nam, e eu amo Nam. Um mês atrás eu estaria animadíssima com essa mudança.

Então por que estou tão chateada agora?

Olho para o meu celular e noto algumas notificações.

Quando pego o celular, abro a foto que Freen postou no Instagram e vejo alguns comentários. Bambam comentou: GAROTA, O QUÊ?? E: GATA!!!, e logo embaixo Nam entra na conversa com SUPERGATA.

É engraçado ver os dois juntos nos comentários, dois amigos de duas partes muito diferentes da minha vida, e imagino como seria se eles se conhecessem algum dia.

Ainda estou tentando imaginar essa cena – Bambam e Nam no mesmo rolê – quando percebo o último comentário.

HeySana02: Você parece tão feliz.

Olho para a foto: minhas bochechas estão avermelhadas e meu sorriso é aberto. O rosto de Freen está encostado no meu, e eu realmente pareço feliz. Muito feliz. Porque estou feliz.

Ou estava até saber que teria que trocar de quarto.

Sem pensar demais, respondo o comentário de Sana.

'-'

Tudo bem, em se tratando de respostas, um emoji não é muito, mas imagino que seja algo.

Limpando a garganta, eu pego minhas últimas coisas.

— Bom, eu diria que foi divertido, mas, na verdade, foi apenas um pouco divertido, e irritante na maior parte do tempo — digo, e Freen inclina a cabeça, olhando para mim sob os cílios.

— Mentirosa — ela diz e faço questão de revirar os olhos exageradamente.

— Talvez a diversão tenha pesado mais do que a parte irritante, mas só em tipo, minúsculas quantidades microscópicas.

— Continua repetindo isso pra você mesma, Armstrong — ela responde, e então solta uma risada breve, sacudindo a cabeça. — Isso é tão ridículo. Eu vou continuar te vendo todo dia mesmo sem dividirmos o quarto, então não vamos ficar sentimentais agora.

Ela aponta com uma mão.

— Vai. Se acomoda com a Nam e fale para a senhorita Cavaleirinha que aguardo o prazer da companhia dela.

— Vou falar — digo, e me obrigo a sair sem olhar para trás.

SUA ALTEZA REAL - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora